Tessar Vrynn O vento cortava como facas, e as ondas levantavam o navio como se fosse um brinquedo. — Capitão! — Garrick gritou. — Não podemos abrir mão dos suprimentos! A próxima ilha está a quase doze dias daqui! Pensei por um instante, imaginando o que faria. — Todos abaixo! Apenas cinco homens comigo no convés! Recolham as velas e preparem os remos! — Capitão, pode ser... — Agora, Garrick! — o interrompi. — Não vou perder ninguém aqui hoje. Ele ficou, junto comigo, enquanto o restante da tripulação desceu para segurar os remos, caso o mar tentasse nos afundar. Estavam assustados. Qualquer pirata ficaria ao ver o tamanho das ondas colossais que nos atingiam. O cheiro de lírios inundou o ar no instante em que uma onda monstruosa se ergueu diante de nós. Eu me preparava para a morte quando a vi no convés. Liora. Estava de pé, os braços abertos e os olhos brilhando em âmbar. Sangue escorria de seus pontos abertos, misturando-se à água da chuva. — Porra,
No sétimo dia, Liora parecia querer mexer com a minha mente: seus olhares subliminares, seus toques atrevidos, seu jeito de falar. "Não posso fazer isso. Ela ainda está ferida. Vou mantê-la segura de mim", pensei, encostando-me ao leme para que os outros não percebessem a minha ereção involuntária, causada por Liora. Naquela noite, no convés, senti o cheiro de lírio. São seis meses no mar, e ela ainda tem cheiro de flor fresca. Meu Deus, eu amo essa mulher. Vi-a passeando entre a tripulação, que conversava com ela como se já fosse um deles. E realmente parecia que ela era uma pirata. Usava um vestido claro e leve, que mais parecia uma roupa de baixo. Estava aprendendo sobre navegação com Garrick, lendo mapas e, curiosamente, apaixonou-se pelo mapa do Fosso — influência das histórias de Bjorn, imagino. Quando me viu, curvou-se sobre a mesa, marcando cada curva daquele corpo moreno que me tirava do sério. O cabelo cacheado, molhado, escorria pelo pescoço, e ela fez questão de ar
Oi, meus amores! O livro Obssessão Abissal foi editado para aprofundar mais a história. Espero que vocês gostem! Votem bastante e sigam a escritora. Beijos. --- Liora nix Eu sempre me perguntei como Baltazar havia se sentido quando a onda o arrastou para o fundo do mar. Perguntei-me se ele havia sofrido em seus últimos momentos ou se finalmente conseguiu encontrar a liberdade que tanto desejava. Agora, enquanto sinto o abraço do mar, creio que só na hora da morte ele foi livre. A água salgada invadiu minha garganta. Meus pulmões imploravam por ar. Meus olhos arderam como se alguém os estivesse esfregando com vidro moído. Mas eu sorri. Sorri porque doía menos do que no convento. Porque, pelo menos, eu sabia que o mar não me batia por prazer. Eu estava afundando, os braços abertos, minha roupa se enchendo de água e me arrastando para o fundo. A dor me trouxe as lembranças que eu queria esquecer. Lembrei-me do convento, de tudo que vivi lá, de tudo que provavelmente não teria acon
Quando despertei, o padre veio até mim. Disse que as freiras haviam pago pelo meu pecado, mas que, para entrar no céu, eu também teria que pagar uma penitência. As dez chicotadas que se seguiram não doeram tanto quanto o cheiro que ficou na praça naquele dia: corda queimada, sangue velho e o perfume de lavanda que Madre Lourdes sempre usava, agora misturado ao fedor da morte. Dez chicotadas. Uma para cada ano da vida de Baltazar. A primeira arrancou minha carne. A nona me fez morder a própria língua. Na décima, já não sentia mais nada. O açougueiro sorria ao lado do padre ao me ver sem forças para levantar. Foi a última vez que chorei na frente de alguém. Nunca mais faria isso. Mas, naquele dia, aprendi algo: a dor tem limite. Se passar dele, vira apenas... silêncio. Quatro dias se passaram até que as novas freiras chegaram. Elas tinham cheiro de álcool e suor. Elas não eram como as outras. Nem pareciam freiras. Se o mundo dos mortos tiver portas, eu garanto que essas m
Como a felicidade não dura para sempre... Mãos grossas me arrancaram da água. "Que porra é essa?", um homem rosnou, cuspindo água salgada. Tinha olhos mais escuros que a meia-noite e uma cicatriz cruzando o pescoço. "Me deixe!", gritei, arranhando seu rosto. "Eu não quero viver!" Ele riu. Um som áspero, como pedras se batendo. Minha raiva não me deixou ouvir o que ele falava. Meu coração batia tão forte que eu só pensava em voltar para o mar e terminar o que comecei. Mas ele me jogou sobre o ombro como um saco de farinha e me arrastou até a praça da cidade, tornando-me a atração principal da vila outra vez. Ele parecia ter uns 22 ou 23 anos. Não importava. Eu só queria machucá-lo. Seus olhos estavam fixos em mim enquanto meu corpo congelava de frio e medo. As freiras me encontraram. Meu Deus, aquele com toda certeza seria meu fim. Mesmo ouvindo o que ele dizia, eu não prestava atenção. Não me importava. Eu não era mal-educada, só não estava mais viva, e isso significava n
Pela manhã, dois padres entraram no meu quarto, acompanhados pela madre. Diziam que eu estava possuída por um demônio, que seria purificada pelo fogo santo e enviada ao purgatório. As palavras deles não me interessavam. Eu entendi que ia morrer. E ponto. Isso não era relevante. Eu já tinha morrido há doze anos, quando perdi a madre e as irmãs. Agora, só faltava o meu coração parar de bater. Apenas assenti. Me despi e vesti o vestido fino que me deram — leve como uma folha, únutil contra o calor do sol escaldante. Minha pele queimava. Fechei os olhos e pedi que a chuva viesse, que acalmasse meu coração. O padre começou a rezar. Antes de me amarrar à fogueira, disse que eu deveria aceitar a morte como punição, de bom grado. Olhei ao redor. Todos estavam ali. O açougueiro, parado à frente da multidão, me encarava com ódio. O sorriso satisfeito no rosto dele dizia que esperou muito por esse momento. Ele se aproximou. Talvez quisesse ver de perto. Mas eu não queria morrer assim.
TESSAR VRYNN Estávamos finalmente em Tallinn. Sempre ancorando longe do cais, atrás dos rochedos, o cheiro de sal e sangue velho entupindo minhas narinas. A aldeia de Tallinn era um cemitério de pedra à beira-mar, onde as ondas batiam como punhos famintos. A sensação de déjà vu tomava conta de mim enquanto o bote se aproximava do cais. Aquela garota estava de pé na borda do penhasco, os pulsos amarrados com corda de cânhamo, o vestido branco colado ao corpo por causa do vento e da brisa salgada. Sangue escorria da barriga dela, onde uma adaga ainda estava cravada. Ela estava irreconhecível — magra como um fantasma, cabelos curtos e embaraçados onde antes eram longos. Estávamos distantes, mas eu ainda conseguia ver o sorriso dela. — Ela vai se jogar? — Bjorn perguntou. Antes que eu respondesse, o corpo dela despencou no mar, e meu instinto reagiu antes da razão. O choque da água gelada me roubou o fôlego, mas eu já estava nadando para alcançá-la. A escuridão do mar engoliu
Eu tinha assuntos a resolver, e qualquer um que tentasse me atrapalhar morreria. — Aqui é um lugar santo! Um demônio como você mo... — Com essa cara de quem chupou limão, você quer me dizer que pareço um demônio, velha? — interrompi, erguendo-a pelo pescoço. Ela se contorceu, buscando ar. — Leve-me até Otávio Sepol e talvez eu não mate todas vocês. Seus olhos arregalaram, e ela sacudiu a cabeça freneticamente. Quando se soltou, seguiu de cabeça baixa pelo convento até uma porta pequena. — Lá embaixo. O porão. Ele está lá. Observei seu rosto. Não havia sinal de mentira. — Madre... posso chamá-la assim? — Sim... — ela assentiu, a voz quase um sussurro. — A garota morena, de cabelos cacheados e olhos verdes. O que aconteceu com ela depois que eu a deixei aqui? Ela ficou tensa, a voz vacilando. — Ela... ela morreu há alguns dias. Mentira. — Tudo bem, madre. Me trouxe até Otávio, então deixarei você ir. Mas eu sei que mente. Não faça isso outra vez. — Seg