Érico
— O que que é, garota? Tá louca? — eu falei, tentando manter a calma, mas minha voz saiu mais ríspida do que eu queria.
Ela parou, as mãos nos quadris, o peito subindo e descendo como se tivesse corrido uma maratona.
— Foi você, né? — ela disparou, sem nem respirar.
— O quê? — eu franzi a testa, sem entender porra nenhuma.
— Que ficou com ela na festa e não se protegeu — ela cuspiu as palavras como se fosse um crime.
Eu fiquei meio tonto, confuso.
— Que festa? Do que você tá falando? — eu perguntei, cruzando os braços.
Ela chegou mais perto, o dedo em riste, como se fosse me fuzilar.
— Essa criança que ela tá esperando pode ser sua, sabia? Vai deixar ela tirar? — a voz dela estava tão firme que parecia uma sentença.
Eu fiquei em silêncio por um segundo. O coração disparou, mas a cabeça não acompanhava.
— Como assim? A garota ficou comigo uma vez só — eu falei, tentando processar. — Quem garante que é meu?
Ela bufou, balançando a cabeça.
— Então você acha que é assim? Fode e vai embora? — ela cuspiu.
— Eu não sei nem do que você tá falando! — eu rebati, o sangue começando a ferver.
— Foi só uma vez, mas agora é uma vida. Você vai virar as costas? — ela me olhou de cima a baixo, como se fosse me despir com os olhos.
Eu não respondi.
Não porque eu não quisesse, mas porque eu não sabia o que dizer.
O que eu sentia era um peso no peito, como se alguém tivesse socado meu estômago.
Mas eu não podia ceder. Não podia.
— Eu não tenho nada a ver com isso — eu disse, mais pra mim mesmo do que pra ela.
Ela balançou a cabeça, com um sorriso amargo.
— Você tem tudo a ver com isso. Você só não quer admitir.
E antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, ela virou as costas e voltou correndo pro bar. Eu fiquei ali, parado, olhando pra rua vazia e sentindo o vento gelado bater no rosto.
Eu segui andando, como se nada tivesse acontecido.
Mas no caminho pra casa, aquilo não saía da minha cabeça.
Cheguei no apartamento e fui direto pro chuveiro. A água quente batendo nas costas, mas a cabeça ainda fervendo.
Me vesti, fui pra cozinha, preparei um café forte, o cheiro me ajudando a manter a sanidade. Mas cada gole só me fazia lembrar das palavras dela.
“Essa criança pode ser sua.”
“Vai deixar ela tirar?”
Eu fiquei sentado na mesa, o copo de café entre as mãos, encarando o nada.
Tentei deitar, mas o sono não vinha.
Cada vez que eu fechava os olhos, era como se visse o rosto dela, meio embaçado, mas presente.
E por mais que eu quisesse me convencer de que não tinha nada a ver com isso, uma parte de mim sabia que aquela porra ia ficar martelando na minha cabeça até eu fazer alguma coisa.