A Casa Raízes, apesar da energia de esperança que pulsava em cada sala, também era feita de silêncios pesados e noites difíceis. O processo de cura nunca era linear. Clara sabia disso. Tinha aprendido com a própria vida que recomeçar não é caminhar em linha reta, mas tropeçar, cair, levantar.
Foi numa tarde chuvosa que o grito de uma das voluntárias ecoou pelos corredores. Clara correu até o dormitório das residentes e encontrou Júlia trancada no banheiro. Batia contra a porta com os punhos fechados, o rosto em pânico.
— Júlia, abre, sou eu — disse Clara, a voz firme, mas sem dureza.
Silêncio. Depois, um soluço.
— Eu não consigo, Clara! — a voz da jovem atravessava a madeira. — Achei que estava melhor, mas… ele me ligou. Ele disse que vai me encontrar, que eu nunca vou ser livre.
O coração de Clara se apertou. Conhecia aquela sensação de perseguição mesmo à distância, como se a sombra de um agressor fosse capaz de atravessar fronteiras.
— Escuta, Júlia. Você não está mais sozinha. Ele