Felipe Diniz
A fumaça fica mais espessa conforme nos aproximamos. O cheiro alcança o carro antes mesmo que a visão alcance o prédio — aquela mistura ácida de madeira velha, tinta queimada e alguma coisa muito pior que eu preferia não aprender a nomear. Helena segura minha mão. Eu seguro de volta. É a única coisa me impedindo de virar o carro e atropelar qualquer obstáculo até chegar ao fim dessa história pela força.
— Felipe… — ela diz, quase num sussurro. — Ele realmente incendiou isso de propósito.
— Claro que incendiou — respondo, a voz baixa demais para esconder o veneno. — Adrian nunca fez nada às escondidas. Ele faz no palco. Com plateia.
— Mas por quê?
Eu olho para o horizonte em chamas e sinto a resposta ferver dentro de mim.
— Para me lembrar de onde tudo começou.
— E de onde tudo pode terminar?
Eu viro o rosto para ela.
Os olhos de Helena refletem as chamas. Meu peito aperta.
— Não, Helena. Eu não deixo isso terminar em você.
O carro freia diante do portão de ferro do galpão