O dia do casamento de Rayane amanheceu com o sol entrando pelas frestas da persiana do meu quarto e iluminando o vestido verde-esmeralda pendurado na porta do armário. Ele parecia me encarar, como se carregasse todas as emoções contraditórias que eu sentia desde ontem. O bilhete de Rayane ainda estava na mesinha de cabeceira. Cada vez que eu lia, uma nova onda de culpa e tristeza me engolia. Como eu poderia ser a madrinha dela, sabendo o que sei?
Sentei-me na frente do espelho, a nécessaire de maquiagem espalhado sobre a penteadeira. Minha mão tremia enquanto eu passava a base, tentando esconder as olheiras que denunciavam a noite mal dormida. O reflexo no espelho mostrava uma mulher que eu mal reconhecia; os olhos inchados, o rosto pálido. Quando comecei a passar o delineador, as lágrimas vieram, primeiro tímidas, depois incontroláveis. O traço preto escorreu pelo canto do olho, e eu joguei o pincel na mesa, frustrada.
— Droga, Letícia, se controla. — murmurei para mim mesma, pega