Cerberus surgiu do meio das árvores, e Helena sorriu, ficou feliz de ver Cerberus bem.
— Eu disse que voltaria e você está lindo! Seu cabelo está muito bonito... — Ela estendeu a mão para tocar, mas Cerberus recuou um passo.Helena pegou o sanduíche e deu a ele, Cerberus comeu de costas como sempre, limpou a boca com o braço e seu olhar se voltou para ela.— Cerberus, onde está o meu cavalo? Você a perdeu? — Helena perguntou com as mãos na cintura.— Em casa... — Aquilo era bom, Cerberus agora tinha uma casa, um lar.Um barulho foi ouvido dentre as árvores e Helena se assustou, ela pulou para trás de Cerberus no mesmo momento em que Apollo surgiu a sua frente.— Calma moça, não precisa ter medo de mim. — Apollo disse de onde estava, não se aproximou muito para não assustar Helena.— Amigo, Apollo é amigo. — Cerberus disse e Helena relaxou.— Se conhecem faz muito tempo? — Apollo perguntou.— Faz algumas semanas, nos conhecemos aqui... Eu sempre venho e agora tenho um ótimo motivo. — O olhar de Helena parecia encantado com Cerberus, ainda mais agora, limpo, arrumado, parecendo um homem rústico, mas lindo e cuidado. — Cerberus, não posso demorar, a diretora está de olho em mim, tive uma consulta médica ontem e depois disso ela me segue, foi difícil fugir dessa vez.— Helena... — Cerberus tocou o cabelo dela e Helena fechou os olhos, parecia aguardar por algo, algo que novamente não aconteceu.Ela abriu os olhos magoada, pensando que agora que Cerberus tinha um lar, um amigo, não voltaria por míseros sanduíches, que nem ao menos um beijo ganhou dele, pois provavelmente ele não sentia nada por ela.O farfalhar das folhas secas foi ouvido, alguém estava se aproximando.— Cerberus, está vindo alguém... Tem que ir agora! — Helena disse baixo, mas Cerberus estava ainda hipnotizado por sua beleza.Apollo o puxou e mesmo não querendo ir, Cerberus se escondeu entre as árvores como antes.— Senhorita Helena, o que faz aqui? — O cavalariço perguntou.— Nada, eu sempre venho aqui...— Pois aqui não é seguro... Existem boatos de um louco, um pervertido soltou, parece que ele se esconde nessa floresta em busca de vítimas.Helena bufou, duvidava ser verdade, e se fosse com certeza não era Cerberus. Ela pegou o cavalo e sussurrou um adeus, antes de montar e partir em direção ao internato.---------Cerberus voltou para o carro com Apollo, parecia mais calmo e até feliz depois de ver Helena.— Então você tem uma amiga... Isso é bom, acho que ela gosta de você. — Apollo disse enquanto dirigia.— Gosta, a Helena gosta de mim? — Aquilo era novidade para Cerberus, até mesmo estranho de acordo com ele.— Quando você a tocou, ela fechou os olhos, pensou que seria beijada por você, ficou chateada, por você não tê-la beijado. Isso ficou nítido no rosto dela.— Beijar?Apollo o olhou intrigado, sabia que Cerberus sumiu cedo, mas que tipo de vida Cerberus teve que nem ao menos beijar uma moça ele sabia.— Cerberus, pessoas apaixonadas beijam, encostam os lábios umas nas outras, Helena esperava isso de você. — Apollo disse e viu Cerberus toca os próprios lábios, refletindo sobre o que seria beijar Helena.Ele ainda não tinha entendido como isso seria possível, mas tentaria, com certeza, tentaria.— Ela me deu o cavalo, me ajudou a fugir. — Cerberus falou, aquilo era bom, era ele se abrindo para Apollo espontaneamente, era o início de uma amizade.--------Cerberus chegou em casa mais tranquilo, subiu direto para o quarto sem nenhuma objeção, pois seu pensamento estava apenas em Helena.A mãe o vou feliz e parou Apollo na entrada, queria entender a inquietação do filho logo cedo.— Ele só queria dar uma volta? Onde foram que o deixou tão feliz?— Fomos até a floresta quase fora da cidade, nos limites daquele internato, uma moça muito bonita apareceu, ele estava inquieto, pois era dia de encontrá-la, queria ver a tal amiga.— Uma moça do internato? Falam muitos absurdos daquele lugar... — Hera não viveu no internato, mas ouvia os rumores. Sabia que as moças ali eram presas até terem um pretendente para se casar, sabia também que meninos viviam lá, mas eram os filhos bastardos, indesejados, ou com algum problema neurológico. Seus pais os escondiam ali até o dia de sua morte e assim dizer que foi uma fatalidade.— Sei do que fala, mas parece ser uma boa moça. A égua que Cerberus usa, foi dada por ela, ele disse que ela o ajudou a fugir.Aquilo aqueceu o coração de Hera, talvez seu filho pudesse encontrar essa moça e quem sabe construir uma família.-----Enquanto isso Helena entrava no internato novamente. Ela passara pela porta e deu de cara com quem não queria.— Senhorita Helena, que imprudência! Não pode sair assim sem mais nem menos. — A diretora a esperava na porta, a acompanhou até o quarto esbravejando que ela estava proibida de ir até os estábulos.Helena não entendeu a superproteção, pois até às meninas mais jovens, eram livres dentro dos limites do internato.Helena estava intrigada, pois depois da consulta, passou a ser vigiada, ter uma alimentação diferenciada e a mudaram de quarto também, agora ela estava em um quarto grande e sem outras meninas para dividir.Suas saídas semanais estavam cada vez mais difíceis, pois a diretora sempre deixava alguém de olho nela.Helena também sentia-se diferente, passou a ter enjôos matinais, estava sensível a cheiros e sua barriga começou a crescer.Era uma sexta-feira e faziam 4 meses desde a última vez que viu Cerberus, ela estava preocupada com ele e consigo mesma.Era uma consulta, mais uma consulta de rotina, que para ela estavam mais frequentes do que para as outras meninas.— Venha senhorita, deite-se. — O médico já conhecido do internato disse.Logo depois um homem alto, forte e elegantemente vestido entrou, ele se encostou na porta e apenas aguardou.O médico aplicou o gel na barriga de Helena e iniciou o exame. O silêncio ensurdecedor tomou conta do lugar.— Pois bem senhor, ela está entrando quarto mês de gestação, a criança é forte, e está tudo dentro da normalidade. — Assim que o médico disse, o homem sorriu e se retirou.— Doutor! Eu estou grávida? — Helena perguntou assustada, como isso era possível?O médico apenas confirmou com a cabeça. Agora tudo fazia sentido, os enjôos, o mal estar, o pequeno aumento em sua barriga, não era uma doença, era uma gestação que ela nem ao menos sabia de onde vinha.Helena saiu correndo do consultório, queria um amigo, alguém que pudesse a consolar naquele momento e só tinha uma pessoa que queria ver.Ela pegou seu cavalo e foi até a clareira, chegou lá em minutos de tão rápido que foi.— Cerberus! Cerberus! — Ela gritou chamando por ele, não era dia de encontrá-lo, mas precisava, naquele dia mais que tudo, precisava dele.Helena sentou-se na pedra e chorou, pensou que estava sozinha e perdida, pois não tinha nem ao menos um amigo para conversar.Enquanto isso Cerberus olhava sua dor, seu coração sombrio se quebrou com a dor de Helena.Desde o último dia em que Helena não apareceu, Cerberus passou a ir todos os dias até lá, queria ver sua amiga, queria dar a ela o beijo que antes ele não sabia como era.Apollo tocou seu ombro, passando-lhe confiança, queria que Cerberus soubesse abraçar e acalentar Helena nesse momento tão difícil.Ele pensou em ir até lá, mas alguém apareceu.— Como ousa me desobedecer? — A diretora se aproximou e puxou o braço de Helena.Ela jogou Helena no chão, trazia consigo uma espécie de chicote que usou nas costas de Helena.— Helena... — Cerberus disse entre os dentes, doía em si ver Helena sendo machucada.— Volte para o internato, não se atreva a sair do seu quarto, seus pais estão vindo menina e falarei sobre o seu comportamento.Cerberus estava a ponto de avançar, mas o que aconteceria, será que ele salvaria Helena? Ou estaria causando sua condenação?O restante do dia, Helena passou em seu quarto, não teve fome ou vontade de nada, passou seus dias isolada no lugar destinada a ela.— Ela está aqui, a isolamos para que as outras internas não pensem em fazer o mesmo, sua filha é uma má influência para as outras. — A diretora dizia ao abrir a porta.Logo em seguida, passaram a mãe e o pai de Helena. Ela se levantou prontamente e tentou abraçar a mãe, mas o pai a impediu.— Não toque em sua mãe, garota imunda! Se deitou com um rapaz qualquer e carrega agora o preço de sua vergonha. Diga Helena, quem? Com quem se deitou? — O pai gritou cada palavra, deixando Helena assustada.— Com ninguém papai, eu juro! — Ele dizia a verdade, mas em sua condição era difícil acreditar.— Acha que é uma virgem santa? Que vou acreditar que esse bebê é um milagre? Não sou bobo Helena, se está grávida é porque um homem teve, diga quem é para que eu exija uma reparação.Helena chorou alto, ninguém acreditaria nela, nem mesmo seus pais. Como explicar uma gra
Cerberus chegou bravo, mais bravo e inquieto do que nos últimos meses. Diferente dos outros dias ele se trancou no quarto, não comeu e mal dormiu.No dia seguinte, nem mesmo Apollo conseguiu fazê-lo abrir a porta, bateu e até ameaçou arrombar, mas nada fez Cerberus ceder.Por fim, o irmão de Cerberus foi chamado. Hades se manteve distante, não interferia no tratamento ou nas atitudes do irmão, pensara até que o carinho outrora nutrido por ele estava também perdido.— Cerberus, é o Hades... Abra e converse comigo! — Hades tinha nas mãos uma garrafa de vodka, se o irmão nunca tinha bebido, hoje teria o seu primeiro porre.Cerberus abriu e antes que Apollo também passasse, Hades fechou a porta.— O que quer? — Cerberus disse e voltou para sacada, sentou-se no chão e olhava o horizonte, na verdade, olhava em direção ao internato, sentindo-se ferido por Helena.Hades não respondeu, ele abriu a garrafa e deu um gole longo, sentou-se na cadeira ao lado de Cerberus que estava no chão. Estende
Morar em um lugar afastado era bom, ninguém o viu chegar coberto de sangue, ser levado por Apollo para um banho e depois se deitar exausto em seu tapete.Apollo por um momento ficou preocupado, o olhar perdido de Cerberus o lembrou os primeiros dias sem Helena, parecia um animal, alguém sem alma vagando em busca de consolo.Seria muito ruim se esse consolo fosse matar, se Cerberus encontrasse sua alma arrancando as dos outros.Por sorte, não foi assim que as coisas aconteceram. Cerberus aprendeu sim a matar em meses e tinha agora uma profissão, um ganha pão, não dependeria da família rica, apenas de si e das armas que aprendeu a usar.------Durante esses meses em que Cerberus exercia sua maldade, Helena vivia alheia e solitária, voltava algumas vezes a floresta disposta a implorar que Cerberus a levasse com ele caso ele aparecesse, mas ele não apareceu.Com a chegada do inverno, chegou também o fim da gestação de Helena, era hora de uma criança vir ao mundo.Era cedo e Helena estava
Enquanto isso o homem alto e forte que acompanhava as consultas de Helena estava lá, ele foi avisado pela diretora do nascimento e precisava ter certeza de que a criança era saudável.— Deixe-me vê-lo! — O homem pediu.Ele segurou o bebê em seus braços e sorriu, sorriu pensando que seu plano estava completo, que aquele menino belo e pequeno lhe daria tudo que um dia ele quis.— Senhor, e agora? O que fazemos com a mãe? As mensalidades pagas pelos pais já acabaram. — A diretora perguntou.— A jogue na rua, o bebê fica, pois preciso dele.— Terá que pagar alguém para cuidar da criança aqui.— Faça o que tem que fazer, esse menino não vai viver muito tempo, tenho apenas uma ponta solta e depois poderei executar meu plano como se deve. — Ele devolveu a criança a enfermeira e depois partiu.Helena recebeu de volta seu filho, mas tinha que se recuperar rápido, pois sua estadia ali estavam com os dias contados.-------O primeiro mês de Helena foi uma tormenta. A diretora não a mandou embora
Na semana seguinte tudo estava pronto, Helena tinha sua documentação em dia e estava casada com Cerberus sem nenhum dos dois saberem.Hera foi pessoalmente no sítio e o fez assinar diversos documentos, alguns dizia ser referente a empresa, outros de cunho pessoal, pois o filho perdido ainda tinha documentos pendentes. Entre eles estava lá papéis do casamento, Cerberus confiava demais na mãe para ler antes de assinar.Helena foi forçada a assinar o documento de sua parte, primeiro a diretora disse que era um contrato de trabalho, mas assim que iniciou a leitura soube que se tratava de um casamento. Por fim, Helena tinha que escolher, ou se casava ou era jogada no olho da rua.A tarde Hera estava lá, na porta do internato, pronta para levar a esposa de Cerberus para o seu destino.— Helena, isso não faz parte do contrato, já disse! O bebê fica! — Era a voz da diretora, alterada esbravejando.Hera se aproximava do quarto quando ouviu a gritaria.— É meu filho, meu! Não posso deixá-lo.—
As malas de Helena foram levadas para um quarto menor, ali havia uma cama de casal, um banheiro e um guarda-roupa. Para ela era mais do que o suficiente.Enquanto isso Apollo tentava inutilmente falar com Cerberus.— Se acalme, ela pode não ter culpa, e o menino é mais inocente ainda.— Aposto que o pai é o cavalariço, por isso ele a deixa sair mesmo sem permissão, era gentil com ela sem pedir nada em troca, ou no caso, ela já dava a ele algo. — Cerberus se corroía com as especulações de sua mente. — Mas se ela pensa que lhe darei paz, que viverá aqui sem problemas, está muito enganada, desejará partir depois do que vou fazer com ela.— Cerberus, não pode machuca-la, culpada ou não, você não tem esse direito. — Apollo era a voz da razão naquele momento. Tentava chamar Cerberus a realidade.Quase a noite o motorista da mãe de Cerberus voltou, ele trouxe alguns itens de bebê. Roupas quentes para Helena e para o menino. Trouxe também um carrinho de bebê e um pequeno berço, conhecido como
Helena correu para fora do quarto, seus olhos estavam cobertos por lágrimas e ela estava pálida como uma folha de papel. Quando chegou na cozinha pôde finalmente respirar.Cerberus estava com seu bebê no colo, o segurava meio sem jeito, mas com cuidado.— O que deu na sua cabeça para pegar meu filho? Me devolva o meu bebê! — Helena estava furiosa, pegou a criança em seus braços e o abraçou.— Apollo o pegou, disse para segurar a coisinha enquanto ele buscava alguma coisa e não voltou.—Coisinha? Meu filho não é uma coisinha, é um menino, uma criança linda. — Helena respondeu enraivecida.— Pois deve se parecer com o pai, porque a mãe é muito feia. As palavras de Cerberus doeram fundo em Helena, ele mesmo se arrependeu, mas não sabia pedir perdão, não sabia como agir perto de Helena. Qualquer um diria para ele dar a ele o que recebeu, mas ele só recebeu dor, amargura, e tudo de ruim que um ser humano pudesse carregar, tudo isso estava impresso nele e era isso que tinha a oferecer.—
Pela manhã, Helena acordou aos poucos, sentiu algo passear em sua perna e quando abriu os olhos por completo se assustou.— Não grite! Estamos aqui! — Apollo disse.Ele estava com Eros em seus braços e viu que Cerberus estava próximo também pronto para agir.Uma cobra havia entrado na casa, não era venenosa, mas Helena se assustou. Sua respiração se tornou densa e ofegante. Ela fechou os olhos, desejou acordar fora dali.Cerberus se aproximou cuidadosamente, em um movimento rápido, ele pegou o animal pela cabeça e o levou para fora.— Helena, por que dormiu na sala? É mais seguro no quarto, com a porta e janela fechada. — Apollo perguntou lhe devolvendo seu bebê.— Ouço barulhos na janela a noite, saí do quarto assustada com os sons, vim dormir aqui, mas foi inútil. Cerberus voltou e sentiu-se mal. Helena estava trêmula, gelada e com a aparência abatida. As noites no sítio não estavam fazendo bem a ela.Helena preparou o café com o pequeno bebê em seu colo, ele estava agitado e não p