Enya
Descobrir que a dona da pensão onde eu estava morando era a sogra da minha irmã foi um baque — e eu ainda não sabia se isso era uma bênção ou um novo problema. Dona Bia sempre foi correta, discreta, acolhedora. Não falava da vida pessoal, e eu nunca perguntei. Afinal, ela nos oferecia um teto, não uma biografia.
Mas agora… tudo mudava.
Será que ficaria do meu lado? Do lado da Nádia? Ou era daquelas mães que fecham os olhos pros erros do filho, jurando que ele é um bom homem, só “mal interpretado”?
Minha cabeça ainda pesava com essas dúvidas quando um burburinho veio da sala. Escutei o som do telefone sendo colocado no gancho com força — e logo em seguida, passos apressados.
Dona Bia apareceu na porta da cozinha com o rosto pálido, aflito. As mãos trêmulas tentavam encontrar apoio no avental.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, já em alerta.
Ela me olhou, olhos marejados, e assentiu com a cabeça.
— Era sua irmã… a Nádia. Conseguiu me ligar.
— Ela tá bem? O que disse?
— Não falo