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CAPÍTULO 7: A todo pano para a ilha dos prazeres

Mais tarde, já longe do caos do porto, fui procurá-la. Ela estava encolhida num canto, envolta no meu casaco, tremendo feito um filhote de foca. Cheirava a medo. A morte.

Aproximei-me, e ela encolheu os ombros.

— Precisa de alguma coisa, Capitão Vrynn? — sua voz era áspera, quebrada.

— O corte na sua barriga... Como curou?

Ela engoliu seco. Seus olhos eram verdes. Verdes como a porra do mar antes de uma tempestade.

— Não curou… De que corte está falando?

Segurei seu braço, forçando-a a me encarar.

— Tinha uma adaga cravada na sua barriga quando você se jogou do penhasco. Ela ainda estava lá até pouco antes de sairmos do mar. Seu vestido tem um rasgo… o corte que a lâmina fez.

— O vestido rasgou quando fugi dos aldeões. Não viu? Eles estavam armados. O sangue não era meu.

Enquanto falava, percebi que seus olhos fitavam a porta do camarote, como se estudassem o lugar.

Soltei-a e recuei, os nós dos dedos brancos de tanto segurar minha raiva.

— Você vai trabalhar pra mim. Cozinhar. Limpar. O que for preciso.

— E se eu me negar?

Sorri, mostrando todos os dentes.

— Aí eu te jogo de volta lá embaixo.

Mentira. Mas ela não precisava saber disso.

Saí do camarote com a mente tumultuada. Ela falou a verdade? Será que me confundi?

— Merda — praguejei. — Eu vou ficar maluco.

— Tripulação, a todo pano para Dolphin!

— Sim, capitão! — todos responderam em uníssono.

— Parece aborrecido, capitão! — disse Garrick, me entregando uma caneca de bebida.

— O que você acha? — perguntei, sem humor.

Ele se acomodou ao lado de um dos canhões.

— Eu acho que o senhor não sabe o que fazer com a pilhagem de hoje.

Olhei para ele de soslaio. Navegamos tanto que, pelo olhar, ele já sabe o que estou pensando?

— Vamos atracar em Dolphin, dar a ela algum dinheiro e deixá-la lá.

Ele gargalhou.

— Em Dolphin? A ilha dos prazeres? Pode acreditar, com o temperamento dela, ela vai se dar muito bem... na cadeia.

Ele saiu, gargalhando e sacudindo a cabeça em negação.

— Ai, ai, capitão… que piada.

Porra, parece que todo mundo perdeu o respeito aqui. Mas o pior de tudo? Ele tem razão.

Mais tarde, quando a tripulação dormia, voltei ao convés. Ela estava lá, encostada no mastro principal, olhando para o céu.

— Não consegue dormir? — perguntei, acendendo um charuto.

Ela não me olhou.

— Tenho medo de fechar os olhos.

Cuspi a fumaça pro lado, observando o tremor em suas mãos. Dez anos mais nova. Dez anos mais pura. E ainda assim…

— O que fizeram com você no convento? — A pergunta escapou antes que eu pudesse contê-la.

Liora encolheu-se ainda mais.

— Diziam que eu… atraía coisas ruins. Tempestades. Doenças. — Uma lágrima escorreu, mas ela a limpou rápido. — Mataram elas por minha causa. As freiras.

Eu não sou homem de consolar. Mas, naquela noite, por algum motivo, me sentei ao lado dela. Nossos ombros quase se tocando.

— O mundo é uma merda — resmunguei. — Você aprende a nadar ou afunda.

Ela virou o rosto e, pela primeira vez, eu realmente a vi.

— E você? — sussurrou. — Afunda ou nada?

Sorri de novo, mas dessa vez, foi diferente.

— Eu sou o maremoto, garota.

Naquele momento, jurei que vi o canto da boca dela se erguer, enquanto o vento soprava seus cabelos.

Ela olhou para baixo, em silêncio por um tempo, até que finalmente quebrou o silêncio.

— Obrigado por me tirar da ilha.

Ela não me olhou. Seus olhos vagavam pelo céu, e eu senti um leve arrepio na nuca. Eu sabia bem o que aquilo significava, e não ia deixar que acontecesse.

— Não sei por que fiz aquilo, mas não sou um homem que faz esse tipo de coisa.

Ela sorriu de lado.

— Diga "não há de quê", como pessoas normais fariam.

— Eu não sou normal, garota — respondi, frio, me levantando.

— Fique no camarote. Ficarei abaixo com a tripulação.

Ela assentiu, mas eu sabia que ela não havia concordado.

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