CAPÍTULO 02
Erick Algum tempo depois Estou olhando para a tela do computador, mas com minha mente bem distante. Minha mente nela. Celia, minha esposa que morreu... Droga! Não consigo me concentrar para finalizar a contabilidade da minha própria editora chamada Aurora. Eu sou um inútil mesmo! Paulo, meu melhor amigo entrou no meu escritório sem pedir muita licença e já foi se jogando na poltrona e perguntou, bastante animado: — E aí, vamos hoje ao L'amour? — Claro! Hoje é o dia que deixo os gêmeos com minha mãe e irmã. — Acho que você poderia pagar uma babá né? — Paulo, não vou deixar o Caio e a Carla com qualquer pessoa. — Bom, tem razão. Sim, eu sinto a perda da Celia há dez anos. Tem dias que são mais difíceis do que outros, como esta manhã que não consegui me concentrar em absolutamente nada. Mas mesmo com minha dor, vou sim aproveitar uma noitada no L'amour. Mas é só isso que posso oferecer. Noites quentes com muita luxúria, mas sem amor. Depois de Celia, não será mais ninguém! *** Depois de uma reunião muito importante para que a Aurora tivesse sua filial na França, peguei minha Ferrari e fui para minha mansão. Estava preocupado com meus filhos, sei lá, uma sensação estranha. Eu tinha razão de estar preocupado! Ao chegar na minha rua, vi ambulâncias e veio todo o flashback de quando Celia morreu. Tive que aprender a controlar minha respiração e assim fui ver o que aconteceu. Quando é seu filho que está lá estendido no chão, você não consegue raciocinar direito a não ser chorar. Os enfermeiros levaram o Caio para o hospital e eu fui com ele, claro. Chegando no hospital, enquanto os médicos estavam cuidando do meu menino. Fiquei chorando na sala de espera, imaginando o pior que poderia acontecer. Não estava mais prestando atenção em nada, até que... Senti uma doce mão encostando no meu ombro, ergui meus olhos e era uma moça linda, com seus cabelos grossos castanho claro e um vestido azul marinho com um terno cinza. Seus olhos estavam vermelhos também e ela estava nitidamente nervosa. — Olá, Sr... Não sei seu nome, mas acho justo vim confessar que... Um homem com cabelo escuro e vestindo roupa esporte a segurou pelo braço e disse: — Elisa, por favor não incomode o homem! — Serginho, você não manda mais em mim. Aliás, nunca mandou. Sr. Que não sei o nome, sinto muito e estou me corroendo de culpa, mas fui eu que atropelei seu filho, não foi por querer. Eu nem sei dirigir, mas estava nervosa e... — VOCÊ FEZ O QUE??? — Não precisa gritar comigo! Errei feio, mas estou aqui para assumir toda minha culpa. — EU VOU TE COLOCAR NA CADEIA, SUA.... — O Sr. É um imbecil, mas tudo bem! Me coloque na cadeia, mas vou com a consciência limpa de que não fiz por maldade. Em pensar que eu senti atração por uma mulher assim que atropela uma criança??? Ela é linda, mas puta que pariu, isso nunca vou perdoar! O médico me chamou na sala dele e não sei como, muito menos porque, mas a tal da Elisa entrou junto comigo. O senhorzinho começou a falar: — Sr. Erick Toricelli, o Caio só teve uma lesão na perna esquerda, mas que, com a mobilização e posteriormente fisioterapia vai ficar tudo bem! — Graças a Deus! — respirei, aliviado. — Tem alguma pergunta, Sra. Toricelli? — Deus me livre de ser casada com esse ogro. Eu atropelei a criança, sem querer. Acabei de chegar em São Paulo e definitivamente não sei dirigir. — Então por que estava dirigindo um? Elisa ficou quieta por alguns segundos e depois disse, abaixando a voz: — Eu fiz um curso de enfermagem na cidade que eu morava, posso ajudar o Caio nesse período e em troca o senhor não me denuncia, por favor. Eu deveria estar morrendo de ódio pelo que ela fez, mas ao me acalmar e reparar melhor nela, percebo o quanto isso também a afetou. Decido deixar meu rancor de lado, pelo menos um pouco e digo: — Tudo bem. A percebo um pouco mais calma e sai da sala, respondendo: — Obrigada, Erick. Bufo de maneira amarga e pergunto em um tom nada paciente: — Por que a senhora atropelou o meu filho? Elisa ficou um pouco constrangida, mas respondeu com cautela: — Eu e Serginho, meu marido, estávamos discutindo. Não prestei atenção no trânsito e... — Eu só não te denuncio, Elisa porque se colocou à disposição para cuidar dos meus filhos que são tudo para mim. Entretanto, se cometer mais algum ato ruim, te denunciarei — Sr. Toriccelli, eu não sou criminosa. E foi assim que Elisa entrou na minha vida. Atropelando tudo.