Priscila Barcella
Mesmo com tanta coisa ainda me dando medo… medo do meu tio, da Marina, ou de qualquer um que possa estourar essa bolha de felicidade que construí com tanto esforço… hoje, olhando a Mavie dormindo ali, tão frágil, tão pequena, sem nenhuma armadura…
Eu me dei conta de algo precioso: apesar de tudo, eu fiz boas escolhas.
Principalmente a de ser mãe dela.
E como um sussurro vindo do passado, uma lembrança adormecida se acendeu dentro de mim.
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Lembrança
Naquele dia, eu estava exausta. Tinha acabado de sair de uma reunião interminável. Meus pés latejavam no salto, minha cabeça pulsava, e tudo o que eu mais desejava era uma massagem — ou desaparecer do mapa por umas boas horas.
Sentei no sofá do meu escritório, respirei fundo e levei as mãos até a barriga. Estava com 22 semanas — cinco meses. Ainda era cedo pra chamar atenção. Com uma blusa mais larga, ninguém sequer imaginava que havia uma vida crescendo ali.
Mas eu sabia.
Ela estava lá.
E, naquele instante, se mexeu.
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