Cerberus chegou bravo, mais bravo e inquieto do que nos últimos meses. Diferente dos outros dias ele se trancou no quarto, não comeu e mal dormiu.No dia seguinte, nem mesmo Apollo conseguiu fazê-lo abrir a porta, bateu e até ameaçou arrombar, mas nada fez Cerberus ceder.Por fim, o irmão de Cerberus foi chamado. Hades se manteve distante, não interferia no tratamento ou nas atitudes do irmão, pensara até que o carinho outrora nutrido por ele estava também perdido.— Cerberus, é o Hades... Abra e converse comigo! — Hades tinha nas mãos uma garrafa de vodka, se o irmão nunca tinha bebido, hoje teria o seu primeiro porre.Cerberus abriu e antes que Apollo também passasse, Hades fechou a porta.— O que quer? — Cerberus disse e voltou para sacada, sentou-se no chão e olhava o horizonte, na verdade, olhava em direção ao internato, sentindo-se ferido por Helena.Hades não respondeu, ele abriu a garrafa e deu um gole longo, sentou-se na cadeira ao lado de Cerberus que estava no chão. Estende
Morar em um lugar afastado era bom, ninguém o viu chegar coberto de sangue, ser levado por Apollo para um banho e depois se deitar exausto em seu tapete.Apollo por um momento ficou preocupado, o olhar perdido de Cerberus o lembrou os primeiros dias sem Helena, parecia um animal, alguém sem alma vagando em busca de consolo.Seria muito ruim se esse consolo fosse matar, se Cerberus encontrasse sua alma arrancando as dos outros.Por sorte, não foi assim que as coisas aconteceram. Cerberus aprendeu sim a matar em meses e tinha agora uma profissão, um ganha pão, não dependeria da família rica, apenas de si e das armas que aprendeu a usar.------Durante esses meses em que Cerberus exercia sua maldade, Helena vivia alheia e solitária, voltava algumas vezes a floresta disposta a implorar que Cerberus a levasse com ele caso ele aparecesse, mas ele não apareceu.Com a chegada do inverno, chegou também o fim da gestação de Helena, era hora de uma criança vir ao mundo.Era cedo e Helena estava
Enquanto isso o homem alto e forte que acompanhava as consultas de Helena estava lá, ele foi avisado pela diretora do nascimento e precisava ter certeza de que a criança era saudável.— Deixe-me vê-lo! — O homem pediu.Ele segurou o bebê em seus braços e sorriu, sorriu pensando que seu plano estava completo, que aquele menino belo e pequeno lhe daria tudo que um dia ele quis.— Senhor, e agora? O que fazemos com a mãe? As mensalidades pagas pelos pais já acabaram. — A diretora perguntou.— A jogue na rua, o bebê fica, pois preciso dele.— Terá que pagar alguém para cuidar da criança aqui.— Faça o que tem que fazer, esse menino não vai viver muito tempo, tenho apenas uma ponta solta e depois poderei executar meu plano como se deve. — Ele devolveu a criança a enfermeira e depois partiu.Helena recebeu de volta seu filho, mas tinha que se recuperar rápido, pois sua estadia ali estavam com os dias contados.-------O primeiro mês de Helena foi uma tormenta. A diretora não a mandou embora
Na semana seguinte tudo estava pronto, Helena tinha sua documentação em dia e estava casada com Cerberus sem nenhum dos dois saberem.Hera foi pessoalmente no sítio e o fez assinar diversos documentos, alguns dizia ser referente a empresa, outros de cunho pessoal, pois o filho perdido ainda tinha documentos pendentes. Entre eles estava lá papéis do casamento, Cerberus confiava demais na mãe para ler antes de assinar.Helena foi forçada a assinar o documento de sua parte, primeiro a diretora disse que era um contrato de trabalho, mas assim que iniciou a leitura soube que se tratava de um casamento. Por fim, Helena tinha que escolher, ou se casava ou era jogada no olho da rua.A tarde Hera estava lá, na porta do internato, pronta para levar a esposa de Cerberus para o seu destino.— Helena, isso não faz parte do contrato, já disse! O bebê fica! — Era a voz da diretora, alterada esbravejando.Hera se aproximava do quarto quando ouviu a gritaria.— É meu filho, meu! Não posso deixá-lo.—
As malas de Helena foram levadas para um quarto menor, ali havia uma cama de casal, um banheiro e um guarda-roupa. Para ela era mais do que o suficiente.Enquanto isso Apollo tentava inutilmente falar com Cerberus.— Se acalme, ela pode não ter culpa, e o menino é mais inocente ainda.— Aposto que o pai é o cavalariço, por isso ele a deixa sair mesmo sem permissão, era gentil com ela sem pedir nada em troca, ou no caso, ela já dava a ele algo. — Cerberus se corroía com as especulações de sua mente. — Mas se ela pensa que lhe darei paz, que viverá aqui sem problemas, está muito enganada, desejará partir depois do que vou fazer com ela.— Cerberus, não pode machuca-la, culpada ou não, você não tem esse direito. — Apollo era a voz da razão naquele momento. Tentava chamar Cerberus a realidade.Quase a noite o motorista da mãe de Cerberus voltou, ele trouxe alguns itens de bebê. Roupas quentes para Helena e para o menino. Trouxe também um carrinho de bebê e um pequeno berço, conhecido como
Helena correu para fora do quarto, seus olhos estavam cobertos por lágrimas e ela estava pálida como uma folha de papel. Quando chegou na cozinha pôde finalmente respirar.Cerberus estava com seu bebê no colo, o segurava meio sem jeito, mas com cuidado.— O que deu na sua cabeça para pegar meu filho? Me devolva o meu bebê! — Helena estava furiosa, pegou a criança em seus braços e o abraçou.— Apollo o pegou, disse para segurar a coisinha enquanto ele buscava alguma coisa e não voltou.—Coisinha? Meu filho não é uma coisinha, é um menino, uma criança linda. — Helena respondeu enraivecida.— Pois deve se parecer com o pai, porque a mãe é muito feia. As palavras de Cerberus doeram fundo em Helena, ele mesmo se arrependeu, mas não sabia pedir perdão, não sabia como agir perto de Helena. Qualquer um diria para ele dar a ele o que recebeu, mas ele só recebeu dor, amargura, e tudo de ruim que um ser humano pudesse carregar, tudo isso estava impresso nele e era isso que tinha a oferecer.—
Pela manhã, Helena acordou aos poucos, sentiu algo passear em sua perna e quando abriu os olhos por completo se assustou.— Não grite! Estamos aqui! — Apollo disse.Ele estava com Eros em seus braços e viu que Cerberus estava próximo também pronto para agir.Uma cobra havia entrado na casa, não era venenosa, mas Helena se assustou. Sua respiração se tornou densa e ofegante. Ela fechou os olhos, desejou acordar fora dali.Cerberus se aproximou cuidadosamente, em um movimento rápido, ele pegou o animal pela cabeça e o levou para fora.— Helena, por que dormiu na sala? É mais seguro no quarto, com a porta e janela fechada. — Apollo perguntou lhe devolvendo seu bebê.— Ouço barulhos na janela a noite, saí do quarto assustada com os sons, vim dormir aqui, mas foi inútil. Cerberus voltou e sentiu-se mal. Helena estava trêmula, gelada e com a aparência abatida. As noites no sítio não estavam fazendo bem a ela.Helena preparou o café com o pequeno bebê em seu colo, ele estava agitado e não p
Helena sentiu-se mais uma vez acolhida por Hera, ela não questionou, não fez perguntas íntimas insinuando ser mentira a versão dela.Hera saiu do quarto e chamou Apollo, tinha uma forte suspeita sobre o pai da criança. Ela contou o relato de Helena e sobre a sua suspeita.— É isso, a marca é idêntica a de Cerberus, acha possível? Acha que de alguma forma Eros é filho de Cerberus, é meu neto?— Não sei, pelas minhas investigações, Cerberus passou esses anos todos trancado, mas não sei dizer se era no internato. — Ele sabia, já havia confirmado com Cerberus essa informação.Sabia que ele cresceu preso no internato, dos abusos da diretora e do caçador, sabia também que Helena não mentiu, mas faltava uma parte da história, e essa parte foi preenchida com uma palavra, o inseminação.— Falarei com Cerberus, vamos tirar a dúvida e... Será bom, ele está magoado, por achar que Helena teve outro homem, mesmo que não seja o pai do Eros, tirar essa sombra devolverá a ele a inocência, o amor.Hera