Elisa
Ferrou!
Eu e Erick temos que fingir que estamos apaixonados para um americano que quer mandar na vida do pobre do meu chefe. Quer dizer, Erick não é exatamente pobre e por mais que eu tenha me compadecido com sua história de perda, não o considero digno de pena.
Ele é chato e ranzinza, parece um velho de oitenta anos!
Estou escolhendo dentre minhas roupas simples e humildes, algo que seja minimamente elegante para participar do jantar dos americanos.
Bufo, frustrada. Sou uma Maria-Jeca mesmo como diz Penélope. Talvez Erick deveria propor este fingimento para ela e não para uma moça vinda da roça como eu.
— Posso entrar? — ouço minha mãe bater na porta do quarto da mansão do Erick.
Mais essa. Certeza que ouvirei desaforos apenas porque houve uma mudança nos meus planos.
Abro a porta com cautela e vejo uma dona Francisca meio emburrada.
— Você realmente vai ficar nessa cidade grande, cheia de pecado por causa de um homem devasso?
Erick tem vários defeitos, como ser um chato de galocha, mas é um homem de caráter e não é um devasso. Quer dizer, do jeito que ele me beijou foi.... Deixa pra lá.
— Mãe, não estou ficando por causa de um homem. Estou ficando por mim, pelo meu trabalho. Pela primeira vez na minha vida, estou me priorizando.
— Mulher não tem que trabalhar, Elisa. Tem que ser uma ótima dona de casa e tem que cuidar de muitos filhos.
— Mãe, pelo amor de Deus... Eu perdi meu marido. Então, tenho que trabalhar e recomeçar.
— Pois recomece em Rezende. O Toninho está solteiro.
Toninho é filho de uma amiga da minha mãe. A segunda opção de dona Francisca para minha vida, apesar de ele nunca ter sido nenhuma opção para mim. Sempre amei muito o Serginho, mas... Erick é tão diferente dele de um jeito que eu jamais saberia explicar.
— Mãe, eu vou ficar.
— Então, eu e seu pai também ficaremos. Jamais vamos te deixar com este safado.
Abracei minha mãe. Ela pode ser uma sargentona, mas sei que me ama.
— Então, me ajuda a escolher um vestido para eu usar no jantar de hoje?
Não contei para minha mãe sobre o namoro falso. Ela pensa que estou sendo apenas uma acompanhante de Erick Toriccelli.
— Não é certo uma moça de família sair com um homem à noite.
Secretamente revirei meus olhos. Vai ser um período difícil.
***
À noite, achei um vestido azul de manga bufante que minha mãe jurou que ficou "translumbrante". Tive que confiar em suas opiniões, já que eu não tinha dinheiro nenhum para comprar um mais elegante.
Só que o problema é que tenho 25 anos e não sei andar de salto. Estou andando como se eu estivesse bêbada, me dirijo até a sala e tropeço no Erick que me pega com seus braços fortes e nossos olhos se cruzaram.
— Elisa!
— Desculpa, Sr. Toriccelli, eu... — apesar da minha vergonha, decidi ser sincera — não sei andar de salto.
Percebi seu semblante sério e talvez reflexivo, como se estivesse analisando a opção de cancelar toda essa patifaria de namoro falso. Se for o caso, tudo bem. O menos que estiver perto dele, melhor ainda.
— Vem comigo, Elisa!
O segui, meio em trôpegos ao seu quarto. Com toda certeza, posso dizer que é um cômodo lindo e extremamente bem organizado. Não pude deixar de notar como sua cama parece ser tão macia e gostosa. Deve ser maravilhoso dormir com o Erick...
Digo...
— Celia tinha belos vestidos, se você quiser, pode pegar algum deles...
— Desculpa, Erick, mas me recuso a usar algo da sua falecida esposa.
Erick me olhou com uma expressão perplexa e perguntou com um tom de incredulidade:
— Por que?
— Não quero ser uma substituta dela. Somos mulheres diferentes e também acho que de alguma maneira, você tem que seguir em frente.
— Juro que não te entendo, Elisa. Você também perdeu um marido. Por acaso, não dói?
Respirei profundamente, um pouco emocionada e respondi com sinceridade:
— Dói, mas...
— Está certo, Elisa — bufou, Erick que olhou para o seu relógio chiquérrimo e emendou — está bem tarde, mas comprarei um vestido para você ir para o jantar comigo — resmungou baixinho — mas você já é linda de qualquer jeito.
Será que ouvi isso realmente ou já estou imaginando coisas?
Erick, com pressa foi rapidamente para não sei qual loja e fiquei esperando.
— Acho ridículo você sair com o nosso chefe — Penélope entrou no meu quarto, trazendo alguns lençóis que possivelmente amanhã vou ter que passar.
— Você não acharia ridículo se fosse com você, suponho.
— Certamente — riu com deboche — eu amo o Erick e ele será só meu!
Revirei meus olhos.
Não estou fazendo isso por amor. Estou fazendo tudo isso por... Ah, sei lá.
***
Erick não demorou muito para chegar com uma embalagem maravilhosa e com um vestido vermelho, mais lindo ainda. Fiquei tão feliz que levantei-me, empolgada e beijei seu rosto.
— Elisa...
— Ai, desculpa. Fiquei tão feliz, nunca tive um vestido assim.
Os olhos castanhos de Erick pousaram nos meus e sorriu.
Será que me achou uma bobona?
— Vou me trocar.
— Vá, Elisa.
Rapidamente me troquei e deixei meus cachos soltos, passei um delineador em meus olhos verdes, coloquei uma echarpe preta e finalmente saí do banheiro.
— Estou apropriada para o jantar?
Erick ficou de queixo caído e confessou em uma frase:
— Você é linda, Elisa! Só está faltando um colar — e tirou do canto da caixa um belo adorno de diamantes.
É, definitivamente, Erick é riquíssimo!
De frente para o espelho, abaixei minha echarpe para ele colocar o colar. Nossos olhos se cruzaram e Erick beijou meu pescoço.
Minha pele ficou arrepiada com o toque de seus lábios e deixei escapulir um gemido.
— O que o senhor está fazendo com minha filhinha? — apareceram meus pais neste instante.
Por que justo agora?
— Erick, este é meu pai, seu Giovanni.
— Muito prazer, seu Giovanni — Erick estendeu sua mão para meu pai que fez cara emburrada para o meu noivo.
Quer dizer, falso noivo.
— Não tenho prazer nenhum.
— Pai! — tentei aliviar essa situação que já estava bastante tensa, para dizer o mínimo.
— E nem eu tenho prazer nenhum em ver minha filha com este agarramento todo.
Meus pais estão falando como se tivessem flagrado eu e o Erick fazendo o maior sexo selvagem do mundo.
Ai, ai, quem dera. É por essas e outras que continuo super virgem afff.
Digo...
— Mãe e pai, eu já sou maior de idade tá? E o Erick estava apenas.... Colocando o colar em mim. Nada demais.
— Ele estava beijando seu pescoço, Elisa. Isso não é coisa de moça de família.
Secretamente revirei meus olhos. Como pude deixar tanto o controle das minhas decisões, dos meus princípios, da minha vida, no geral nas mãos dos meus pais? Eu amo eles e sei muito bem que eles me amam, mas poxa, sou uma mulher adulta.
— Vamos, Erick? Estamos atrasados!
Deixei eles falando e saí com o Erick.