54. AS SOMBRAS DO PASSADO
O tempo, de maneira quase traiçoeira, fora arranjando sua cadência ao redor da vida de Isabela. O que antes fora um turbilhão transformou-se numa rotina mais compassada: os bebês — agora crianças que já davam passos vacilantes e soltos — preenchiam cada canto da casa com pés, vozes e risos. O tilintar das mamadeiras, os pequenos sapatos alinhados perto da porta e as pilhas de livros de história infantil sobre a mesa da sala tornaram-se a trilha sonora de seus dias. Para Isabela, aquela rotina era um porto seguro: um espaço mínimo de normalidade em que ela podia respirar, planejar e, por alguns instantes diários, esquecer o passado que a perseguira.
Mesmo assim, a paz que agora desfrutava tinha a fragilidade de um copo fino sobre a borda de uma mesa. Havia momentos em que o corpo reagia antes da razão — um arrepio que subia pela nuca enquanto empurrava o carrinho no jardim; a sensação de que um olhar invisível percorria as pessoas no mercado; a intuição de que passos ecoavam com mais a