Cap.111
Lúcios despertou antes do sol nascer. O silêncio ainda cobria a casa como um manto, e o ar fresco da manhã carregava o cheiro distante de café que alguém começara a preparar.
Ele atravessou o corredor com uma intenção até vê-la parada próxima à soleira, encostada com os braços cruzados.
Parecia que Ângela estava ali, fundida à parede, como se fosse parte dela. Vestia algo diferente do habitual, nada extravagante, mas havia um cuidado delicado nos traços: uma sobriedade quase ingênua. Uma saia xadrez que cobria apenas até a metade da coxa, botas pretas subindo até a panturrilha, e os cabelos soltos sobre os ombros. Sua expressão tranquila destoava de tudo o que carregava por dentro.
Quando seus olhos se encontraram, ela sorriu. Um sorriso pequeno, contido, que parecia convidá-lo a parar.
Lúcios, no entanto, continuou em frente, passando por ela sem diminuir o passo.
Ângela ergueu as sobrancelhas, surpresa pela indiferença dele.
Foi então que a voz grave dele rompeu o silêncio: