Capítulo 06

O Príncipe Adormecido

— Esse é Rafique. O príncipe. Ele é o único filho da princesa Annia. O mesmo que está em coma. Ele está no palácio onde você conheceu a princesa. Ele vive como se estivesse só adormecido, desde o acidente. E o bebê a ser gerado... é dele.

Isadora sentiu um frio percorrer-lhe a espinha. Mas tinha ouvido tudo o que a madrinha traidora lhe disse, e, curiosa, olhou a foto por um tempo maior do que gostaria de admitir. Algo além da beleza estonteante do príncipe a fez ter uma reação desconhecida.

— Ele é muito bonito. — admitiu. — Mas, tia Simone... por quê? A senhora me trouxe aqui sem me contar o que eu teria que fazer?

— Porque, Isadora, filha, essa era a chance das nossas vidas, Isa. Se eu pudesse gerar um filho para ele, eu faria sem hesitar. Mas não posso. E você é perfeita. Jovem, saudável, virgem... exatamente o que a princesa procurava. — Simone baixou o tom.

— Não, isso é horrível, tia. Ele está em coma, nem sabe o que estão fazendo com o corpo dele, e gerar um filho de alguém assim deveria ser criminoso!

— Isso não é da sua conta, Isadora, e nem da minha. Mas saiba que, se você não aceitar fazer a inseminação para eles, agora que sabe de tudo... eu serei morta. Aqui mesmo, no meu apartamento, tem câmeras por toda parte. Eles já sabem que você ouviu. E, além disso, gastamos uma fortuna em dólares da própria princesa.

Isadora ficou em silêncio, assimilando tudo. Por um momento, só ouvia os próprios batimentos cardíacos.

— Meu Deus... isso não é real... É um mega pesadelo. — murmurou.

— É real. Demais. E se você recusar, não terá como voltar ao Brasil, talvez nem viva. Eles não vão deixar você ir embora com esse segredo. — Simone a olhou com os olhos marejados. — Você é minha família. Eu errei por ter colocado você em risco. Porém, não dá para voltar atrás. E eu não teria feito a proposta à princesa se achasse que você não conseguiria lidar com isso.

Isadora respirou fundo, olhando outra foto que Simone mostrou agora no celular. Era uma imagem de Rafique agora no leito onde estava se recuperando.

— Ele parece... só estar dormindo. É estranho.

— Porque é isso mesmo. Ele não se deteriora como outros pacientes em coma. A medicina chama de milagre. E agora, Annia quer garantir um herdeiro antes que o marido dela morra. Porque o sheik Hassan está com câncer, e por isso esse plano audacioso do novo herdeiro. E você pode fazer isso, Isa. Você pode ser a escolhida da princesa.

Isadora ficou em silêncio.

— Posso vê-lo?

Simone hesitou, pensando em como faria algo assim. Afinal, era estritamente proibido novas pessoas no quarto do príncipe. Mas, como ela já estava com um pé na cova por causa do plano de fazer Isadora a mãe do bebê de Rafique, achou que valia a pena arriscar mais ainda.

— Pode. Mas terá que vestir-se como enfermeira. Ninguém pode saber que você é uma das escolhidas. É tudo secreto.

— Entendi... me leve até ele, tia.

— Amanhã cedo nós iremos, mas me prometa, Isa, que vai pensar no assunto com calma essa noite, porque são as nossas vidas que estão em jogo agora.

— Tá bom. Eu vou pensar friamente. Não sei o que vou decidir, mas só sei que primeiro quero vê-lo.

— Tudo bem, você tem razão. Eu já estou no corredor da morte mesmo, então vamos dormir. — disse Simone cheia de remorso.

— Porque quis, tia. Porque a senhora quis. Mas sim, vamos dormir.

Isadora, mesmo com toda a loucura que agora estava vivendo, dormiu como uma pedra, e só acordou com sua tia a chamando.

 Se aproveitando da sua autoridade de enfermeira muito responsável, Simone dispensou a outra colega que faria com ela o plantão do paciente.

Vestida com uniforme branco, e máscara, chapéu de enfermeira e um crachá falso da outra profissional, Isadora foi conduzida até o quarto do príncipe Rafique por Simone, que estava para ter um ataque cardíaco.

O ambiente era silencioso, perfumado, tecnológico e, ao mesmo tempo, acolhedor. Era mais que um quarto: era um santuário dourado e nobre para o filho adormecido.

Lá, deitado como uma escultura viva, estava ele. O mesmo da foto. Ainda mais impressionante ao vivo. Pele dourada, cabelos escuros bem cuidados, rosto sereno. Um homem parado no tempo.

— Ele parece estar sonhando. E é incrivelmente bonito. Até pensei que a foto que a senhora me mostrou fosse melhorada com filtro, do tipo de alguma rede social... mas não. Ele é muito lindo pessoalmente. — disse Isadora, em um sussurro.

— Sim, ele é um belo homem. E talvez só esteja mesmo dormindo. Pelo menos todos nós que trabalhamos aqui torcemos muito por isso. — Simone puxava luvas e preparava toalhas. — Preciso da sua ajuda, Isa, para dar o banho nele. Tudo tem que ser feito com extremo cuidado.

— Mas tia... minha nossa, eu não quero vê-lo nu, por favor, isso não é preciso...

— Isa, você precisa entender. Não é sexual. É um protocolo médico. Se houver feridas nele, pode virar escaras. Temos que fazer uma limpeza impecável e tratar de prevenir isso. Venha, segure isso.

Isadora, ainda em choque, segurava o lençol enquanto Simone higienizava o corpo do príncipe. A beleza dele era hipnotizante. Quando a toalha passou pela região íntima, ela desviou o olhar.

— Ele realmente está em coma? — perguntou, tentando manter a compostura, enquanto limpava com delicadeza o ombro dele.

— Sim. Mas veja, Isa... olha só. Ele está tendo uma ereção. Isso não acontece há muito tempo. Porém, é só reflexo involuntário. — Simone deu um risinho. — Mas confesso que é impressionante, não é?

— Não sei. Por favor, tia, não fale assim...

— Ai, Isa… Você diz isso porque é virgem. Mas eu, se fosse vinte anos mais nova e tivesse um útero saudável... ah, minha filha, eu ficaria grávida desse homem agora mesmo, até de modo natural...

— Tia, que horror! Ele é seu paciente. Está indefeso.

— Eu sei! É só uma brincadeira bobinha... — Simone riu. — Você, Isadora, é a mulher que tenho certeza de que o príncipe adormecido aprovaria. Sabe, eu gosto dele. E penso que Rafique vai acordar algum dia. Porque não é possível ele permanecer assim, está nítido que ele quer!

— Será, tia? É... ele realmente não parece um paciente acamado.

— Sim, Isa, filha. Ele não mudou nada. Parece mesmo um rapaz vivaz, só está dormindo. E isso, na medicina, é considerado um milagre. Porque a pessoa vai se acabando em cima da cama. Apesar de que, ele tem um vasto aparato de aparelhos muito modernos, que eu nunca havia visto. Mas, mesmo assim...

Isadora se afastou um pouco e olhou mais os detalhes ali do quarto.

Autora: Graciliane Guimarães