O Turco e a Pintora
O Turco e a Pintora
Por: Aquino
Capítulo 1

Rahmi

Cheguei ao Brasil às oito da manhã para uma série de compromissos profissionais. Enquanto me preparava para minha primeira palestra, meus pensamentos vagavam pelos velhos tempos, me levando direto a Roberto. Não hesitei em procurá-lo. Sabia que ele ficaria feliz em me ver e, sinceramente, a ideia de passar esses dias sem alguém de confiança para me acompanhar me parecia insuportável.

Nos conhecemos na faculdade, em Istambul. Roberto era um verdadeiro prodígio ganhou uma bolsa para estudar Direito, enquanto eu cursava Arquitetura, bancado pelos meus pais. Eu nunca fui o mais dedicado, mas com esforço e influência familiar, me formei e tracei meu próprio caminho no mundo dos negócios. Ele, por outro lado, se tornou um advogado respeitado e, assim que terminou seus estudos, retornou ao Brasil para abrir seu próprio escritório no Rio de Janeiro.

Ao encontrar seu número no celular, liguei. Ele atendeu rapidamente e nossa conversa foi como se nunca tivéssemos nos afastado. Nos encontramos no mesmo dia e, em pouco tempo, já retomamos nossa velha dinâmica.

Passei três dias imerso no que o Rio de Janeiro tem de melhor a oferecer, sempre com Roberto como meu guia turístico. Apesar de não gostar de lugares barulhentos, aceitei seu convite para conhecer a Lapa. Não que eu apreciasse esse tipo de ambiente, mas estar ao lado de um velho amigo tornava tudo mais suportável.

Olhando para trás, vejo o quanto minha vida mudou desde que deixei a faculdade. Construí um império. Tornei-me um dos empresários mais poderosos do ramo hoteleiro. Bilionário. Influente. E, claro, desejado por mulheres do mundo inteiro.

Diferente dos homens da minha família, que seguem as tradições com devoção, sempre acreditei que as regras existem para serem quebradas. Meus pais, apesar de amorosos um com o outro, insistem que eu siga o caminho deles: casamento, filhos, uma vida estável ao lado de uma única mulher. Mas só de pensar nessa ideia, sinto-me sufocado.

Compromisso não é para mim. Nunca foi.

O sexo, sim.

Desde os quinze anos, descobri o poder que o prazer tem sobre mim. Virou um vício, um escape. Uma noite intensa é o que me relaxa, o que me mantém no controle. Algumas mulheres entendem isso. Outras tentam se iludir. No final, todas percebem que não há espaço para nada além do desejo.

E, claro, muitas tentaram me prender com promessas vazias, joguinhos, até mesmo o golpe da barriga. Nenhuma conseguiu. Sou cuidadoso demais para cair em armadilhas. Meu foco é o meu império, a minha liberdade.

E aqui, no Rio de Janeiro, não será diferente.

Esta cidade tem promessas de prazer e intensidade.

E eu pretendo aproveitá-las.

Desde criança, eu fazia meus pais perderem a paciência sempre que me levavam para escolher brinquedos. Enquanto outras crianças corriam atrás de carrinhos ou bonecos, eu me perdia entre os blocos de montar. Mais tarde, minha obsessão virou os Legos. Desenhava casas, prédios, ruas, e depois construía maquetes detalhadas. Era mais do que diversão era um vislumbre do que eu me tornaria.

Hoje, sou dono de uma das maiores redes de hotéis de luxo da Turquia. Viajo pelo mundo dando palestras sobre minha trajetória e ensinando outros a transformar ambição em sucesso. Meu império cresceu rápido, mas nunca cometi o erro que arruinou tantos empresários: achar que poderia delegar tudo sem supervisão.

A cada poucos meses, visito pessoalmente cada um dos meus hotéis. Não importa quantos gerentes competentes eu tenha, nada substitui o olhar de quem construiu tudo do zero. Vi impérios desmoronarem porque seus donos se acomodaram. Eu nunca deixaria isso acontecer comigo.

Claro, a falência nunca seria um problema real para mim. Meus pais são absurdamente ricos, donos de fábricas de tecidos que atravessaram gerações. Mas não me contento em viver à sombra da fortuna deles. Meu império é meu, e nada me dá mais prazer do que saber que conquistei tudo sozinho.

Agora, estou no Rio de Janeiro, pronto para mais uma rodada de palestras. Sou conhecido como o homem mais jovem e rico de Istambul, e cada palavra que digo nesses eventos é absorvida por centenas de jovens que sonham em alcançar o que eu tenho.

Ao entrar no auditório, minha atenção foi imediatamente capturada pelo público. O salão estava lotado, os rostos atentos, ansiosos pelo que eu tinha a dizer.

Sabia que muitos ali não tiveram as mesmas oportunidades que eu. Meus pais pagaram minha educação sem questionar. Muitos daqueles jovens provavelmente tiveram que lutar por cada oportunidade. Isso me fazia sentir um misto de responsabilidade e desconforto.

Não gosto da ideia de parecer um milionário privilegiado que finge entender o que significa lutar para sair do zero. Mas ao mesmo tempo, eu sabia que minha história não era apenas sobre dinheiro herdado. Trabalhei sem descanso, aprendi tudo o que podia, me dediquei mais do que qualquer um.

O sucesso não cai no colo de ninguém.

E eu queria que eles soubessem disso.

As palestras do dia foram um sucesso. Retornei ao hotel por volta das sete da noite, sem tempo para descansar. Roberto, meu velho amigo, já estava a caminho para me buscar.

Tomei um banho rápido, escolhi uma roupa leve e, antes que me desse conta, já estava no elevador, descendo para encontrá-lo.

— Pronto para conhecer o melhor lugar do Rio de Janeiro? — ele perguntou, sorrindo.

— Desde que não seja muito barulhento… — respondi, já prevendo o desastre.

— Não seja ranzinza, garanto que você vai se divertir — zombou.

Minutos depois, chegamos à Lapa.

O lugar estava abarrotado, um verdadeiro caos. Música alta, pessoas rindo, corpos se movendo por todos os lados. Eu sabia que isso ia acontecer. Não foi surpresa quando começamos a chamar atenção enquanto abríamos caminho pela multidão. As mulheres acenavam e sorriam. Roberto, sempre o galanteador, retribuía cada olhar.

— Que merda! — resmunguei. — Lugar tranquilo, né, Roberto?

Ele riu, malicioso.

— Lembra quando você me sacaneou, me levando para aquele bar na Turquia onde os caras dançavam de saia?

Revirei os olhos.

— Claro que lembro. Aquilo foi hilário.

— Pois é. Agora te trouxe para um lugar barulhento. Estamos quites.

Bufei, mas segui em frente.

— Tá bom, vamos logo. Sua noiva já deve ter te mandado mil mensagens.

— E o pegador se amarrou mesmo? — provoquei.

— E daqui a pouco será você também — ele retrucou, com um sorriso debochado. — Fiquei sabendo que seus pais estão te pressionando para casar.

Fiz uma careta.

— Ah, vai se ferrar! Ainda não sou noivo, e nem conheço minha noiva.

— Isso é só questão de tempo. O homem mais galinha que eu já conheci vai casar com alguém que nem viu na vida. Só vendo para crer!

Senti a paciência se esgotar.

— Deixa meus pais e essa noiva pra lá. Já basta esse barulho infernal!

Roberto riu e seguiu em frente, mas eu não conseguia ignorar o peso das suas palavras.

A verdade era que meus pais não desistiam dessa ideia. No meu mundo, casamento não era apenas uma escolha era um acordo, uma fusão de interesses, uma forma de manter a linhagem e o poder da família.

E se eu não tomasse as rédeas da minha própria vida, em breve estaria preso em um compromisso que nunca quis.

Mas naquela noite, o único compromisso que eu queria era com uma boa bebida e, talvez, com uma mulher disposta a me ajudar a esquecer o peso da tradição.

O som alto reverberava pelo chão, subindo pelas paredes do pequeno bar onde a noiva de Roberto nos esperava. Assim que nos aproximamos, ele a beijou e me apresentou. Era uma loira de olhos azuis, muito bonita, mas não parecia o tipo dele ou talvez o problema fosse eu, que não via Roberto como um homem capaz de se amarrar a uma única mulher.

Ela sorriu educadamente e, sem perder tempo, se juntou às outras pessoas na pista de dança.

Observei o ambiente com ceticismo. O lugar era pequeno e abafado, sem ar-condicionado, apenas grandes janelas abertas para deixar o ar circular. A pista de dança parecia mais um corredor apertado, com corpos se espremendo ao ritmo da música. O balcão de bebidas era o único refúgio viável, cercado por poucas mesas ocupadas.

         Por Allá, onde fui me meter?

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