Felipe Diniz
Cancelo a última reunião com o setor de marketing da nova coleção de cosméticos. Entro no carro sem destino certo. As luzes de São Paulo passam como faíscas no vidro, mas não vejo nada. Só sinto o sangue batendo forte nas têmporas, uma urgência que me consome.
Quando finalmente abro a porta da cobertura, Helena já está ali. Sentada no sofá, as mãos juntas, os olhos marejados. Parece uma estátua que sabe que vai ser julgada.
— Felipe… — sua voz falha, um quase sussurro. — Precisamos conversar.
Dou um passo à frente. Atiro a pasta com o dossiê de Lucas Magalhães sobre a mesa. Os papéis se espalham, voando como lâminas, ferindo o ar entre nós.
— Já conversei. — digo frio, a voz controlada, quase baixa, mas vibrando de raiva. — Com seus documentos. Com seus registros. Com as mentiras que você tentou esconder.
Ela empalidece. As mãos tremem ao pegar um dos papéis. A dor escorre pelo rosto dela como uma confissão muda.
— Você não entende… — ela sussurra, engolindo em seco. — Nã