O cheiro dela me perseguia.
Não importava quantos litros de rum eu afogasse na garganta, quantas vezes eu esfregasse o rosto com água salgada. Lavanda e sangue. Era o que ela exalava, mesmo depois de eu ter jogado aquele vestido podre ao mar. Lavanda das freiras mortas. Sangue do corte que ela dizia nunca ter existido no ventre.
Eu a observei da escotilha, escondido nas sombras como um cachorro faminto. Ela estava no meu camarote—meu espaço, minhas paredes marcadas por facas e mapas roubados—sentada no chão, encolhida contra a cama. Os dedos dela traçavam o contorno de uma mancha de vinho no madeirado, como se ali estivesse escrito algum tipo de salvação.
— Vai ficar a noite toda encarando ou vai entrar? — a voz dela saiu rouca, mas firme.
Entrei, fechando a porta com o pé. O Arraia Negra rangia como um velho reclamão, mas ali, naquela sala apertada, o único som era a respiração dela. Curta. Controlada. Assustada.
— Você devia estar dormindo — gritei, mais para me convencer d