Rahmi Dois dias longe da minha Pérola Negra e já estou tomado pela saudade. É inacreditável como não consigo mais viver sem essa mulher. Tenho que pedi-la em casamento logo, quero tê-la comigo para sempre. Não me importa se meus pais não aceitam nosso relacionamento, o que realmente importa é que eu a aceitei, que ela é minha desde o momento em que a vi, sambando e me deixando completamente louco. Eu sei que não estou bem. Meu corpo está coberto de hematomas e a febre voltou, mas nada disso importa agora. Preciso vê-la. Fui direto para o hotel, entrei no meu elevador particular, ansioso para abraçá-la. Mas, ao chegar no quarto, senti um frio na espinha. Estava vazio. As roupas dela, que deveriam estar no guarda-roupa, tinham sumido. O que aconteceu com o meu amor? Ela me prometeu que estaria aqui, esperando por mim. Por que não está? O aperto no peito só piorou quando vi uma carta sobre a cama. Peguei o envelope com mãos trêmulas, abrindo-o sem sequer prestar atenção em mais nad
Rahmi Acordei, estava em um quarto de hospital. O soro estava saindo de uma bolsa plástica transparente e entrando na minha veia. — O que aconteceu? — perguntei, ainda confuso. — Você desmaiou, meu irmão — respondeu Nathifa. Meus pais estavam ali, me observando, mas o ódio que eu sentia era tão intenso que não consegui encará-los. Nunca me senti assim em relação a eles antes, mas o que fizeram com a minha Rebeca foi imperdoável. O médico entrou com um exame de sangue e parecia preocupado, o que me deixou ainda mais ansioso. — Pensei que você pudesse estar com anemia. Sua irmã me disse que você vinha se sentindo fraco — disse o médico com seriedade. — Ele tem passado mal há algum tempo — confirmou Nathifa. — Sentia dores de cabeça, mas achava que não era nada grave. — Mas por que você não veio ao hospital assim que começou a passar mal, Rahmi? Por que não me procurou antes? — perguntou o médico, um tanto irritado. — Você deveria ter nos contado, meu filho! — exclamou minha mãe
Rahmi Só consigo pensar na Rebeca e na carta dela. Como ela pode dizer que não me amava? Sabemos que somos loucos um pelo outro. Meu amigo entrou no quarto, e pensei: “Pronto, todos já sabem que vou morrer.” Sorrio para ele, que parece já saber do meu estado, com um semblante muito triste. Ver todos ao meu redor tristes por minha causa só intensifica a minha dor. É horrível ver quem amamos sofrer. Estava exausto. A enfermeira entrou, parou ao lado da cama e falou de forma respeitosa, mas firme: — O doutor pediu para que todos fossem embora, pois você precisa descansar. — Eu não vou sair daqui, sou a acompanhante dele — respondeu Nathifa. — Ele vai dormir agora e só acordará amanhã. Os demais devem descansar e voltar amanhã. Não adianta ficar aqui. Acordei sentindo uma dor insuportável em todos os meus órgãos. Parecia que tudo estava se rasgando dentro de mim, e comecei a gritar. A enfermeira entrou no quarto, alertada pelos meus gritos, já que minha irmã tinha saído para com
Rebeca O impulso de ligar para Rahmi é constante. Está ali, latejando no fundo da minha mente, como uma necessidade sufocante. Mas basta lembrar das palavras cruéis da mãe dele para que meu dedo recue. A forma como ela me tratou, com desprezo e preconceito, ainda queima na memória. Foi mais do que um ataque verbal — foi uma tentativa de me apagar. E o pior? Nem mesmo Nathifa me procurou desde que deixei Istambul. Tenho quase certeza de que a mãe dela também interferiu, cortando qualquer laço que restava entre nós. Minha raiva não é apenas pelas palavras racistas e desrespeitosas, mas também por aquela quase agressão que presenciei. Por mais que eu tente manter a calma, a sensação de impotência me corrói. Pedi para Letícia que, se Rahmi ligar, diga apenas que não estou. Não tenho forças para enfrentá-lo. Já se passou um mês desde minha partida, e mesmo assim, a saudade dele e da Nathifa continua doendo. Não entendo por que ela se afastou. Nem tentei descobrir. Talvez por medo da r
Rebeca A viagem foi longa, e o cansaço pesava nos meus ombros, mas não consegui pensar em descanso. Assim que o avião pousou, dei instruções para que minhas malas fossem direto para o hotel. Eu não iria para lá. Meu destino era outro. Passei o endereço para o taxista, tentando controlar a ansiedade que me consumia a cada quilômetro percorrido. Quando o carro parou em frente ao hospital, meu coração acelerou com uma dor que ameaçava me destruir. Assim que saltei, avistei Nathifa me esperando na entrada. Os olhos dela estavam vermelhos e inchados. Assim que nos abraçamos, ela desabou em prantos. — Eu quero vê-lo agora mesmo — pedi com a voz firme, mesmo que por dentro estivesse desmoronando. — Amiga… ele está em coma. Não adianta. — Eu não me importo, Nathifa. Quero vê-lo. Preciso vê-lo — repeti, agarrando-me à única certeza que me restava: meu amor por ele. Ela assentiu com pesar. — Tudo bem. Vou falar com o médico para te deixar entrar. Por um momento, o silêncio entre nós fo
Rebeca A cama do hospital parecia ainda maior com ele tão magro e frágil, perdido entre os lençóis brancos. Como pode uma doença consumir tanto alguém em tão pouco tempo? O doutor, gentil e compreensivo, nos deixou a sós. Graças a Deus por ele. Vestida com a roupa apropriada, me deitei ao lado de Rahmi, abraçando seu corpo debilitado. Pude sentir seus ossos sob minha pele. Uma dor cortante me atravessou. Ainda assim, estar com ele era tudo o que eu mais queria. — Meu amor... que bom que você acordou. Eu estava perdendo a cabeça de tanto medo. — minha voz falhou. — Eu te amo. Amo tanto que dói. — Também te amo, loucamente... — ele sussurrou, com os olhos marejados. — Não sei mais viver sem você. — Não fale agora, meu turco. Você precisa de força. Teremos tempo, eu prometo. Vai dar tudo certo. Ficamos assim por alguns minutos, colados um no outro. Eu precisava daquele contato. Depois de tanto tempo afastada, nada me tiraria dos braços dele. O silêncio, porém, não durou. A porta s
Rebeca Dizem que todos merecem uma segunda chance e, sinceramente, eu queria acreditar nisso. A mãe de Rahmi cometeu um erro grave comigo, um que me fez chorar por dias. Mas ela me procurou, pediu perdão com lágrimas nos olhos, e eu vi ali o peso do arrependimento sincero. Perdoei. Não por ela, mas por ele. Rahmi é o amor da minha vida, e vê-lo em paz com a própria família é tudo o que eu desejo agora.Depois de um mês separados, finalmente ele estava voltando para casa. Minhas amigas já tinham voltado para o Brasil, e eu falava todos os dias com minha mãe por videochamada. Ela estava completamente apaixonada pelo neto que acabou de ganhar Pietro, o nosso pequeno milagre.Mas nem tudo era perfeito.Havia uma enfermeira. Jovem, bonita, sempre com um sorriso no rosto e mãos atenciosas demais. Eu tentava não surtar, mas era impossível ignorar a pontada incômoda de ciúmes que nascia toda vez que ela entrava no quarto dele. Eu sei, parece bobagem… Mas quem gosta de ver outra mulher cuid
Rebeca Alguém bateu na porta. A enfermeira.Levantei e abri com má vontade. Assim que ela entrou, me afastei um pouco, mas disparei:— Ah, a intrusa chegou.— Amor… — Rahmi suspirou, repreendendo com o olhar.— Tudo bem, tudo bem… Vou pedir um enfermeiro gostosão para cuidar de mim e você vai ver como é bom.Ele ficou sério, o maxilar travado. Voltei para a cama e o beijei, rindo da própria provocação.— Brincadeira, amor… Me desculpa.— Não gosto dessas brincadeiras, Rebeca.Enquanto a enfermeira media sua pressão, roubei outro beijo, olhando diretamente para ela. Que ficasse claro: ele era meu.Os dias passaram e, para meu alívio, Rahmi estava se recuperando muito bem. O turco já falava com mais clareza, estava de pé e até dispensaram a enfermeira. Com isso, seus pais decidiram preparar um jantar especial para celebrar sua melhora e, para minha surpresa (e pavor), também para agradecer à nora. Sim, eu.Quando soube disso, quase tive um ataque cardíaco. A ideia de passar uma noite s