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CAPÍTULO 4: O Pulo para a morte

Pela manhã, dois padres entraram no meu quarto, acompanhados pela madre. Diziam que eu estava possuída por um demônio, que seria purificada pelo fogo santo e enviada ao purgatório.

As palavras deles não me interessavam. Eu entendi que ia morrer. E ponto. Isso não era relevante. Eu já tinha morrido há doze anos, quando perdi a madre e as irmãs. Agora, só faltava o meu coração parar de bater.

Apenas assenti. Me despi e vesti o vestido fino que me deram — leve como uma folha, únutil contra o calor do sol escaldante. Minha pele queimava. Fechei os olhos e pedi que a chuva viesse, que acalmasse meu coração.

O padre começou a rezar. Antes de me amarrar à fogueira, disse que eu deveria aceitar a morte como punição, de bom grado.

Olhei ao redor. Todos estavam ali. O açougueiro, parado à frente da multidão, me encarava com ódio. O sorriso satisfeito no rosto dele dizia que esperou muito por esse momento.

Ele se aproximou. Talvez quisesse ver de perto.

Mas eu não queria morrer assim. Eu não daria a eles o prazer de me ver gritar.

Meu coração acelerou. Eu podia sentir o cheiro do sal do mar. Sem pensar, corri.

O golpe veio antes que eu percebesse. A lâmina fria rasgou minha barriga. O que aconteceu? Tentei entender. O açougueiro segurava a adaga que ele mesmo havia feito para o filho, agora fincada no meu ventre.

Ele deu um sorriso de vitória, enquanto alguns cidadãos me seguravam.

Meu ódio crescia dentro de mim. Meu último suspiro não seria na frente deles.

Um raio cortou o céu, caindo no meio da fogueira preparada para mim.

— É um sinal de Deus! — gritou o padre, apontando para a fogueira.

Naquele momento, eu entendi. O deus deles amedronta e enlouquece o povo, e depois mata ou tira tudo que eles têm. Não existe "deus deles", existem eles, usando a fé dos outros para seu bel-prazer.

Meu sangue ferveu. Vi água brotar de cada buraco do corpo do açougueiro enquanto ele pedia ajuda, engasgando-se com água salgada. Ele se arrastava para tentar chegar a mim. Nos seus últimos momentos de vida, o açougueiro ainda queria me matar, mas não conseguiu. Se afogava por dentro, lento, agonizante.

Todos me olhavam com pavor nos olhos. Depois de dezoito anos, eu finalmente era o demônio que eles temiam.

Aproveitei para me afastar antes que a ideia de me queimar se dissipasse e eles resolvessem me matar com uma flecha no meio da testa.

E não demorou muito para algum infeliz pensar nisso. Aqui estava eu outra vez, me jogando nos braços do mar. Fitei o povo alvoroçado, tentando tirar a adaga ainda cravada no meu ventre, mas a dor me impedia.

Sorri pela ironia de ter esperado tanto para finalmente chegar a esse final.

Tudo o que passei, tudo o que sofri, acabava ali. Agora.

Deixei meu corpo descansar no topo do penhasco antes de me entregar ao abraço gelado do mar.

Finalmente, eu estava livre.

Ou foi o que pensei.

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