capítulo 17

Narrado por Dra. Lorena Mello

Ele caiu no meu colo como um peso morto.

Mas o peso não era só do corpo.

Era do amor perdido, da esperança que sangra, da culpa que agora mora em mim.

A seringa ainda estava na minha mão.

A agulha curta, limpa, mas suja de tudo que eu desejei nunca ter que fazer.

A dose era pequena — midazolam, 5 miligramas, intramuscular.

Um sedativo leve, o suficiente pra conter o surto, pra proteger o sistema nervoso que ainda não aguentava esse tipo de choque.

Mas não protegia o coração.

Não o dele. E muito menos o meu.

**

A cabeça dele escorregou pro meu ombro.

O corpo tremia ainda, mesmo sob o efeito da medicação.

As mãos, que antes estavam presas à raiva e à angústia, agora pendiam inertes.

Eu não consegui segurar.

Abracei ele.

Abracei como quem tenta colar de volta alguém que o mundo quebrou por dentro.

— "Me perdoa..." — sussurrei, de novo. Pela décima vez. Pela centésima.

Mas perdão não se pede com palavras.

Perdão se vive.

E eu estava vivendo o inferno de amar
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