Capítulo 2

Os braços dele eram largos. Usava uma camisa social branca com dois botões abertos, revelando parte do peito. O cheiro dele era simplesmente maravilhoso. Levantei a cabeça e encontrei os olhos dele nos meus. Verdes. Intensos. As mandíbulas bem marcadas, a barba rala e bem aparada… uma mecha do cabelo caía sobre a testa. Ele era lindo pra cacete. Nunca o havia visto antes — ou, pelo menos, acho que não.

— Você está bem? — ele perguntou, analisando meu rosto assustado.

— Sim, estou — respondi, me afastando rapidamente.

— Tem certeza? Parece assustada.

— O que está fazendo aqui, Danny?

Não consigo responder ao homem, pois escuto a voz de Austin atrás de mim.

O homem nota a presença de Austin e desvia o olhar do meu rosto, finalmente.

— Estava te procurando, mas acabei esbarrando com… — ele volta a me olhar, e dessa vez me analisa de cima a baixo. O olhar dele parece mudar completamente ao me observar com mais atenção. Ele suspira. — Com uma das suas prostitutas.

Sinto um nó na garganta ao ouvir aquilo. Me sinto mal, mas não o julgo. Estou em um cabaré, vestida como uma, porque é isso que me tornei. Meus olhos se enchem de lágrimas, mas não me permito chorar. Não aqui. Não agora.

Austin me olha com raiva, claramente furioso por eu não estar no quarto com aquele homem e sim parada nesse corredor.

— Vá para o seu quarto — ele diz em um tom firme, quase cortante, me mandando embora.

Olho para aquele homem uma última vez, e ele desvia o olhar. Provavelmente é só mais um dos clientes desse cabaré. Mais um homem sujo. Não sei por quê, mas por um momento achei que ele seria diferente. Achei que viria me buscar, como em um conto de fadas, e me salvaria dessa vida de merda. Mas me enganei.

E tudo isso só porque ele me perguntou se eu estava bem. Pode parecer pouco… mas não pra mim. Eu não estou acostumada com pessoas perguntando se eu estou bem.

Dou passos rápidos até meu quarto — o único lugar onde eu tinha um pouco de paz, mesmo que fosse uma paz feita de grades invisíveis.

Não consigo controlar. Assim que fecho a porta, corro para a cama, me enrolo nos lençóis e começo a chorar como uma criança. Choro descontroladamente, como faço quase todos os dias desde que pisei os pés nesse lugar horrível.

Eu só queria sair daqui.

Escuto um estrondo — a porta sendo escancarada com força — e Austin entra completamente furioso. Ele me arranca da cama, agarrando meu braço com brutalidade, me assustando.

— Sua vadia inútil! Você não pode deixar um dos melhores clientes sozinho! — ele grita, com o rosto distorcido de raiva.

— Eu… eu fiquei… — tento explicar, mas não consigo concluir. Um tapa forte atinge meu rosto, me fazendo cambalear para o lado.

— Eu disse pra não me decepcionar, vagabunda! — ele rosna, me dando outro tapa, seguido de um soco seco no estômago que me faz perder o ar.

Austin me agride com t***s, socos e chutes. Seus golpes são rápidos, descontrolados, como se descarregasse em mim todas as frustrações do mundo. Sinto o gosto de sangue na boca, o corpo ardendo e a mente prestes a apagar.

— Da próxima vez, vou te bater tanto que nem sair da cama você vai conseguir — ele diz com desprezo antes de sair, me deixando caída no chão como um pedaço de lixo.

Me encolho, chorando desesperadamente, abraçando meu próprio corpo machucado. Eu não aguentava mais viver aquilo. Qualquer erro, por menor que fosse, era motivo de violência. Por que eu? Por que eu tinha que viver nesse inferno? O que eu fiz pra merecer isso? Senhor, eu só queria desaparecer… morrer… qualquer coisa que me tirasse dessa vida.

— Lily… — escuto uma voz familiar, baixa, quase sussurrada. É Ava. Ela se aproxima com passos rápidos e se ajoelha ao meu lado, me ajudando a levantar.

Eu e Ava não éramos exatamente amigas. Ninguém faz amizade de verdade nesse lugar. Mas ela era a única que, de alguma forma, ainda me tratava como um ser humano. Do jeito dela… mas tratava. Estava aqui há mais tempo que eu — quando cheguei, ela já tinha seus dezesseis anos.

Ela me segura pelos braços e me coloca sentada na beirada da cama com cuidado.

— Quantas vezes já falei pra você obedecer ele? — ela levanta meu rosto com delicadeza para ver os machucados. — Esse homem é um bruto.

— É que… eu não queria aquele homem… — sussurro, quase sem voz.

— E você acha que tem escolha nesse lugar, garota? — ela segura meus ombros com firmeza, o olhar duro, mas não cruel.

Apenas balanço a cabeça em negação, engolindo o choro seco.

Ava pega uma pequena caixa onde guarda itens de primeiros socorros e começa a limpar o sangue do meu rosto. Ela sempre fazia isso quando eu apanhava… já parecia ter se acostumado. Seu toque era firme, mas cuidadoso, quase como o de uma irmã mais velha.

— Pronto — ela diz ao terminar, soltando um suspiro. — Agora é só passar maquiagem e fingir que nada aconteceu — completa, começando a guardar os materiais.

— Não… não vou conseguir — murmuro, balançando a cabeça enquanto lágrimas se acumulam nos meus olhos. A simples ideia de ter que me deitar com aquele homem me fazia querer vomitar. — Eu não vou conseguir me deitar com aquele homem…

Ava solta um suspiro cansado e cruza os braços, me olhando com expressão séria.

— Você terá que conseguir, Lily. É melhor isso do que apanhar desse jeito de novo.

— Prefiro a morte do que transar com aquele asqueroso! — digo firme, com os olhos marejados.

— Não, isso não, garota! — ela diz, se aproximando e me dando um leve empurrão no ombro, como se tentasse me trazer de volta à realidade. — Deixa de ser maluca.

Levo as mãos ao rosto, já à beira de mais um choro. Ava se aproxima novamente e afasta minhas mãos com delicadeza, levantando meu rosto para me encarar.

— Já disse que nesse lugar você tem que ser forte. Tem que parar de chorar e aguentar tudo que vier pela frente… é a única forma de sobreviver.

Fecho os olhos por um instante, respirando fundo, e aceno com a cabeça em sinal de concordância.

— Quer uma dica? — ela pergunta, se afastando um pouco com um meio sorriso cansado.

Assinto, curiosa.

— Quando tiver com aquele velho mucho… — ela faz careta, me arrancando um pequeno sorriso involuntário — feche os olhos e imagine que ele é o homem que você realmente deseja.

Por um segundo, penso no homem do corredor. Os olhos verdes. O jeito que ele me olhou. Mas logo afasto os pensamentos. Por mais bonito que fosse, provavelmente era tão nojento quanto todos os outros.

— Eu não desejo nenhum homem! — digo com firmeza, franzindo o cenho.

— Então finja que deseja algum — ela dá de ombros. — Sei lá, só imagine outra coisa além daquele velho. Eu sei que não é grande coisa… mas é uma forma de fugir, mesmo que seja só por alguns minutos.

Apenas concordo com a cabeça. A ideia dela não é ruim. E não seria difícil imaginar. Desde pequena, aprendi a criar mundos inteiros na minha cabeça. Era a forma que eu tinha de fugir da realidade. Sempre imaginei uma vida simples, mas feliz — com uma mãe amorosa, estudando, cursando medicina. O básico… mas era tudo o que eu queria.

— Agora tenho que ir — Ava se levanta com um suspiro exagerado, ajeitando o vestido curto no corpo. — Tem um casado barrigudo me esperando.

Ela já estava quase saindo quando a chamo.

— Espera! — digo, e ela para com a mão na maçaneta, virando-se de volta para mim com a sobrancelha erguida.

— Você sabe quem é um homem bem bonito, de olhos verdes? — pergunto, pensativa, lembrando do encontro no corredor. Sei que provavelmente era só mais um cliente… mas não consegui esquecer o jeito que ele me olhou.

— Oh, querida… — ela solta uma risadinha — eu conheço muitos homens bonitos de olhos verdes.

— Não, não… — insisto, balançando a cabeça. — Mas esse é diferente. Eu nunca tinha visto ele por aqui.

Ava franze o cenho por um momento, pensativa.

— Homens novos aparecem aqui todo dia. E apesar de sempre virem bonitos, todos são asquerosos — ela dá uma risada sem humor. — Mas por que quer saber? Conhece ele?

— Não, não… só fiquei curiosa — respondo, desviando o olhar.

— Certo então — ela diz, abrindo a porta. — Boa sorte, flor. Vai precisar.

E sai, deixando-me sozinha de novo com meus pensamentos e aquela imagem gravada nos olhos: os dele, verdes como folhas molhadas pela chuva.

Fico sozinha no quarto por alguns minutos, sentada na beira da cama, olhando fixamente para a porta ainda entreaberta por onde Ava saiu. A luz fraca que entra por ela projeta uma sombra torta no chão de madeira gasta. Minha respiração continua pesada, como se cada suspiro arranhasse por dentro. O rosto arde com os t***s, e o corpo inteiro parece ter sido atropelado por um caminhão invisível. Mas nada dói mais do que o que sinto por dentro — um aperto constante, esmagador, como se meu coração estivesse sendo espremido por mãos cruéis.

Me levanto devagar, com os joelhos ainda trêmulos, o chão parece mais longe do que realmente está. Dou passos lentos até o canto do quarto, onde há um espelho quebrado pendurado na parede. Me encaro. Ou tento. Meu reflexo está rachado em vários pedaços, como se até ele se recusasse a me ver por inteira.

O sangue seco escurece a lateral do meu rosto, misturado às lágrimas que já secaram e deixaram um rastro sujo. As primeiras manchas roxas começam a florescer sob minha pele como pétalas doentias. Pétalas que doem. Pétalas que ninguém colhe.

Abro a gaveta e pego o batom mais escuro que tenho. Meus dedos tremem, mas consigo passá-lo nos lábios com alguma precisão. Depois, cubro os hematomas com base — a mesma de sempre — como se fosse uma armadura invisível. Uma armadura frágil, feita de cor de pele e pó. Fecho os olhos por um momento. Respiro fundo. Não estou pronta. Nunca estou. Mas tenho que sair. Tenho que fingir. Tenho que obedecer.

Saio do quarto com os ombros encolhidos, como quem tenta desaparecer no próprio corpo. Desço as escadas devagar, me preparando mentalmente para o que poderia acontecer. O velho asqueroso com quem fui designada… eu teria que me deitar com ele, aceitar suas mãos repugnantes, suas palavras nojentas e o cheiro de bebida velha impregnando meu corpo. Eu não queria. Eu queria desaparecer. Mas mais do que tudo, eu não queria apanhar de novo. Nem deixá-lo irritado. Quando o senhor Austin fica irritado, ele vira um monstro.

Caminho até o salão principal, onde a luz vermelha preenche o ambiente com uma aura infernal. O som da música baixa, os risos falsos, os copos tilintando… tudo me dá náusea.

Olho ao redor procurando o velho. Estou pronta para “me desculpar”. Fingir que estava esperando por ele, sorrir, mentir. Mas, para minha surpresa, ele não está. Nem sinal dele. E, por alguma razão que nem eu entendo, também procuro por outro rosto. Os olhos verdes. A barba bem aparada. O olhar que me encarou como se eu fosse… humana.

Procuro por ele sem querer parecer que estou procurando. Meu olhar passeia discretamente entre os homens espalhados nas mesas, no balcão, nos sofás. Mas ele também não está.

Sinto uma decepção estranha crescer no peito. Por quê? Eu nem conheço aquele homem. Ele provavelmente é como todos os outros — sujo, nojento, só mais um cliente. Mas, ainda assim, eu queria vê-lo de novo. Talvez porque, por um instante, ele tenha me olhado como ninguém olha aqui dentro. Como se eu fosse mais do que um corpo à venda.

Não o encontro. Nem ele, nem o velho. E essa ausência me deixa confusa. Aliviada. Mas também… incomodada.

Dou um passo para trás e fico ali, encostada na parede, tentando decidir o que fazer. Meus olhos percorrem o ambiente mais uma vez, mas agora, mais devagar. Nenhum dos rostos me diz nada. Nenhum deles é o dele.

Austin me nota assim que viro o rosto. Seu olhar endurece de imediato. Ele para de rir com os homens ao seu redor, dá dois passos para o lado e vem até mim com a expressão fechada. Seus sapatos batem no chão como se marchasse para uma guerra — e eu era o campo de batalha.

Ele para bem na minha frente, o cheiro de charuto e uísque vindo forte como uma muralha.

— Veio pedir desculpas, é isso? — sua voz sai baixa, mas carregada de ameaça.

Engulo em seco e abaixo os olhos, tentando parecer submissa.

— Eu… eu desci pra encontrá-lo, mas não o vi por aqui. Achei que era melhor esperar por você…

— Esperar pra quê? — ele ri, mas o som é amargo. — Você já estragou tudo, vadia.

Fico em silêncio, os olhos fixos no chão, sentindo a pressão do ar entre nós como se fosse cimento.

— Prometo que irei melhorar, senhor Austin — digo, abaixando a cabeça.

Ele levanta meu queixo com dois dedos, com força.

— Não quero promessas! Quero atitudes — solta meu rosto com um empurrão.

Apenas aceno com a cabeça baixa.

— Por sorte, consegui convencer o velho a querer te comer novamente. Amanhã ele vai estar aqui e, quando te chamar, você vai sorrir, abrir as pernas e agradecer. Ou juro por Deus que vou te dar uma surra tão grande que ninguém vai te reconhecer.

Assinto com a cabeça, sentindo a respiração travar no peito.

Viro de costas, dando um passo para me retirar, mas ele agarra meu braço com força.

— Eu mandei você ir embora? — fala, apertando ainda mais meu braço.

— Perdão, senhor… pensei que já podia ir — murmuro, sentindo a dor do aperto.

— Não quero mais você falando com aquele homem que viu hoje no corredor. Se eu te pegar falando com ele novamente, vou fazer você sangrar em lugares que nunca imaginou.

Ele diz, provavelmente se referindo ao homem de olhos azuis — e realmente não entendo o porquê disso. Apenas aceno em concordância. Queria perguntar o motivo, mas ele não responderia. Provavelmente me bateria de novo. Ele odeia perguntas ou qualquer tipo de questionamento. Ele só quer ser obedecido. E pronto.

— Agora vaza daqui. E melhora essa cara de choro — diz, soltando meu braço com força.

Depois disso, ele vira as costas e volta para os homens que deixou para trás, como se nada tivesse acontecido.

Em seguida sigo para meu quarto

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