Liam Rodrigues
Eu ainda sentia o peso dela na minha camisa, mesmo depois de me afastar.
O jeito como aquela mulher me olhou... não era só gratidão. Era outra coisa. Algo confuso, doloroso, como um fio de reconhecimento que eu não consegui identificar. Ou talvez não quisesse.
Minha mente tentava se ancorar no presente — na Nina em meus braços, nas meninas, no barulho das crianças correndo lá fora — mas os olhos daquela mulher ainda estavam cravados em mim. E eu conhecia aquela expressão. Era como olhar no espelho no exato momento em que uma memória adormecida ameaça emergir.
— Papai? — a voz de Belinha me chamou de volta, baixinha, ainda abraçada na perna da Priscila.
Respirei fundo e abri os braços para ela também. Peguei Belinha com um braço, mantive Nina no outro. As duas se aninharam contra meu peito como se, instintivamente, buscassem abrigo de algo invisível, algo que nem elas sabiam nomear.
— Tá tudo bem, minhas pequenas... — murmurei, tentando soar firme. — A moça só passou mal