GUSTAVO
Acordei antes da luz.
O céu ainda tava escuro. As janelas embaçadas pelo frio da madrugada. E o som da respiração dela…
Baixa. Constante. A poucos centímetros do meu peito.
Lorena.
Ela dormia ali, do meu lado.
Meio encolhida, como se o mundo fosse grande demais pra carregar sozinha.
Os cabelos bagunçados, uma mecha sobre a testa. O rosto cansado, mas sereno. Como se a paz só chegasse quando ninguém mais estivesse olhando.
Não tive coragem de me mexer.
Nem de encostar.
Só fiquei ali, olhando.
Tentando entender por que uma médica, uma estranha, alguém com uma vida inteira lá fora…
teria feito tudo isso por mim.
Ela não era só profissional.
Disso eu já sabia.
Tinha algo nos olhos dela que ia além do protocolo, além do jaleco, além das regras.
Mas não era amor.
Não podia ser.
Talvez fosse só compaixão.
Ou piedade.
Ou pior: culpa.
Talvez ela tivesse feito alguma promessa pra alguém. Ou visto tantos pacientes morrerem, que se agarrou à ideia de me manter vivo como redenção.
Com