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Capítulo 6 - Delírios e diamantes

A chuva caía sobre Manhattan como se o céu tivesse decidido punir a cidade. Dentro do elevador privativo da Torre Vale, o silêncio era gelado, quebrado apenas pelo bater rítmico dos dentes de Jinx.

Não era apenas frio. Seu corpo tinha entrado em colapso.

Jinx conhecia a fisiologia do próprio corpo melhor que qualquer médico. A descarga massiva de adrenalina no parque, seguida pela queda de temperatura e o esforço físico extremo, gerou um curto-circuito no seu sistema nervoso. Hiperpirexia reativa. Seu corpo estava queimando para matar qualquer infecção e forçar o descanso que ela negava a si mesma há dias.

— Você está tremendo — a voz de Aeron preencheu o cubículo de metal. Ele não olhou para ela; olhava para o reflexo dela nas portas polidas.

— É só... um resfriado, Sr. Vale. — Jinx tentou a voz doce de "Sarah", mas saiu como um grasnado rouco. — Minha imunidade é patética.

— Ninguém treme assim por um resfriado. Você parece estar entrando em choque.

Maldito seja esse homem.

O elevador parou. A gravidade puxou o estômago de Jinx para o chão. Quando as portas se abriram para o calor da cobertura, o contraste térmico foi o golpe final. Ela começou a perder a visão periférica. Pontos pretos dançavam na frente do mármore branco que estava na sua frente.

— Luna... — ela sussurrou, o instinto protetor sendo a última coisa a desligar.

— A Sra. Potts a levou para o banho. — Aeron deu um passo para fora, depois parou. Ele se virou, vendo a "babá" oscilar perigosamente sobre os tênis encharcados.

Jinx tentou dar um passo. Suas pernas, antes molas de aço capazes de derrubar mercenários, viraram água. O chão inclinou.

Ela não sentiu o impacto. Sentiu braços fortes, quentes e firmes, impedindo que seu crânio rachasse no piso.

— Sarah!

A escuridão a engoliu.

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O fogo estava em toda parte.

Jinx se debatia contra os lençóis de seda. Em seu delírio febril, ela não estava em Nova York. Estava num contêiner em Kiev, sangrando após o roubo dos diamantes Romanov, esperando a extração que atrasou três horas.

— O código... 7-7-9... corta o azul... — ela gemia, virando a cabeça no travesseiro encharcado. — Não é vidro... é real... tirem isso de mim...

Algo gelado tocou sua nuca. Um choque que a fez arfar e abrir os olhos abruptamente.

O teto era alto demais para um contêiner. O cheiro era limpo demais.

— Beba.

A ordem veio de cima. Jinx piscou, tentando focar a visão. Aeron estava sentado na beirada da cama, a camisa social desabotoada, mangas arregaçadas, segurando um copo com um líquido turvo.

Ele parecia exausto. E perigosamente atento.

— O que... — Jinx tentou se sentar, mas ele a empurrou de volta contra os travesseiros com uma facilidade humilhante.

— Soro caseiro reforçado. Sal, açúcar e eletrólitos. Você desidratou. Estava com febre de 39 graus. — Ele encostou a borda do copo nos lábios secos dela. — Beba tudo, ou eu enfio goela abaixo. Eu não vou ter uma morte por negligência na minha casa.

Jinx bebeu. O gosto era horrível, salgado e doce demais, mas seu corpo absorveu aquilo como terra seca absorve a chuva. Seu cérebro começou a reiniciar.

Ela olhou ao redor. Era o quarto dele. Tudo era cinza, masculino e minimalista. E ela... ela estava apenas de camiseta e calcinha sob o lençol na cama king size. Suas roupas molhadas estavam numa pilha no canto.

O pânico foi um tiro de adrenalina. Ele viu as cicatrizes? Ele viu a marca de faca na coxa?

— Eu... eu falei alguma coisa? — ela perguntou, a voz fraca, mas a mente afiada.

Aeron deixou o copo na mesa de cabeceira, ao lado de sua indispensável pistola 9mm.

— Falou sobre códigos. Fios azuis. E diamantes que não eram de vidro. — Ele inclinou o corpo para frente, invadindo o espaço dela. Seus olhos varriam o rosto dela procurando uma falha. — Você tem sonhos muito caros para uma babá, Sarah.

Pensa rápido, Jinx. Pensa rápido.

— Videogame — ela soltou, sustentando o olhar dele. — Jogos de escape. Eu estava na fase final quando... quando fiquei doente um tempo atrás. Eu jogo para desestressar.

Aeron soltou uma risada curta, seca, sem humor.

— Videogame. Claro. Isso explica por que seu corpo é coberto de hematomas antigos e cicatrizes? Caiu do sofá jogando?

Jinx gelou.

— Eu sou desastrada, Sr. Vale. O senhor viu no parque. Eu caio muito.

— Você cai com estilo demais. E se recupera rápido demais. — Ele se levantou, caminhando até a poltrona no canto do quarto. — A febre baixou. Foi uma exaustão térmica aguda. Seu corpo desligou para se proteger e agora reiniciou. Como uma máquina.

Ele se sentou na poltrona, pegando um tablet, mas mantendo a arma ao alcance da mão.

— Durma. Amanhã temos o baile de gala da empresa. E você vai comigo.

— O quê? Eu não... eu não posso...

— Você vai. Preciso de alguém para cuidar de Luna durante o evento, e a Sra. Potts está doente. Além disso... — Ele lhe lançou um olhar sombrio. — Quero você onde eu possa ver.

Jinx fechou os olhos, fingindo dormir, mas monitorando a respiração dele.

Ele sabe. Ele não tem certeza do quê, mas sabe que sou uma fraude.

Horas se passaram. O ritmo da respiração de Aeron mudou. Tornou-se profunda e pesada.

Jinx abriu os olhos. O relógio digital do criado mudo marcava 04:00 da manhã. Seu corpo doía, mas a febre havia sumido completamente, lavada pelo suor e pelo soro que ele a forçou a beber. Ela estava fraca, mas funcional. Era o suficiente.

Ela deslizou para fora das cobertas. O tapete abafou seus passos.

Aeron estava dormindo na poltrona, a cabeça tombada para o lado, a boca levemente entreaberta. Sua arma brilhava na mesa ao lado dele.

E, pendurado no encosto da cadeira onde ele jogou a calça, estava o cartão magnético mestre.

Era a chance perfeita. Pegar o cartão, ir ao escritório, roubar o chip e sumir.

Jinx estendeu a mão. Seus dedos pairaram sobre o peito dele, a centímetros do cartão. O calor que emanava dele era magnético.

Pegue isso logo e corre. Ele é o inimigo.

Mas então, Aeron se mexeu no sono, franzindo a testa numa expressão de dor, murmurando um nome que não era o da esposa falecida.

— Sarah...

Jinx travou. O som do nome falso nos lábios dele soou íntimo, possessivo. Pela primeira vez na vida, alguém cuidou dela. Ele não chamou um médico para despachá-la; ele ficou ali, vigiando a febre, dando água na boca dela.

A mão dela, em vez de pegar o cartão, traçou o ar acima da cicatriz na sobrancelha dele.

— Você é um idiota, Aeron Vale — ela sussurrou para a escuridão. — Baixou a guarda para a raposa dentro do galinheiro.

Ela recolheu a mão. Não podia roubá-lo hoje. Não quando ele a salvou. Era uma questão de honra entre ladrões... ou talvez fosse algo muito mais perigoso.

Ela voltou para a cama, virando de costas para ele.

O roubo aconteceria na festa. Quando ele estivesse de terno, arrogante e acordado. Roubar um homem que cuidou dela enquanto ela dormia... isso nem Jinx conseguia fazer.

[FIM DO CAPÍTULO]

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Nota da autora: EU VOU SURTAR! A Jinx tinha a faca e o queijo na mão. O Aeron estava dormindo, vulnerável. Ela podia ter pego a arma e fugido, mas o coração traidor falou mais alto. 💔

Isso foi fraqueza ou humanidade?

Deixem um 🌡️ se a temperatura subiu aí também!

Alerta de Spoiler: O próximo capítulo é o Baile de Gala. Preparem os vestidos (e as armas), porque a nossa "Sarah" vai ter que brilhar e roubar ao mesmo tempo. Adicionem na biblioteca!

Ravenna V.

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