Rahmi
A música era alta demais, misturando-se ao barulho da rua, às conversas da calçada e ao trânsito. E como se isso não fosse suficiente, um outro bar ao lado tocava música ao vivo, criando uma cacofonia insuportável. — Isso aqui é pior do que lá fora. Que inferno! — resmunguei, cruzando os braços. Roberto riu, divertido. — Você tá pior que um velho rabugento. Vou buscar uma bebida pra você relaxar. Lancei-lhe um olhar descrente. — Você gosta de barulho, mas sei que nem curte esse lugar. Tá aqui só por causa da sua noiva. Ele me mostrou o dedo do meio antes de rir. — Vai se ferrar! Quer o de sempre? — Uísque duplo. Sem gelo. — Suspirei. Enquanto ele se afastava, chequei o relógio. Ainda era cedo, mas o bar já estava abarrotado. O calor grudava na pele, e para piorar, tocava samba. Definitivamente, esse não era meu tipo de ambiente. Ou pelo menos era o que eu achava, até que meus olhos pousaram nela. Uma mulher negra, alta e deslumbrante, dançava no meio da pista, completamente alheia ao caos ao seu redor. Ela era simplesmente perfeita. Seus lábios carnudos se curvavam em um sorriso hipnotizante enquanto seu corpo se movia com uma sensualidade natural, envolvente. A pele brilhava sob a luz difusa do bar, realçando suas curvas bem definidas. A cintura fina se acentuava ainda mais conforme ela girava, e o vestido colado realçava suas coxas grossas, o quadril desenhado e o bumbum arrebitado exatamente como eu gosto. E para completar, seus cabelos lisos e sedosos desciam até a cintura, um contraste perfeito com sua pele. Porra. Ela era a mulher mais linda que eu já vi. O mundo ao meu redor silenciou. Não havia mais barulho, música ou gente se esbarrando. Apenas ela. Cada movimento de quadril me fazia prender a respiração. Cada sorriso me fazia querer avançar e dizer algo, qualquer coisa, só para ver se a voz dela era tão viciante quanto sua dança. Olhei ao redor. Os outros homens também estavam olhando. Como não olhariam? A questão era: será que eu vou deixar algum deles chegar primeiro? A resposta veio imediatamente. Não. E se dependesse de mim, essa mulher sairia daqui comigo esta noite. Meus olhos estavam fixos nela. Era impossível não olhar. Havia algo na forma como se movia, no jeito que sua pele brilhava sob as luzes do bar, na confiança que exalava a cada giro. Seus quadris largos e seu corpo esbelto formavam a combinação perfeita, uma harmonia de curvas que desafiava qualquer lógica. Ela era exatamente do tamanho certo para mim alta, com cerca de 1,73m, o que tornaria um beijo inevitável… e sem esforço. Que droga. Desde quando comecei a me referir a uma mulher assim? Suspirei, balançando a cabeça, tentando afastar os pensamentos que começavam a tomar conta da minha mente. O barulho, o calor, as pessoas ao redor nada mais fazia sentido. Eu estava hipnotizado, preso na ideia de tê-la em minhas mãos. Roberto apareceu no momento certo, trazendo meu uísque. — Para quem você está olhando tanto? — Ele seguiu meu olhar e riu ao ver as mulheres dançando. — Parece que vai devorar alguém. — Apenas admirando a mulher mais linda desse lugar. — Espero que não esteja falando da minha noiva. — Ele arqueou a sobrancelha. — Camila está de calça vermelha e blusa branca. Revirei os olhos. — Por um momento, pensei que fosse o noivo da minha delícia. Roberto riu, mas eu continuei observando a pista. — Você deve confiar muito na sua noiva para deixá-la dançar desse jeito. Ele deu um gole na bebida antes de responder. — Para um relacionamento funcionar, tem que ser a dois, meu amigo. Então, sim, confio nela. Ele fez uma pausa, depois apontou o copo para mim. — Mas se tentar alguma coisa com ela, se considere um homem morto. Sorri, divertido. — Relaxa, não é ela que me interessa. Roberto estreitou os olhos. — Então quem? Limpei a garganta, sabendo que ele entenderia exatamente do que eu estava falando. — A amiga dela. Ele me lançou um olhar cínico e riu. — Nunca te vi com uma mulher negra antes. Só pode estar falando da Rebeca. O nome combinava com ela forte, marcante. — Exatamente. Ela é a mulher mais atraente que vi hoje. Roberto soltou um suspiro teatral. — Aquela ali parece mais seu tipo — ele apontou para uma loira que nos observava de longe. — Definitivamente não. Meu olhar voltou para Rebeca, e um desejo ainda mais intenso cresceu dentro de mim. — Por que diabos você nunca mencionou que tinha uma amiga assim? — Porque eu não fico apresentando as amigas da minha noiva, ainda mais a melhor amiga dela. — Ironia, não acha? Eu quase desisti de vir por causa do barulho. Agora agradeço por estar aqui. Roberto riu, mas logo sua expressão ficou séria. — Esquece essa ideia, Rahmi. Ela não é para você. — Desde quando você dita minhas regras? — Desde que sei que seus pais jamais aceitariam você se envolvendo com uma mulher negra. Eles são preconceituosos até com roupas, quanto mais com cor de pele. Senti uma pontada de irritação. — Eu não sou meus pais. — Mas sabe que, para eles, casamento é negócio, tradição. Você não pode simplesmente… — Eu disse que morreria feliz por essa mulher. Ele arregalou os olhos. — Você tá ficando maluco? Não respondi. Apenas continuei olhando para ela, completamente ciente de que já tinha tomado minha decisão. — Olha só — ele tentou mudar de assunto. — Aquela mulher de vestido cinza e olhos verdes está te devorando com os olhos. — Não me interessa. — Você tá realmente fissurado na Rebeca? — Totalmente. Ele suspirou, frustrado. — Ela não é qualquer uma, Rahmi. — Eu também não sou. — Você vai embora no domingo. Esquece isso. — Meu voo não tem nada a ver com o que eu quero esta noite. Roberto esfregou o rosto, exasperado. — Se você não me apresentar a ela, vou contar para a Camila tudo o que você fez em Istambul. Ele ficou tenso. — Você não teria coragem. — Testa pra ver. Seu maxilar travou. Por um instante, achei que ele fosse me mandar para o inferno. Mas então, ele levantou as mãos em rendição. — Você ganhou. Fez um gesto para as mulheres, que pararam de dançar e começaram a caminhar em nossa direção. Meu coração bateu mais forte. Hora do jogo começar.Rahmi As três mulheres se aproximavam, mas para mim, apenas uma existia. Cada passo que ela dava parecia um desfile, como se toda a boate tivesse parado para observá-la. Mas, na verdade, só eu estava hipnotizado. Se estivéssemos no deserto, ela seria minha miragem. Seus olhos encontraram os meus, e algo intenso aconteceu. Meu coração acelerou, e senti uma conexão inexplicável, como se meu corpo já soubesse o que queria antes mesmo de minha mente processar. Desviei o olhar, fechando os olhos por um segundo, tentando recuperar o controle. Mas era impossível. Quanto mais perto ela chegava, mais pensamentos impróprios tomavam conta da minha mente. — Rahmi, essa é Letícia… e essa é Rebeca — a voz de Roberto me tirou do transe. Me forcei a olhar para Letícia. Cabelos ruivos, corpo atlético. Bonita, mas sem o menor interesse por mim. O problema era que eu também não me importava. Meu olhar logo encontrou o único motivo para minha respiração estar irregular. Rebeca. Porra. Ela se ap
Rahmi Rebeca gemia sem parar, o corpo estremecendo sob minhas investidas até ser tomada por outro orgasmo arrebatador. Ofegante, virou-se para a janela, apoiando as mãos no vidro frio. Seus seios pressionados contra o reflexo enquanto sua pele suada brilhava sob a luz noturna. O contraste entre a cidade iluminada lá fora e a cena diante de mim era hipnotizante. Ela estava irresistível naquela posição. Levantei-me, deslizando os dedos por sua cintura, subindo até sua nuca. Enrolei os cabelos sedosos em minha mão e puxei de leve, apenas o suficiente para que seus olhos encontrassem os meus. A intensidade entre nós era quase palpável. Capturei seus lábios em um beijo faminto, enquanto a penetrava lentamente, sentindo cada centímetro da sua pele quente se moldar ao meu corpo. Rebeca gemeu contra minha boca, e cada som que escapava dela era música para os meus ouvidos. Aumentei o ritmo, dominado pelo desejo avassalador. O vidro embaçava com nossa respiração entrecortada, e o calor que n
Rahmi Rebeca estava visivelmente exausta, seu corpo relaxado contra o meu, mas sua presença ainda acendia algo em mim que eu não conseguia controlar. Nunca tive uma noite que não me deixasse saciado, mas com ela era diferente. Eu a queria mais. Sempre mais. Descansávamos no sofá quando a puxei suavemente para o banheiro. Sentei-a de costas para mim e comecei a lavar seus cabelos com calma, massageando o couro cabeludo e observando os cachos que se formavam sob meus dedos. O aroma do shampoo misturava-se ao perfume natural da sua pele, tornando aquele momento ainda mais íntimo. O banho foi breve, mas intenso. Depois de nos enxugarmos, a envolvi em uma toalha e a tomei nos braços, carregando-a até a cama. Deitei-me sobre ela, sentindo a excitação crescer novamente. — Você não cansa? — Rebeca brincou, os lábios curvados em um sorriso preguiçoso. — Por algum motivo, você me faz querer mais… — respondi com sinceridade, a voz rouca de desejo. Ela riu baixinho, mas seu estômago roncou,
Rebeca Estou deitada de olhos fechados, sentindo ainda no corpo os resquícios da noite intensa que tive. O calor dele, o cheiro amadeirado que ficou impregnado na minha pele e na fronha do travesseiro. Minha mente vagueia pelo furacão de homem que encontrei. O rosto dele era uma perdição – traços marcantes, um nariz afilado e aquela barba que me enlouqueceu. O toque dela na minha pele foi um pecado. Quando desceu entre minhas pernas… Deus! Ele sabia exatamente o que fazer. E não bastava ser gostoso, ainda tinha tatuagens. Vi quando ele ficou nu, e quase perdi o juízo. Eu amo tatuagem. Amo barba. Amo homens intensos. Aqueles olhos claros, penetrantes, cheios de mistério. A pele bronzeada, o corpo atlético, as mãos grandes e firmes… Um homem de verdade. E agora ele sumiu. Deixo a preguiça de lado e abro os olhos, esperando vê-lo ali, mas a cama está vazia. Me levanto depressa, atravesso o quarto e sigo para a sala do hotel. Nenhum sinal dele. Meu coração aperta. "Onde ele foi?"
Rebeca Me enrolei nas cobertas, tentando afastar a lembrança que insistia em me atormentar, mas era impossível. O desfecho do meu relacionamento com Adrian ainda era um fantasma que me assombrava, um corte profundo que eu me recusava a fingir que não doía. Doeu, sim. Mas mais do que a dor, existia o alívio. Porque se ainda estivesse com ele, estaria vivendo uma mentira, sendo traída sem nem ao menos perceber. Foram três anos da minha vida. Três longos anos acreditando que aquele canalha era o homem perfeito para mim. Adrian não era apenas meu namorado, era uma presença constante. Ele passava mais tempo na minha casa do que na dele, dividindo meus lençóis, meu café da manhã, minha rotina. Conheci sua família, me envolvi no seu mundo e, no final, tudo não passava de uma farsa bem montada. Naquela manhã específica, o dia parecia comum. Ele me beijou antes de eu sair, como sempre fazia, com seu sorriso sedutor e palavras doces, que agora sei que não significavam nada. Peguei o ônibus p
Rebeca Comi tanto que mal podia me mover. Exagerei na quantidade de comida, mas, sinceramente, quem resiste a uma sobremesa extra? Acariciei minha barriga, sentindo-a um pouco mais arredondada do que o normal. Nada alarmante. Eu sempre tive um metabolismo rápido e, além disso, me cuido. Caminhadas matinais, abdominais e uma visita ocasional à academia quando não invento uma desculpa elaborada como "preciso dar um tempo para meus músculos recuperarem do exercício intenso que fiz no mês passado". Prioridades, né? O toque do telefone interrompe meu breve devaneio. Atendo sem pressa, mantendo a voz firme e calma. — Boa tarde, senhora — diz uma mulher do outro lado da linha. O tom educado indica que deve ser a recepcionista do hotel. — Boa tarde. — Senhora, estou ligando para pedir desculpas. Um de nossos funcionários bateu à sua porta, mas não obteve resposta. Gostaria de saber se podemos retirar o café da manhã. Logo iniciaremos o serviço de almoço e a senhora pode pedir qualquer
Rebeca Aquele tarado! Ouvir o suspiro exasperado de Camila me diverte. Sei exatamente o que a irrita: minha falta de filtros ao narrar meus encontros. Mas, honestamente, eu não poderia me importar menos. — Respira, amiga. Vou contar tudo — provoco, sentando-me na cama do hotel luxuoso, ainda sentindo a adrenalina da noite passada. — E dessa vez, tem um detalhe especial: foi com um turco. — Não acredito! — Camila reclama, já prevendo o rumo da conversa. — Pois acredite. E digo mais, foi uma noite incrível. Esse homem tem um magnetismo diferente... Sei lá, algo nele me fez perder o controle. — Ah, sério isso? — ela murmura, desanimada. — Seríssimo. E, aliás, cadê a Letícia? Me coloca no viva-voz, quero que ela ouça também. Quem sabe isso a faça parar de sonhar com aquele chefe babaca e correr atrás de um Rahmi na vida. — Mulher, para de falar do tamanho do pau do turco! — Camila resmunga, mas faz o que peço. — Ah, minhas amigas, tamanho nunca foi problema. Já peguei caras enor
Rahmi Não consigo tirá-la da cabeça. Desde aquela noite, cada pensamento meu converge para ela, como se minha mente tivesse sido sequestrada pela lembrança do seu corpo colado ao meu, dos seus lábios me provocando, do olhar misterioso que me desmontou sem esforço. Já estive com outras mulheres desde então, buscando alguma fagulha que pudesse apagar o fogo que ela acendeu em mim, mas foi inútil. Nada se compara àquela noite. E isso me irrita. Eu, Rahmi, o homem que nunca se apega, que sempre soube separar prazer de sentimento, agora estou preso em uma obsessão que não sei como conter. Nunca pensei tanto em uma mulher antes. Nunca desejei tanto alguém ao ponto de perder o controle sobre mim mesmo. Minha Pérola Negra. Só de pensar nela, meu corpo reage, e isso é um problema. Estou me metendo numa enrascada da qual não posso sair ileso. Porque, por mais que a deseje, eu não posso tê-la. Não devo. Meus pais jamais aceitariam. Não apenas por ela ser negra, mas por ser brasileira. Eles