Eu vivo pensando nele

Capítulo 07

O Príncipe Adormecido

— Eu não sei se consigo aceitar ser inseminada para dar um bebê para ele. Olha, tia, talvez eu devesse voltar para o Brasil. Ou ficar aqui. Posso trabalhar, pagar tudo. Posso ser intérprete, ou fazer limpeza... só não quero ser parte disso.

— Eles não vão deixar, Isa. Querida, deixa de ser ingênua. Você sabe demais. E se não fizer o que a princesa quer, ficando grávida do príncipe Rafique por inseminação, eles podem sumir com você. Infelizmente, assim como eu, você será morta. — Simone a olhou nos olhos, morrendo de tristeza. — Mas você tem uma chance de mudar sua vida para sempre. Nove meses. Uma vasta fortuna te espera. E um novo destino em qualquer lugar do mundo será possível.

Isadora ficou olhando o rosto de Rafique. Aquele homem parecia tão vivo.

De repente, a porta se abriu.

Era a princesa Annia, que não costumava aparecer cedo. Na verdade, ela nunca vinha. Simone ficou arrepiada de medo.

— O que está acontecendo aqui? — disse, com voz firme. Seus olhos recaíram sobre Isadora, que mesmo com uniforme, foi reconhecida imediatamente.

— Alteza, eu só...

Tentou justificar Simone, morrendo aos poucos, porque ela sabia que iria ser lançada no fogo, pelo ódio que via nos olhos da princesa.

— Cale-se, Simone! Eu falei para trazê-la para mim, no palácio, para ser utilizada na clínica como incubadora, caso eu a escolhesse. E nunca te dei autorização para enfiá-la aqui no quarto do meu filho! Ainda mais dando banho nele! Isso você irá pagar caro por tamanho atrevimento. Você não dá banho no Rafique. Ele tem enfermeiros homens para isso.

— Me perdoe, alteza, mas ela queria ver o príncipe antes de decidir, e eu achei que ele precisava de uma limpeza. Achei uma pequena ferida, olhe ali. — Apontou para uma pequena mancha de início de ferida na costela direita.

Annia olhou para o local que Simone mostrou e tocou o lugar, preocupada, mas em seguida voltou ao assunto que a fez vir imediatamente ao quarto do filho.

— Decidir? Ela não tem escolha! O contrato foi assinado por você! Ah, espera, você mentiu, Simone! Você enganou a todos! — Annia agora gritava em árabe.

Pensando que Isadora não entenderia, ela explodiu:

— Se essa garota não fizer a inseminação logo, porque agora eu a escolho. — será ela, a incubadora. — Eu juro que mando arrancar sua língua com ferro quente, e depois te enterro viva! — disse com autoridade e certeza de que a sua ordem seria cumprida.

Isadora estremeceu. A raiva, o medo, o choque... E a compreensão total das palavras. Ela falava árabe fluentemente.

— Eu entendi tudo. — disse ela, firme. — Eu aceito e farei o que a senhora quiser, mas não toque na minha tia. E quero ver o contrato que ela assinou por mim. Quero ler tudo o que está escrito. E quero proteção e garantia de que sairemos vivas daqui, após cumprir com esse infame acordo.

Annia arregalou os olhos. Simone segurou o braço da afilhada.

— Isadora, minha nossa, você acabou de nos matar! Você não poderia falar assim com a princesa!

— Cale-se, Simone. Agora não importa o protocolo real, ela aceitou. Então vamos agora para a clínica. — disse com olhar gelado e exigente.

— Sim, alteza. Vamos, Isa. Ela não nos dará outra chance.

— Tá, madrinha.

Horas depois...

Fizera uma série de exames para atestar saúde plena, antes da fertilização. Três óvulos foram implantados, como garantia de sucesso.

Isadora chorou em silêncio.

Enquanto isso, no mundo silencioso e distante do coma, Rafique sentiu algo. Quando a intrusa chegou. A voz feminina falando português. Ele entendia português, era poliglota. Era suave, gentil, com vergonha. Ele não sabia quem era, mas quis ouvir mais. Seu corpo reagiu, para ela. Alguns dos seus músculos tencionaram. E mesmo sem poder se mover, uma parte dele se inflamou em reação ao toque e à presença dela. Além de toda novidade de começar a ouvir o mundo real, ele ouviu o plano absurdo de sua mãe. Porém, ao ouvir a jovem falar com ela de igual para igual, isso foi mais interessante que tudo. Apesar de estar muito longe dali...

Porém, seu espírito gritava, querendo voltar, mas o seu corpo não o obedecia e ele continuava adormecido.

Isadora acordou com um enjoo leve. O corpo ainda sentia os resquícios do procedimento, e embora tivesse sido medicada, ela percebia uma sensação estranha percorrendo seu ventre.

Tocou a barriga instintivamente e, pela primeira vez, sentiu um presságio silencioso: havia vida ali. Três embriões. Três possibilidades. Três destinos selados.

Um mês depois...

O palácio onde agora vivia era afastado da ala principal, um setor reservado, vigiado por homens armados e câmeras que não a deixavam esquecer quem ela era naquele lugar: uma incubadora humana. Os dias eram silenciosos, envoltos em luxo e solidão.

A comida vinha em bandejas prateadas, o ar-condicionado mantinha o clima constante, e a decoração misturava o tradicional com o clássico europeu. Mas não havia aconchego.

Simone, sua tia e madrinha, visitava-a todas as noites. As duas jantaram juntas no quarto decorado com tons de ouro e bege, onde uma varanda se abria para o deserto iluminado pela lua.

— Tia...

Simone a olhou, atenta. — O que foi, meu amor?

— Eu estou com medo do futuro. Às vezes penso que nunca vou sair daqui. Nunca verei nossa família. Que talvez esses bebês nem vão sobreviver. E... e se eu me apegar? Mesmo assim, eles vão me tirar os bebês. O que vou fazer depois? Ah, são tantas perguntas que eu quase fico louca, sem contar que eu vivo pensando nele…

Simone se aproximou, pegando a mão da sobrinha. — A princesa Annia já está estudando para autorizar que você faça alguns passeios para relaxar. Eu estou insistindo com ela, porque sei que esse procedimento precisa de você tranquila. E não se preocupe, vamos dar um jeito. E obrigada, Isa. Você salvou nossas vidas.

Isadora permaneceu em silêncio por alguns instantes, então ergueu os olhos para Simone.

— Não tive escolha. Eu vi que seu medo era real, e nossas vidas estavam em risco. Mas quando eu vou ver o Rafique de novo? Como ele está?

Simone suspirou, visivelmente desconfortável com o interesse de Isadora. Afinal, o príncipe era proibido para ela.

— Não fale nele, Isa. O acordo que eu assinei com a princesa é bem claro. Você não pode ter contato com o príncipe. Você é apenas uma incubadora.

— Eu sei. Eu li o contrato, madrinha. Mas não é justo. Eu sinto que preciso vê-lo. Preciso contar sobre os bebês, tia. Talvez isso ajude ele a reagir... Parece loucura o que eu estou falando, mas eu tenho esperança agora.

Simone apertou os lábios, refletindo.

— Você tem razão. O doutor Rodrigo Otomano está chegando de Los Angeles. Ele é renomado, e a esposa dele é brasileira. Talvez eu possa conversar com ele, por você.

Isadora assentiu, com os olhos marejados.

— Eu já sinto que estou grávida. Parece loucura, mas minha mãe disse que também soube muito cedo quando me carregava.

Simone sorriu, emocionada.

— Então fique calma, amor. Eu vou avisar a princesa. E faremos exames.

Autora: Graciliane Guimarães

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App