Capítulo 3

Depois que Caleb saiu montado em seu cavalo e nos deixou a sós, respirei fundo e entrei na casa. Foi como se estivesse fazendo uma visita ao meu passado. Fui tomada por inúmeras lembranças. Tudo estava do mesmo jeitinho que conseguia me lembrar. A sensação que tive era de que meu pai fosse sair de seu escritório a qualquer momento e vir me dar um abraço.

Amber saiu correndo para explorar a casa e eu fui ao escritório, havia muios papéis espalhados em cima da mesa, o óculos que meu pai usava estava sobre uma pilha de livros, o restante dos livros continuavam intactos na estante, haviam porta-retratos espalhados por todo o ambiente, mas o que estava em cima da mesa foi o que mais chamou minha atenção. Na fotografia, eu devia ter uns quatro ou cinco anos, estava montada, pela primeira vez, sobre um cavalo e meu pai estava de pé ao meu lado.

— Já escolhi meu quarto, mamãe.

A voz de Amber me trouxe de volta a realidade, com o dorso da mão sequei uma lágrima. Eu queria ter convivido um pouco mais com meu pai, mas minha vida adolescente era badalada demais na cidade para querer vir para a fazenda e minha mãe nunca tinha disponibilidade no trabalho dela para me trazer, mas também não gostava da ideia de eu viajar sozinha.

— Você está chorando, mamãe?

— Não, meu bem. Foi só uma poeirinha que caiu no meu olho.

Recoloquei o porta-retrato sobre a mesa e saímos do escritório.

— Vem ver o quarto que eu escolhi, mamãe.

Andamos pelo restante da casa e me surpreendi mais uma vez, ao abrir a porta do meu antigo quarto, vi que tudo continuava exatamente igual eu tinha deixado, era como se o tempo tivesse parado ali. As paredes pintadas de rosa-claro, as medalhas das competições ainda permaneciam penduradas e os troféus ainda ocupavam as prateleiras, meu chapéu de cowboy cor de rosa estava sobre a cama.

— Isso tudo era seu, mamãe? — Amber perguntou enquanto colocava o chapéu na cabeça.

— Era sim.

— Posso pegar esse chapéu para mim?

— Claro que pode, meu bem.

Ela me deu um abraço e saiu toda saltitante do quarto. Lembrei de ter ficado na mesma euforia quando meu pai me deu aquele chapéu, eu tinha sete anos na época, e tinha sido logo depois de eu ganhar minha primeira competição de Rodeio mirim.

— Estou com fome, mamãe. — A voz de Amber ecoou pela casa.

— O que acha da gente ir na cidade comer alguma coisa na lanchonete?

— E o que a gente vai comer? — Amber perguntou no carro, com o cinto afivelado e os olhos fixos na estrada de terra.

— Vamos descobrir. — respondi. — Aposto que você vai gostar da comida do restaurante da dona Ophelia.

— Espero que tenha hambúrguer.

— Tem sim.

— E batata frita?

— A melhor que você já comeu.

— E milkshake de ovomaltine?

— Almoço não é hora de tomar milkshake.

— Mas um hambúrguer pode?

— Pode.

— Então vou querer.

O caminho até o centro da pequena cidade era rápido e logo estava estacionando numa vaga em frente a lanchonete. Logo que chegamos ao centro, senti o coração apertar. Nada havia mudado por ali. As fachadas antigas, a praça com a fonte, o coreto… Tudo parecia ter parado no tempo. Estacionei o carro em frente ao restaurante que, de longe, já exalava o cheiro de comida caseira.

Assim que entramos, Amber fez uma careta.

— Mãe, aqui cheira a cebola frita.

— É assim que começa uma boa refeição. — brinquei, puxando-a para dentro.

O salão estava cheio, mas algumas mesas próximas à janela estavam livres. As conversas diminuíram por alguns instantes quando perceberam minha presença. Eu reconheci alguns rostos, outros apenas fingiam não me encarar.

Já estávamos sentadas numa mesa vaga quando uma garçonete morena, de cabelos cacheados, se aproximou para anotar nossos pedidos e ela ficou surpresa ao me ver.

— Savana? Ai, meu Deus. Não acredito que você está de volta.

— Desculpa, mas...

— Não se lembra de mim, não é?

Meio envergonhada fiz que sim e então ela apoiou uma mão na cintura e estendeu a outra em minha direção:

— Sou a Sara, filha da Ophelia, antiga dona da lanchonete, estudávamos juntas..

— Meu Deus! Como pude me esquecer de você?

— Não te culpo, faz muitos anos que a gente não se via.

— Faz mesmo.

— Sinto muito pelo seu pai.

— Obrigada. E sua mãe como está?

— Dura na queda, irredutível em me deixar assumir o comando da cozinha.

Amber interrompeu nossa conversa reclamando que estava com fome.

— Hoje temos frango caipira com polenta e salada fresca. Aposto que vocês vão adorar.

— Não tem hambúrguer e batata frita? — Amber questionou.

— Claro que temos.

Sara anotou nossos pedidos e saiu para atender outra mesa. Enquanto esperávamos nossos pratos, alguns olhares curiosos continuavam pousando sobre nós. Era impossível não notar os cochichos. Eu sabia sobre o que estavam falando: a volta da filha do Clint seria assunto por dias.

Poucos minutos depois, ela voltou trazendo nossos pedidos e não pude deixar de notar uma senhora que vinha logo atrás dela. Tinha as costas meio encurvadas, cabelos grisalhos presos num coque e um pano de prato jogado sobre os ombros.

— Savana! Que bom tê-la de volta.

— Dona Ophelia, é um prazer rever a senhora.

— Sinto muito pela morte repentina do seu pai... Ele era um bom homem.

— Era sim.

— E quem é a mocinha linda?

— Esta é a minha filha.

— Oi, meu nome é Amber. — Minha filha estendeu a mão para cumprimentar dona Ophelia.

— Um nome de princesa para uma linda menina.

— Obrigada!

Então Amber voltou a se concentrar na comida a sua frente e dona Ophelia puxou uma cadeira para se sentar com a gente.

— Então você se casou e tem uma família?

— Sim, mas já não sou mais casada.

— Mas que pena que não deu certo.

— Deu certo enquanto durou.

— Então quer dizer que voltou para cá para assumir o Haras do seu pai?

— Ainda não me decidi sobre o que vou fazer com a propriedade.

— Não vai me dizer que está pensando em vendê-la?

— Mãe! A senhora não tem o direito de interferir nas decisões de Savana.

— Não, eu jamais faria isso porque sei que meu pai deu muito duro para construir e manter aquele lugar.

— Então está pensando em morar por aqui?

— Sim, por enquanto vou ficar morando por aqui e tentar trabalhar a distância com os clientes do meu escritório.

— Já encontrou com Caleb?

— Infelizmente sim.

— Ele tava trabalha duro lá pelos haras, tinha até se tornado o braço direto de Clint depois que o pai dele se aposentou.

A porta do restaurante se abriu fazendo soar o pequeno sino, e, por um instante, o burburinho parou. Caleb entrou, chapéu na mão, postura firme. Ele fingiu não me ver e foi direto ao balcão.

— Vou deixá-las comer em paz. — Ela ficou de pé e antes de se retirar, comentou: — Qualquer coisa é só pedir.

— Obrigada.

Amber devorou tudo como se fosse o melhor hambúrguer do mundo e eu comi o meu frango, que estava uma delícia. Tinha sido como voltar ao passado.

Quando terminamos, saímos juntas para a calçada. Precisava comprar algumas coisas antes de voltar para o haras, por isso decidi passar no mercadinho que ficava próximo dali.

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