A porta fechou-se com um baque que ecoou no coração de Evelyn. Ela deslizou as costas por ela até o chão, os olhos já sem força para derramar mais lágrimas. Ela segurava o celular entre os dedos como se queimasse. A imagem... aquele abraço... aquela legenda cruel. E, pior do que tudo, a incerteza. Não era a traição que doía — era a dúvida que a corroía.— Mentira... tudo mentira... — sussurrou para o vazio, enrolando os braços em volta do próprio corpo, como se pudesse se proteger da dor. Mas a dúvida era um veneno lento. E se fosse verdade?Do lado de fora, Reginald dirigia sem rumo, com os punhos cerrados no volante. Cada palavra de Evelyn rasgava como navalha.Ele não podia culpá-la. As provas estavam todas contra ele. Veronica, mais uma vez, acertava o alvo, mas dessa vez com requinta maestria.Reginald precisava respirar. Precisava pensar. Mas tudo o que conseguia era gritar sozinho no carro, socando o volante: — Por que não me ouviu?Enquanto isso, em um
Com a quinta dose deslizando garganta abaixo, Reginald parecia beber mais do que uísque. A cabeça pesava, o mundo girava em torno dele, e as pernas vacilavam — mas ele não parava. Bebia para anestesiar a derrota, para sufocar a impotência que lhe corroía por dentro. Desta vez, não era pelo cargo. Ele queria ser o presidente do conselho por Evelyn — por amor — e por Oliver, para garantir que o menino tivesse um futuro seguro, longe das garras daqueles que transformavam tudo em disputa. Sonhava em manter o comando da empresa até que Oliver crescesse..., mas agora, esse anseio parecia escapar por entre os dedos, distante como uma miragem.Reginald não aguentou mais estar no mesmo ambiente que Evelyn, sem poder tocá-la, sem poder demonstrar o que sentia. Como ela estava linda, mais madura, mais dona de si. A maternidade a tinha deixado ainda mais perfeita, como se o tempo apenas tivesse aprimorado a beleza e a força dela. Mas a culpa de tudo isso era de Henry. Sempre Henry.
A luz filtrava-se pelas grandes janelas do apartamento de Evelyn, banhando o ambiente com tons suaves de ouro pálido. Era uma manhã de aparência tranquila, mas por dentro, Evelyn sentia uma tempestade silenciosa. A decoração impecável, que antes representava conquista e segurança, agora apenas ampliava a solidão. Andava em passos lentos pela sala, segurando uma xícara de café vazia, os olhos fixos em nada — como se procurasse respostas nos cantos da memória.Passava os dedos pelo encosto do sofá, depois pelo travesseiro intacto do quarto de visitas. Cada objeto parecia carregar uma lembrança, uma ausência. Seu filho, agora o futuro presidente da Ashbourne, era uma fonte de orgulho, mas também de preocupação. Estava tudo indo depressa demais. E Reginald…O nome dele ainda pulsava nela como uma ferida mal cicatrizada — e, ao mesmo tempo, como uma esperança teimosa. Quando o celular vibrou e o nome dele apareceu na tela, seu coração acelerou. Pensou em ignorar. M
Reginald acordou com água escorrendo pelo rosto, o frio latejando em sua pele como agulhas de gelo. Piscou algumas vezes, tentando entender onde estava. A luz que anunciava o fim da manhã penetrava por entre as copas das árvores e iluminava parcialmente o rosto de Damián, que o observava com um sorriso triunfante. Mas havia algo nos olhos dele — um leve tremor, uma hesitação escondida sob a máscara de arrogância.— Finalmente acordou, lorde miserável... — murmurou Damián, puxando-o brutalmente pelos cabelos, forçando-o a ficar de joelhos no chão úmido. A arma de fogo pressionada contra sua têmpora com força, e dois brutamontes o vigiavam a poucos passos, imóveis como estátuas sombrias.Reginald tentou reagir, mas as mãos estavam presas com lacres de plástico. O gosto metálico do sangue invadia sua boca, oriundo de um corte no lábio inferior. Sentia também um leve latejar na nuca — provavelmente fora nocauteado antes de acordar ali.O local onde eles se enco
Uma força invisível não quis que Reginald morresse. Talvez o acaso, ou quem sabe o destino, o tenha favorecido naquele instante em que decidiu guardar o canivete no bolso de trás da calça. Foi esse pequeno gesto que lhe deu uma chance. Quando tudo parecia perdido, conseguiu escapar. Vagou pela mata, exausto, faminto, o corpo machucado, mas a mente fixa em sobreviver. Até que um motorista passou pela estrada e, sem fazer perguntas, lhe ofereceu carona. Apenas ajudou. E isso bastou.Ao chegar à mansão, Reginald entrou pelos fundos, os passos trêmulos, o corpo à beira do colapso. Diante do quarto onde Geoffrey estava abrigado, desmaiou. Quando acordou, já estava deitado na cama que antes pertencia a Geoffrey. Estava coberto, limpo e com água ao lado. Os dias seguintes foram de recuperação. A febre cedeu, as forças começaram a retornar. Cada refeição era um passo de volta à vida.No apartamento, os dias de Evelyn passavam em silêncio. Dias em que até o som do vento parecia
Evelyn aprendeu cedo que o mundo não oferece garantias — apenas escolhas difíceis e silêncios que gritam. Órfã desde a infância, ela carregava no peito a solidão como uma segunda pele. Trabalhava incansavelmente em uma lanchonete na cidade, servindo cafés e hambúrgueres para clientes que nunca olhavam duas vezes. À noite, estudava com a luz fraca de uma lâmpada emprestada e dormia em um quarto minúsculo, cujas paredes finas não abafavam os sons alheios. Então, em um dia de chuva, conheceu Donovan.Ele começou a frequentar a lanchonete, aparecia sempre ao final do expediente, com seu capacete sujo de poeira e um sorriso que parecia pertencer a um mundo melhor. Os encontros começaram com trocas tímidas de palavras. Depois vieram os cafés divididos, os risos fáceis, e por fim, os beijos escondidos nos becos iluminados apenas pela lua. Evelyn se apaixonou com a entrega desesperada de quem já não acreditava que aquilo fosse possível. Donovan era o único farol em sua escuridão constante.Ca
"O FUTURO ÀS VEZES CHEGA DISFARÇADO: DE CAFÉ OU DE SORRISO" C.R.SANTOS Evelyn acordou com a chuva forte batendo na janela do pequeno quarto que alugava no subúrbio de Bell Buckle, no Tennessee. Olhou as horas no pequeno relógio da mesa de cabeceira e percebeu que ainda faltava meia hora para se levantar, mas já não conseguia mais dormir. Levantou-se e foi tomar um banho.Uma hora depois, estava dentro do trem a caminho do Daisy's, uma charmosa lanchonete com estilo anos oitenta, onde trabalhava. Olhando pela janela, avistou uma mulher com duas crianças caminhando pela calçada. O grande guarda-chuva protegia os três. A menina mais nova carregava uma mochila rosa nas costas, o objeto parecia maior que ela, deixando-a um pouco curvada para frente. Órfã de pai e mãe, Evelyn nunca conheceu aquela sensação de proteção que toda mãe deveria ter po
Eram quase oito e meia da manhã quando Donavan despertou. O calor do corpo de Evelyn ainda envolvia seus sentidos, e a lembrança da noite maravilhosa de amor o fez sorrir. Há muito tempo não sentia aquela mistura de liberdade e autonomia. Com cuidado para não acordá-la, saiu da cama, calçou os chinelos e vestiu o roupão. Antes de sair do quarto, ficou ali, parado, admirando-a. Evelyn dormia tranquilamente, sua respiração suave, os fios de cabelo espalhados pelo travesseiro. Uma pontada no estômago o atingiu. O peso do passado sempre voltava, e ele se condenava por não ter contado toda a verdade a ela.— Espero que um dia você me perdoe, minha Evelyn... Queria ter te conhecido antes das decisões que tomei — sussurrou, sua voz carregada de arrependimento.Seguiu para a cozinha, sentindo falta dos cafés da manhã londrinos. Por mais que quisesse esquecer sua vida passada, certos hábitos eram difíceis de abandonar.Enquanto preparava o café, Evelyn acordou ao escu