77. A CONFISSÃO
A chuva castigava a cidade como se o próprio céu estivesse em guerra. As gotas batiam com fúria nas janelas, dançando sob o clarão intermitente dos relâmpagos que riscavam o horizonte. O som do motor ecoou pela rua deserta quando o carro de Leonardo freou bruscamente diante do portão de ferro da casa de Helena.
Leonardo saiu do carro de um salto. O casaco encharcado colava-se ao corpo, mas ele mal sentia o frio. O que ardia dentro dele não era febre nem raiva passageira — era algo mais profundo, quase insuportável. Uma necessidade ardente de respostas. Uma exigência de verdade.
Ele atravessou o portão e, antes mesmo que pudesse tocar a campainha, a porta principal se abriu. Helena estava ali, como se já o esperasse. O rosto, maquilado com perfeição, traía uma rigidez quase ensaiada. Por um breve instante, algo vacilou em seu olhar — uma fagulha de receio, talvez culpa. Mas logo recompôs o semblante e vestiu o mesmo sorriso treinado que usara a vida inteira: frio, elegante, estrategica