Naquela noite em Sant'Elisa, sufocante e carregada de eletricidade no ar, Gabriel e Valentina estavam frente a frente, o vento balançando as árvores ao redor do convento, como se até a natureza testemunhasse o que estava prestes a acontecer. Os olhos dele estavam fixos nos dela, cheios de frustração, desejo e algo que Valentina se recusava a nomear. — Você tem noção do que está fazendo comigo, Valentina? — A voz de Gabriel saiu rouca, carregada de sentimentos que ela fingia não perceber. O coração dela martelava tão forte que parecia querer escapar do peito. Tentou desviar o olhar, mas ele não permitiu. — Não sei do que está falando… — murmurou, mas sua voz falhou, e ela odiou como soou hesitante. Gabriel deu um passo à frente, diminuindo a distância entre os dois. O cheiro amadeirado dele a envolveu, e Valentina se odiou por reagir, por querer se perder na presença dele quando deveria se afastar. — Não sabe? — Ele ergueu uma sobrancelha, descrente. Com um toque delicado, segurou o queixo dela entre os dedos, forçando-a a encará-lo. — Você sente isso tanto quanto eu. Ela engoliu em seco. Claro que sentia. Era um fogo que a consumia lentamente, um desejo crescendo como algo inevitável, como um pecado já escrito muito antes de ela tentar evitá-lo. — Eu… — tentou falar, mas as palavras morreram quando Gabriel se inclinou um pouco mais. A respiração dele se misturou à dela, quente, intensa. Valentina fechou os olhos por um segundo, tentando encontrar forças para recuar. Mas então sentiu o toque hesitante dos lábios dele sobre os seus, como se desse a ela a chance de fugir. Ela não fugiu.
Leer másValentina acordou antes mesmo que os primeiros raios do sol invadissem os vitrais do convento. A luz suave das velas ainda iluminava os corredores frios e silenciosos, onde seus passos ecoavam discretamente. Era um novo dia, e como noviça recém-aceita, ela tinha uma lista de tarefas que lhe eram tanto um fardo quanto uma bênção.
Vestindo o hábito simples e amarrando o véu com cuidado. Valentina sentia o peso das escolhas que a haviam levado até ali. Aos 22 anos, ela havia deixado para trás um mundo cheio de incertezas e uma vida que, apesar de ser trágica, era cheia de perguntas sem respostas. Aqui, no convento de Sant’Elisa, acreditava ter encontrado paz, um propósito. No entanto, enquanto carregava um balde de água para o jardim, percebeu algo inquietante no fundo, de sua alma: uma leve sensação de que talvez houvesse algo mais à espera do lado de fora das altas paredes de pedra. O jardim do convento era um refúgio de serenidade. Rosas perfumadas, arbustos bem podados e um pequeno lago onde os peixes-dourados nadavam tranquilamente. Valentina adorava aquele lugar, mas, naquele dia, não conseguia se concentrar na tarefa. Suas mãos molhadas e frias agarravam o balde enquanto sua mente vagava. Foi então que o portão principal do convento se abriu de forma abrupta, quebrando o silêncio matinal. Valentina parou e olhou, surpresa, quando um homem alto, de terno impecável, atravessou o pátio com passos firmes. Ele carregava uma maleta de couro na mão e uma expressão que mesclava determinação e impaciência. Gabriel Moretti. O nome foi mencionado em murmúrios pelas freiras nos dias anteriores. Ele era o empresário da cidade grande, o homem que havia comprado os terrenos ao redor do convento e anunciado seu plano de transformar Sant’Elisa em um destino turístico com um luxuoso resort. Um plano que exigiria a demolição do convento que, há décadas, era o coração espiritual da comunidade. Valentina ficou paralisada por um momento, observando-o. Ele era diferente de qualquer pessoa que ela já havia visto. Alto, de cabelos escuros levemente desalinhados, com olhos que pareciam analisar tudo ao redor com uma intensidade avassaladora. Sua presença era esmagadora, como se o ar ao redor dele fosse mais denso. Sem perceber. Valentina apertou o balde em suas mãos. Gabriel caminhou direto para a entrada principal, mas, ao passar pelo jardim, sua atenção foi capturada por ela. Seus olhos se encontraram, e Valentina sentiu uma onda de calor subir pelo rosto. Ela desviou o olhar, mas podia sentir o peso do olhar dele, curioso e avaliador. “Com licença,” ele disse, sua voz baixa e grave, “você pode me indicar onde encontro a Madre Superiora?” Valentina hesitou. Não sabia como responder. O que aquele homem estava fazendo ali tão cedo? E por que parecia tão… inabalável? “Ela está ocupada agora,” respondeu, tentando manter a compostura. “Talvez você devesse voltar mais tarde.” Gabriel arqueou uma sobrancelha, claramente não acostumado a ser recusado. “Tenho assuntos urgentes. Pode avisá-la que estou aqui?” Antes que Valentina pudesse responder, Irmã Amélia apareceu, com sua expressão severa habitual. “O senhor não pode entrar sem autorização. Este é um lugar sagrado.” Gabriel não recuou. Na verdade, parecia até se divertir com a resistência. “Sagrado ou não, não estou aqui para violar nada. Apenas quero discutir os termos da negociação.” Valentina observava em silêncio enquanto Irmã Amélia defendia o convento com fervor. Mas, no fundo, ela sabia que Gabriel não era um homem que se deixava intimidar facilmente. Algo em sua postura, em seus gestos controlados, dizia que ele estava acostumado a vencer qualquer batalha. “Se precisar de mim, estarei na cidade,” disse Gabriel, finalmente, lançando um último olhar para Valentina antes de sair pelo portão. Quando ele desapareceu. Valentina percebeu que estava segurando a respiração. O restante do dia foi um borrão de tarefas e reflexões. As freiras comentavam com preocupação sobre o impacto que o resort poderia ter na cidade e, principalmente, no convento. Mas Valentina não conseguia esquecer o olhar de Gabriel. Naquela noite, durante as orações, enquanto todas as outras noviças recitavam hinos. Valentina se pegou pensando no homem que havia cruzado o jardim mais cedo. Ele parecia tão… determinado, tão diferente do que ela estava acostumada a encontrar ali. Havia algo nele que a intrigava, e isso a incomodava profundamente. Ao mesmo tempo, Gabriel, no quarto do hotel mais caro da cidade, revisava contratos e plantas arquitetônicas. Mas, por mais que tentasse se concentrar, sua mente voltava à imagem daquela jovem no jardim. A simplicidade dela o perturbava de uma forma que ele não conseguia explicar. Era só o começo de algo que nenhum dos dois conseguia controlar, mas ambos já sentiam. Quando Valentina se deitou naquela noite, o rosto de Gabriel cruzou sua mente pela última vez antes de fechar os olhos. E, em outro ponto da cidade, Gabriel sorriu ao lembrar dos olhos dela, tão brilhantes e desafiadores. Sant’Elisa nunca mais seria a mesma, e nem eles.A cidade agora pertencia a ela.Cada rua, cada esquina, cada olhar de respeito – ou de medo – era um lembrete de que Valentina havia vencido.Prefeita.Esposa.Rainha.E ao seu lado, Gabriel, o homem que a amava com a mesma intensidade que a dominava.Mas quem realmente estava no controle agora?A Mulher Mais Poderosa da CidadeA primeira manhã como prefeita e esposa chegou com um céu cinzento.Do seu escritório no prédio mais alto da cidade, Valentina observava a paisagem.Lá embaixo, o trânsito se movia como formigas incansáveis.Ela tomou um gole de seu café e cruzou as pernas, a seda do vestido vermelho escorrendo por sua pele.Atrás dela, Gabriel a observava em silêncio.Ele estava encostado no batente da porta, apenas de calça social, o peito nu marcado por cicatrizes e desejo.— A cidade está aos seus pés. — A voz dele soou como um ronronar predatório.
A cidade inteira falava sobre o casamento.Não era apenas um evento social.Era um marco.Valentina, a prefeita implacável, e Gabriel, o homem que voltou dos mortos, estavam selando seu destino juntos.E todos queriam ver.O Casamento do Século.O convite era exclusivo. Apenas os mais poderosos, os mais influentes, aqueles que realmente importavam, foram chamados. Empresários, políticos, magnatas da mídia.Todos reunidos para testemunhar a união de dois predadores.Mas o que ninguém sabia era que aquele casamento não era apenas sobre amor.Era uma coroação.A consagração do casal mais perigoso da cidade.O Grande DiaA igreja estava repleta. O teto abobadado, os lustres de cristal brilhando, a música clássica preenchendo o ambiente com uma grandiosidade que fazia até os mais poderosos se sentirem pequenos.Valentina entrou vestida em um Vera Wang exclusivo, um vestido
A noite pairava sobre a cidade como um manto pesado, carregado de promessas sombrias. O vento frio cortava as ruas desertas, e dentro do apartamento luxuoso, Gabriel e Valentina arquitetavam a queda de um inimigo comum.Leonardo não podia mais escapar.Valentina, agora prefeita, tinha influência suficiente para derrubar qualquer um. E Gabriel, mesmo após meses em coma, não havia perdido sua essência predadora. Se antes Leonardo era apenas um obstáculo em seus caminhos, agora ele se tornara o alvo de uma caçada.Valentina serviu uma taça de vinho para Gabriel e sentou-se à sua frente.— Ele está acuado. Já perdeu contratos importantes e está sendo investigado por corrupção.Gabriel girou a taça em mãos, observando o líquido rubro como se refletisse o destino de seu inimigo.— Não quero apenas arruiná-lo. Quero vê-lo rastejar. Quero que ele sinta o peso do medo antes do fim.Valentina sorriu, levando a taça aos lábios.
O desejo os consumia como um incêndio incontrolável.Gabriel não conseguia mais lutar contra a atração que o puxava para Valentina. O corpo dela era um labirinto que ele já conhecia, mesmo sem lembrar exatamente como. O perfume, o calor da pele, o gosto… tudo era familiar.E isso o deixava louco.Porque se sentia conectado a algo que sua mente insistia em negar.Eles estavam na cama, os corpos entrelaçados, a respiração descompassada. Valentina deslizava os dedos pelo peito dele, enquanto Gabriel segurava sua cintura possessivamente.— Você se entrega a mim sem nem perceber, Gabriel. — Ela sussurrou contra seus lábios.Ele fechou os olhos por um momento, tentando ignorar a sensação avassaladora que ela despertava nele.Mas então…Flashes.Um soco.Alguém gritando.Seu próprio sangue quente escorrendo pelo rosto.Gabriel se afastou bruscamente, os olhos arregalados.— O que foi? — Valentina perguntou, sentando-se na cama, a respiração ainda acelerada.Gabriel passou a mão pelo rosto, a
A atração era inegável.Desde o momento em que Valentina o beijara, Gabriel sentia um fogo crescendo dentro dele, algo que não conseguia explicar, mas que o consumia por dentro.Seu corpo reagia antes da mente. Seus dedos ansiavam por tocá-la. Seu coração disparava sempre que ela se aproximava. E seus sonhos…Ah, os sonhos.Eles estavam se tornando cada vez mais vívidos. Pele contra pele. Gemidos abafados. Unhas cravadas nas costas.O corpo dela tremendo sob o seu.Ele acordava suado, o peito subindo e descendo pesadamente.O pior? Ele não sabia se eram lembranças ou apenas desejos reprimidos.---Valentina percebia cada detalhe.O modo como os olhos dele seguiam seus movimentos.A forma como ele prendia a respiração sempre que ela ficava perto demais.O desejo bruto que ardia por trás da confusão em seu olhar.Ela sorriu. Estava ganhando.
O apartamento estava mergulhado em um silêncio inquietante. Gabriel olhava ao redor, sentindo uma familiaridade estranha com aquele lugar. Algo dentro dele sussurrava que já havia estado ali antes, mas sua mente ainda era um labirinto de sombras. Valentina, por outro lado, não aceitaria a distância. Ela se aproximou lentamente, o salto ecoando pelo piso de mármore. Vestia um vestido preto justo, elegante, mas sedutor. Cada detalhe daquela noite havia sido planejado para despertar Gabriel. — Você se sente em casa? — ela perguntou, a voz suave, quase um sussurro. Gabriel apertou a mandíbula. — Eu não sei. Valentina sorriu. — Então, deixe-me te ajudar a lembrar. Ela pegou a mão dele e o guiou pelo apartamento. Cada cômodo trazia um pedaço de uma história que ele não lembrava, mas que o corpo parecia conhecer. O sofá onde, certa vez, ele a deitou e arran
Último capítulo