Depois dos cumprimentos e lágrimas. Evelyn foi conduzida para um dos quartos de hóspedes. O requinte e o luxo do ambiente contrastavam com seu vestido preto de algodão. Sobre a cama, repousava um vestido igualmente preto, lindíssimo e aparentemente muito caro. Ao tocá-lo, sentiu a maciez da seda. O tecido era tão fino que ela temeu danificá-lo com suas mãos ásperas, calejadas de tanto varrer o chão e torcer panos na lanchonete.A mãe de Donovan informou que haveria uma cerimônia no mausoléu da família, reservada apenas para parentes e amigos mais próximos. Evelyn procurou sua mala e a encontrou sobre uma cadeira. Mais uma vez, comparou sua bagagem simples com o ambiente ao redor e constatou como destoava daquele lugar.Mal terminou de lavar o rosto e passar um batom rosado nos lábios, uma batida suave na porta interrompeu seus pensamentos. Deixando o batom na pia do banheiro, foi atender. Do outro lado, um homem de aproximadamente sessenta anos, vestido com um unifo
A condessa olhava fixamente para Evelyn, os olhos marejados brilhando sob a luz suave do abajur. Com um gesto hesitante, segurou as mãos da jovem, sentindo o leve tremor que as percorria. A respiração lhe ficou presa na garganta. Fitava os olhos de Evelyn como se quisesse confirmar, nas profundezas deles, que era mesmo verdade.O silêncio no quarto pesava como um véu de incerteza, até que a condessa murmurou:— Grávida... — repetiu, como se precisasse ouvir a palavra em voz alta para acreditar.As lágrimas deslizaram por seu rosto, mas não era apenas felicidade. Havia algo mais — um toque de arrependimento, uma sombra do passado voltando a assombrá-la. Lentamente, sua mão se moveu, pousando sobre o ventre de Evelyn. Fechou os olhos por um breve momento e, num murmúrio quase imperceptível, sussurrou:— Me perdoe...Me perdoe? Repetiu, Evelyn, mentalmente. Franziu levemente a testa, sem entender completamente aquelas palavras. Mas antes que pudesse perguntar, o con
Ao descer para a sala de chá, o conde foi direto ao carrinho de bebidas, servindo-se de uma dose de uísque.Reginald o observou e comentou:— Henry, sabes que não podes beber. A sua pressão...Henry deu de ombros, com um meio sorriso cínico.— Só alguns goles não vão me matar, Reginald.— Se quiser correr o risco… — retrucou o irmão, seco. — E está tudo certo com a viúva de Donovan? Algum problema de saúde?Henry virou-se devagar, saboreando o momento. Seu sorriso se alargou, carregado de sarcasmo.— Evelyn está ótima. Mais do que isso — está grávida. Uma bênção inesperada, não acha? Finalmente, um herdeiro direto.Deu um gole demorado, antes de completar:— Posso finalmente parar de me preocupar com o futuro. Agora é só nomear um conselho, manter a engrenagem funcionando... até que o pequeno esteja pronto para ocupar seu lugar de direito.Colocou o copo de volta no carrinho de bebidas com um estalo leve, como um ponto final. E, com aquele mesmo sorriso frio, despedi
Desde a noite em que revelou sua gravidez, Evelyn não tinha mais visto Reginald. Já se passavam duas semanas. E, por mais que tentasse não pensar nisso, a ausência dele era um vazio inquieto. Justificava para si mesma que era apenas pela semelhança com Donovan — os olhos idênticos, o modo como erguiam a sobrancelha quando contrariados, a forma como caminhavam com elegância distraída. Mas, no fundo, sabia que era mais do que isso.Era um misto confuso de saudade, raiva e rejeição. Evelyn oscilava entre a mágoa de ter sido ignorada e o alívio de não ter de lidar com o desprezo silencioso de Reginald. Às vezes, sonhava com ele — não como ele era agora, frio e distante, mas como nos primeiros dias, quando seu olhar parecia curioso, talvez até gentil. Depois acordava aflita, com a sensação de que havia se perdido em um labirinto emocional sem saída.Nos jantares formais organizados pelos sogros, onde era apresentada a parentes e acionistas da empresa, Evelyn sentia-se como uma peça fora do
A manhã nasceu com cheiro de decisão. Evelyn olhava pela janela do quarto, sentindo no rosto o toque leve do sol. Apesar da acolhida calorosa na mansão dos sogros, ela precisava de mais. Não apenas espaço, mas autonomia. Independência. Algo que refletisse quem ela era — não quem esperavam que fosse.Na sala de estar, com as mãos pousadas sobre o ventre ainda discreto, Evelyn falou com firmeza: — Eu não tenho do que reclamar, de verdade. Vocês foram maravilhosos comigo. Mas eu preciso de privacidade, de liberdade para tomar as rédeas da minha vida. De um espaço só meu.Cecil, com o rosto materno um tanto aflito, tentou disfarçar a decepção.— Mas, minha querida, e o bebê? Você não deveria enfrentar isso sozinha...Henry se adiantou, franzindo o cenho.— Você terá ajuda aqui. Segurança. Conforto.— Eu sei — respondeu ela, a voz embargada. — Mas também preciso respirar, fazer minhas escolhas. Quero criar meu filho com dignidade, não como uma hóspede eterna.A tensão cresceu no ambiente. A
Evelyn entrou no salão como se o mundo tivesse dado uma pausa para admirá-la. O vestido verde-esmeralda abraçava seu corpo com leveza, destacando o brilho natural dos seus olhos e o tom rosado que a gravidez lhe dava. Cabelos presos num coque elegante, com algumas mechas soltas emoldurando o rosto — ela tinha a beleza serena de uma manhã tranquilaOs convidados já circulavam com taças nas mãos, as vozes se cruzavam num burburinho elegante, e o aroma de flores recém-colhidas se misturava ao perfume refinado que pairava no ar. A mansão dos sogros, iluminada em tons quentes, parecia ainda mais imponente naquela noite, em homenagem aos 90 anos de Henrietta, a matriarca da família.A mãe da condessa, uma mulher de olhos alegres e um charme cativante, encantou Evelyn logo ao primeiro sorriso. Assim que a viu, Henrietta abriu os braços com doçura, acolhendo-a num abraço caloroso, daqueles que parecem durar mais do que o tempo. Com um brilho emocionado no olhar, passou a mão com carinho sobre
O restaurante à beira do lago exalava charme e sofisticação. O veludo das cadeiras, o jazz francês suave preenchendo o ambiente e os garçons discretos criavam uma atmosfera íntima e acolhedora — como se aquele espaço existisse apenas para encontros memoráveis. As pérgolas cobertas de flores pendentes acrescentavam um toque de sonho, fazendo tudo parecer saído de uma pintura viva.Evelyn entrou com o coração acelerado. A ansiedade não era só pelo encontro, mas pela própria elegância do lugar. Tinha crescido sem luxo, e por mais que apreciasse a beleza ao redor, aquele cenário a fazia lembrar de Donovan, que jamais a levara a lugares assim. Sentia-se um pouco deslocada... até que viu Damián.Ele já a aguardava, e quando a viu entrar, levantou-se imediatamente. O sorriso foi caloroso, sincero. Trazia nas mãos um buquê de rosas cor de champanhe.— São delicadas, como você — disse ele, estendendo as flores. — E têm a cor da paz que sinto ao seu lado.Evelyn ficou tocad
A sala privativa da clínica exalava conforto e discrição, com sofás de linho claro, arranjos florais frescos e uma música ambiente suave preenchendo o espaço. Evelyn apertava as mãos no colo enquanto esperava ser chamada, tentando conter a ansiedade. Estava nervosa para saber o sexo do bebê e queria ouvir do médico que seu filho estava bem. Ao seu lado, sentada com postura impecável e olhos ternos, estava sua sogra, a condessa. A presença dela era reconfortante. A cada dia, a relação entre as duas se estreitara. Havia carinho, havia apoio — e, naquele momento, havia uma silenciosa aliança entre duas mulheres que carregavam muito mais do que títulos nobres.Mas então, algo inesperado aconteceu.Ao olhar para a porta da recepção, Evelyn viu Reginald. Ele estava ali. Alto, imponente, vestindo um paletó escuro e com aquele olhar sempre indecifrável. Evelyn ficou estática por um momento, tomada por uma mistura de surpresa e emoção. Por mais que ele tentasse se manter afastado, aquela presen