Priscila Barcella
A dor tem cheiro.
Tem gosto.
Tem cor.
E naquele instante, quando abri a porta, eu pude sentir o cheiro pútrido do passado invadindo minha casa.
Era ele.
O homem que destruiu minha infância, roubou minha inocência, me condenou ao inferno...
E que agora, de pé na minha frente, sorria como se fosse apenas mais uma tarde qualquer.
O tempo parou.
Meu corpo inteiro congelou.
Por um segundo, não fui a mulher forte que criei a duras penas, nem a mãe que protegia com unhas e dentes as crianças que agora dormiam inocentes ali dentro.
Por um segundo, voltei a ser a Priscila de cinco anos, pequena, acuada, tremendo de medo no canto sujo do quarto escuro.
Podia sentir o cheiro de mofo, ouvir os gritos abafados atrás da porta, o ranger do assoalho sob os passos pesados que anunciavam o pior.
Minha respiração falhou.
Meu estômago revirou.
— Olá, querida sobrinha — disse ele, com a mesma voz repugnante de sempre, como se nada tivesse acontecido.
Minha pele se arrepiou dos pés à cabe