CALEB
O sol estava rachando alto no céu e eu tinha acabado de voltar de uma ronda rotineira por toda a propriedadepara verificar as condições das cercas quando Hudson, um dos peões mais novos da fazenda, veio correndo até o estábulo onde eu estava. — Caleb! — Onde é que está pegando fogo? — contive um sorriso. — Fogo? — Ele ficou confuso. — É, para você chegar desse jeito, todo afobado, só pode significar que está havendo um incêndio em algum ponto do rancho ou que algum animal fugiu. — Não é nada disso, chefe. — Então o que é? — Eu estava treinando Pegasus quando vi um carro entrando na propriedade e parando lá na sede. — Diacho. Já é a terceira vez desde que Clint morreu que esses filhos da puta vem tentando entrar aqui. Hudson permaneceu em silêncio ao meu lado enquanto eu murmurava. — Você viu quem era? — Não vi não, senhor, mas era um daqueles carros chiques da cidade grande. Prendi novamente a sela em Tex e saí apressado. Só podia ser mais um intruso ou algum riquinho metido a besta interessado em comprar a propriedade. Estância Solar era um pouco famosa pela região e na cidade por causa dos inúmeros rodeios que Clint, o antigo dono, tinha vencido. Por sorte o estábulo não ficava, muito longe da sede e em poucos segundos eu já estava na sede. Mesmo de longe consegui ver o carro vermelho, era mesmo um daqueles modelos chiques que a gente só vê na cidade grande. A medida que fui me aproximando ainda mais da casa sede, pude ver uma mulher e uma criança já na varanda. Gritei e consegui assustá-la, fazendo com que não entrasse na casa. Não pude deixar de notar o quão bonita ela era. Cabelos loiros compridos caem por sobre os ombros, pele branca, indicativo de quem não pega muito sol, pernas longas e uma bunda perfeita. Eu não tinha sido avisado de que nenhum possível comprador viria ao rancho para uma visita, até porque fazia umas duas semanas que o advogado me informara que tinah conseguido entra em contato com a filha de Clint. Tentei me manter indiferente a ela e minha voz saiu um pouco mais rude do que eu pretendia, o que foi bom já que eu não pretendia ser simpático com estranhos que ficam entrando na propriedade. Nossa conversa não foi nada amistosa. Essa mulher conseguia ser tão petulante que me dava nos nervos. Linda e insolente, uma tremenda de uma combinação perigosa. Quando ela me entregou os papéis com o selo, que imediatamente reconheci ser do advogado pessoal de Clint, descobri que, na verdade, aquela mulher insolente era a minha melhor amiga de infância. Eu mal pude acreditar que ela estava mesmo de volta. Meu Deus, como Savana tinha mudado, para melhor é claro! As poucas recordações que eu tinha dela era sendo apenas uma garotinha irritante, que ficava atrás de mim, me enchendo a paciência para brincar de casinha com ela. A garota com quem meu pai dizia que eu tinha que brincar só porque ela era filha do patrão. Uma garota mimada, mas que depois eu aprendi a gostar e acabamos nos tornamos melhores amigos. A bolha em que eu me encontrava foi estourada quando a garotinha subiu correndo para varanda acompanhada por Apollo, o que me deixou de mau humor novamente. Quando a garotinha perguntou se poderia ficar com o cachorro, eu fiquei ainda mais furioso. Quem ela pensava que era para querer o meu cachorro? Seria ela uma mimadinha que nem a mãe era quando criança? Resolvido toda a confusão, me ofereci para carregar as suas malas, mas ela disse que não precisava, pois toda sua mudança chegaria no dia seguinte. Montei de volta em Tex e voltei para o estábulo, perdido em meus próprios pensamentos. Tirei a sela do meu cavalo e o coloquei na baia já que o sol estava muito quente e ele já tinha trabalhado muito e um descanso seria ótimo. Ainda com a cabeça repleta de perguntas envolvendo Savana. — Caleb! — Uma batida na porta me trouxe de volta a realidade. — Fala, Jack. Jack se tornou meu melhor amigo desde a faculdade e, depois de fazer o estágio por aqui, Clint o contratou e, agora, ele é o veterinário oficial da Estância Solar. — Conseguiu resolver com o intruso? — Resolvi sim, mas não era nenhum intruso. — Não? — Ele perguntou confuso. — Então quem era? — Foi a sua nova patroa que chegou. — A filha de Clint? — Ela mesmo. Percebi que Jack ficou calado de repente então desviei os olhos da tela do computador a minha frente e o fitei. — Por que ficou tão calado de repente? — Eu só estava pensando... — Dou um moeda por cada um desses teus pensamentos. — Melhor deixar para lá. — Se for a respeito do seu trabalho, pode ficar tranquilo porque ela não vai te demitir. — Quem me garante isso? Você? — Minha palavra já não vale mais nada para você? — Claro que vale, meu amigo. — Então confie em mim. — Mas será que ela vai saber administrar a fazenda? — Por que está falando isso? — Porque ela acabou de chegar e não sabe nada sobre administrar uma fazenda. — Ela não vai tomar as decisões sozinha. — Mas a palavra final será dela. — Pode ficar tranquilo, meu amigo, porque nada vai mudar por aqui. — Assim espero. — Alguma notícia sobre o nascimento do bezerro? — Deve nascer por esses dias. — Certo. Me avise quando for a hora. Jack saiu da minha sala e eu voltei minha atenção para o computador. Precisava inserir algumas informações na planilha mensal. Sabia que era muito cedo, mas eu precisava conversar com Savana sobre as finanças da fazenda, os funcionários e os animais que mantemos por aqui. Na hora do almoço, como sempre, fui para casa e encontrei meu pai sentado em sua cadeira de balanço na varanda me esperando para almoçar. Logo que me entramos, ajudei ele a colocar a comida na mesa e nos sentamos. — Pai, você não vai acreditar em quem está de volta à Estância Solar. — Quem? — Savana, a filha do Clint. — O bom filho a casa torna. E ela veio sozinha? — Veio com a filha. — E o marido? — Não vi nem sinal do sujeito, deve vir depois ou, sei lá, vai continuar morando lá pela cidade grande mesmo. — Que estranho. A pergunta do meu pai me fez lembrar que eu tinha ficado tão surpreso ao descobrir que era Savana, que acabei esquecendo de perguntar sobre o marido. — Por que você não vai até lá e leva um pouco de comida para elas? Não devem ter nada na despensa. — Ela pode ir até a cidade e comprar ela mesmo as coisas... — Nem tinha terminado de falar quando recebi do meu pai um forte tapa no ombro. — Essa doeu, pai. — Eu não criei filho meu para ser um ogro desse jeito com as pessoas. — Eu só falei a verdade. Terminamos de almoçar, recolhi todas as louças sujas e lavei enquanto, meu pai seguiu seu ritual e foi se deitar na rede da varanda.