O filho do meu inferno
O filho do meu inferno
Por: Annysantos
Capítulo 1

— Venha aqui, sua inútil! Não se esconda de mim! — o grito da minha mãe ecoa pelos cômodos, rasgando o pouco de paz que tento criar dentro de mim.

Ela me encontra encolhida atrás do sofá e agarra meus cabelos com força, me arrastando para fora do esconderijo.

Tinha me escondido ao ouvir a conversa. Ouvi quando ela disse, com naturalidade cruel, que me venderia por mil dólares. Mil. Como se eu fosse apenas uma coisa sem valor.

— Mãe… por favor… — imploro, com a voz embargada.

— Cala a boca! — ela grita, me puxando ainda mais forte.

Sou arrastada pela sala como um saco de lixo. Meus pés tentam frear, mas é inútil. Ela me j**a com brutalidade na frente de um homem que eu nunca tinha visto.

Ele é velho, os olhos pequenos e úmidos. Um sorriso sujo se forma em seus lábios quando ele se abaixa para me olhar nos olhos.

— Que coisinha mais linda… — diz, passando a mão pelo meu cabelo.

Eu reajo no impulso. Bato na mão dele com força.

— Vamos. — ele rosna, já agarrando meu braço.

Resisto. Me debato. Meu coração dispara, a garganta queima de tanto gritar.

— Calma, calma! — minha mãe interrompe, e por um segundo, a esperança me toca. Talvez… talvez ela tenha mudado de ideia.

Mas não.

— Dinheiro primeiro — ela diz, estendendo a mão como quem cobra por uma mercadoria.

O homem lhe entrega uma quantia em dinheiro amassado. Ela sorri. Um sorriso que nunca deu pra mim.

— Leve logo daqui.

Ele me puxa. Eu grito. Imploro. Peço. Me debato, esperneio, choro.

Mas ele me j**a dentro do carro como um objeto. Tranca a porta. Dá partida.

Olho pela janela. Minha mãe não vem atrás. Não corre. Não grita. Não me salva.

Ela apenas conta o dinheiro.

15 anos depois…

Hoje será o meu primeiro dia como uma verdadeira prostituta, como dizia o senhor Austin.

Durante esses quinze anos, ele me “treinou” para isso. Desde muito nova, já fazia algumas coisas… dançava para os clientes, sorria, fingia, me curvava à vontade deles. Mas hoje é diferente. Hoje é o dia em que eu cruzo a linha que me restava.

Confesso: nunca quis estar aqui. Nunca quis ser isso. Mas ninguém nunca se importou com o que eu queria.

— Seja rápida. Não quero que se atrase no seu primeiro dia — a voz do senhor Austin ecoa atrás da porta. Rígida. Fria. Como sempre.

— Sim, senhor — respondo, forçando a voz para não tremer.

Me apresso em vestir o corset.

Essas roupas nunca foram feitas para conforto, muito menos para dignidade. O corset era preto, justo, forrado de rendas e preso por um espartilho que marcava minha cintura até me tirar o ar. A parte de baixo era uma calcinha minúscula de cetim combinando, e por cima, uma meia arrastão rasgada de propósito para parecer provocante. Nos pés, um salto alto envernizado que deixava claro o papel que eu deveria desempenhar.

Meu cabelo estava solto, em ondas marcadas, e a maquiagem era pesada: olhos escuros, batom vermelho, blush carregado. Nada disso era para mim. Era para eles.

Olhei meu reflexo no espelho.

Não vi uma mulher. Vi um produto.

Engoli seco.

Hoje seria a primeira de muitas noites em que eu venderia o que restou de mim.

Desci as escadas do cabaré com o coração acelerado. Eu já conhecia aquele lugar, cada canto, cada cheiro, cada riso forçado ecoando pelas paredes. Mas nunca tinha descido para isso. Nunca tinha sido, de fato, uma das “estrelas da noite”.

O nervosismo queimava dentro de mim como fogo preso na garganta, mas eu sabia que não podia demonstrar. Já aprendi, da pior forma possível, que angústia, tristeza ou qualquer sinal de fragilidade custam caro aqui dentro. Muito caro.

Endireitei a postura, levantei o queixo e caminhei com firmeza. Cada passo no salto alto doía, mas mais doía fingir que aquele era o meu lugar.

As outras garotas me observaram com olhares divididos. Algumas me fuzilavam com raiva, como se pensassem: “Ótimo, agora ela será a próxima queridinha do Austin.” Outras me lançavam um olhar de pena amarga, como quem já sabia o inferno que me aguardava e não podia fazer nada.

Rebolei, como aprendi, como esperavam de mim, e fui até Austin, que me observava com olhos analíticos e frios.

— Perfeita — disse ele, sorrindo de forma satisfeita, olhando meu corpo de cima a baixo como se avaliando um carro novo. — Venha. Vou te apresentar a um dos nossos melhores clientes.

Apenas assenti com a cabeça. Por dentro, uma parte de mim gritava, debatia-se, queria fugir… mas não fazia mais diferença.

Fui caminhando ao lado dele, passando por homens que me despiram com os olhos, com olhares lambuzados de malícia e desejo. Senti a pele arrepiar — não de frio, mas de nojo. Eu era uma coelha no meio de lobos famintos.

Até que paramos.

Na frente de um homem que me fez travar os pés por instinto.

Ele aparentava ter entre cinquenta e sessenta anos, mas carregava o tipo de arrogância que o fazia se achar irresistível. Usava um terno escuro caro, provavelmente de marca, com o colarinho aberto e um relógio dourado reluzindo no pulso gordo. Tinha os dedos cheios de anéis, alguns com pedras vermelhas, e fumava um charuto com tanta pose que quase parecia uma caricatura de si mesmo.

Seu cabelo era oleoso e penteado para trás, colado à cabeça. O sorriso era amarelo, exibindo dentes grandes e desalinhados. E os olhos… os olhos eram o pior. Pequenos, fundos e lascivos. Me encaravam como se eu fosse uma sobremesa exótica servida só pra ele.

— Ah, então esta é a famosa Lily… finalmente chegou a hora — ele disse com a voz arrastada e grave, quase um sussurro asqueroso.

Forçou um sorriso e estendeu a mão para tocar meu rosto, mas instintivamente dei um passo para trás.

Austin segurou meu braço discretamente.

— Seja educada, Lily — disse com os dentes cerrados, o tom ameaçador escondido atrás do sorriso social.

Engoli seco e olhei para o homem.

Mais uma vez, seria o que esperavam de mim.

Mais uma vez, engoliria o que sentia.

O homem se sentou novamente.

— Sente aqui — ele disse, batendo nas próprias coxas.

Olhei para Austin com um olhar de desespero, em mais uma das minhas tentativas de que, em algum lugar da alma podre dele, ainda existisse um mínimo de compaixão por mim. Mas, mais uma vez, falhei.

Ele me empurrou em direção ao homem.

— Sente logo — disse, com o tom firme e autoritário de sempre.

Sentei na ponta da coxa do homem, sentindo um nojo tremendo. Ele me puxou para mais perto.

— Já estou ficando duro — ele murmurou, e um arrepio cortou minha espinha enquanto ele repousava a mão em mim.

O homem continuava tocando minhas coxas, e tudo o que eu mais queria era sair correndo dali. Tirei a mão dele em um ato instintivo, e ele suspirou, claramente irritado, demonstrando que não gostava nem um pouco das minhas reações.

Ele tocou novamente — dessa vez, apertando com força, fazendo com que eu sentisse uma dor incômoda.

— Não seja rebelde. Estou pagando um ótimo preço por você, e, sinceramente, nem acho que você vale tanto — ele sussurrou no meu ouvido, e cada palavra me fez arrepiar de medo.

Ele continuou me tocando. Eu não dizia nada. Apenas deixava, mesmo contra minha vontade. Seus toques e sussurros repugnantes continuaram até chegar à pior parte.

— Vamos para o quarto — sussurrou rente ao meu ouvido.

Meu coração disparou. Um arrepio de pavor percorreu meu corpo inteiro.

— Não podemos ficar aqui mais um pouco? — perguntei, em uma tentativa desesperada de adiar o inevitável.

Ele não gostou. Levantou-se de forma brusca e me empurrou do colo.

— Vamos logo — disse, me puxando com brutalidade pelo braço em direção aos quartos do cabaré.

Enquanto éramos arrastados pelo salão, passamos por Austin, que nos observava de longe. Quando chegamos perto, ele me segurou pelo braço livre e se aproximou.

— Não me decepcione — murmurou, antes de encostar um beijo em meu rosto.

Esperei ele se virar e, discretamente, limpei o beijo com as costas da mão. Depois, continuei sendo puxada, sem chance de escapar, até o quarto.

ui puxada até o quarto. Ele abriu a porta e entrou primeiro, me puxando em seguida.

Então era agora. Agora eu faria o que mais temi em todos esses anos. Meu Deus… não. Por favor. Não com esse homem. Eu só queria desmaiar e acordar em outro lugar. Ou morrer ali mesmo, só para não ter que viver isso. Por todos esses anos, desejei a morte. Nos primeiros, eu ainda sonhava estar em outro lugar, em uma vida diferente. Mas quando percebi que isso jamais aconteceria, comecei a desejar que tudo simplesmente acabasse.

Sim, eu já tentei me suicidar. Mas não consegui — Austin me impediu. E não foi porque ele se importa comigo. Ele me impediu porque sabia que, se eu morresse, seus planos cairiam por terra. Desde então, ele me vigia constantemente ou manda alguém para isso. Sou obrigada a dormir algemada. Sim… eu sou proibida até de morrer.

O homem me jogou na cama com força.

— Agora você será toda minha — ele disse, passando a língua pelos lábios.

Ele subiu em cima de mim e começou a beijar meu pescoço. Até tentei empurrá-lo, mas não adiantava. Ele continuava me beijando com fúria, me dando ânsia. Me segurei para não vomitar em cima dele. Ele continuou, e quando ia tirar a calça, o telefone tocou.

— Droga — resmungou, saindo de cima de mim.

Ele atendeu.

— O que você quer? Estou ocupado — disse com o celular no ouvido.

Eu sabia que fazer aquilo traria consequências horríveis. Mas não consegui evitar. Automaticamente, corri para fora do quarto, desesperada, correndo pelos corredores sem olhar para trás. Corri sem medo. Corri como quem foge da morte. Mas parei bruscamente quando esbarrei em alguém.

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