Capítulo 2

Nathan Keen

Eu sou Nathan Keen.

E, para boa parte das mulheres deste país, isso já diz tudo.

Meu nome aparece nas listas de solteiros mais desejados, capas de revista, colunas sociais, fofocas em bastidores de desfiles. Algumas me chamam de visionário, outras de canalha. Eu não me importo com o rótulo, contanto que ninguém tente me enfiar numa coleira.

Elas gostam da minha companhia. E eu sei exatamente o que oferecer: noites intensas, momentos divertidos, prazer sem promessas.

Eu nunca disse que sou um homem bom. Só disse que sou honesto nos termos do jogo.

Tenho uma regra simples: eu não me envolvo com modelos da minha agência.

Não por respeito, mas por autoproteção. Misturar negócios com cama é a receita perfeita pra drama, choro, cenas no corredor e fotos comprometedoras vazando por aí. Já tenho problemas demais para carregar mulher chorando no meu escritório dizendo que “se apaixonou”.

A maioria não aguenta a verdade: eu não pertenço a ninguém.

Meu pai, porém, tem o talento irritante de estragar minha diversão. Ele vive no meu pé.

— Nathan, nada de se envolver com as garotas da agência. —

— Nathan, controle, foco, imagem. —

— Nathan, escolha seu nome ou seu vício.

E eu, como um bom filho… finjo que escuto.

Não que eu seja um devasso sem critério. Eu apenas sei exatamente o que quero: mulheres que entendam a regra. Entram na minha cama porque desejam, saem quando eu decido. Sem apego. Sem drama. Sem futuro.

Já tentei algo mais “sério” uma vez. Pareceu uma boa ideia por uns dois meses. Depois, foi como usar um terno dois números menor: sufocante. Ciúme, cobrança, desconfiança de todas as mulheres que trabalhavam comigo.

Ela dizia que eu “provocava demais”. Eu dizia que ela não sabia com quem tinha se metido.

E, no final, acabei com aquilo do mesmo jeito que corto contratos ruins: limpo, frio, sem olhar pra trás. Ela chorava. Eu só sentia alívio.

Ser solteiro é eficiente.

Trabalho de dia, me divirto à noite e durmo com a cabeça tranquila — e a cama bagunçada.

Sou CEO de um império fashion. A Model não é apenas uma agência. É uma marca de lingerie consolidada, com campanhas internacionais, vitrines de luxo, contratos milionários. Eu contratei os melhores fotógrafos, estilistas e modelos. O mundo compra o que eu vendo. E o que eu vendo é desejo embalado em renda cara.

Por isso, quando meu pai entrou na minha sala naquela manhã com um brilho estranho nos olhos, eu estranhei.

— Encontrei a nossa nova modelo — ele anunciou, sem nem bater na porta. — E quero deixar uma coisa bem clara: nada de brincadeiras com ela.

Revirei os olhos.

— Bom dia pra você também, pai. — Cruzei os braços. — E por que essa em específico? Onde você a conheceu?

— Não importa onde. O que importa é que ela é exatamente o que eu vinha procurando. Curvas reais, presença, algo diferente dessas bonecas de vitrine.

Eu fiquei curioso. Não pelo entusiasmo profissional, mas porque é raro ver meu pai empolgado com qualquer coisa que não seja números.

— Quem é ela?

— Você vai ver. Ela está lá embaixo.

Saí da minha sala sem pressa, apesar da insistência dele. Desci o andar, ajustei o paletó, conferi minha expressão no vidro da porta.

Quando entrei no saguão principal, esperava ver alguma modelo recém-agenciada, talvez uma das novatas que ainda tremem quando me veem.

O que eu vi foi… outra coisa.

Uma garota parada perto da recepção. Roupas simples, cabelo preso de qualquer jeito, tênis surrado, rosto marcado pelo cansaço. Ela não era o tipo de beleza polida que a gente está acostumado a ver sob holofote. Tinha algo cru nela. Real demais para o ambiente asséptico da Model.

E, ainda assim, o que me veio primeiro não foi admiração. Foi irritação.

Ela destoava do cenário.

E eu odeio qualquer coisa que não se encaixe naquilo que eu controlo.

Meu pai a observava à distância, com um sorriso satisfeito demais pro meu gosto.

“É essa?”, pensei, já de mau humor. “Foi por causa disso que ele subiu na minha sala como se tivesse encontrado a solução da crise mundial?”

Aproximei-me.

— O que essa garota está fazendo aqui? — perguntei, alto o suficiente para todos ouvirem. — Quem deixou entrar?

Alguns funcionários desviaram o olhar. Ninguém respondeu.

Ela virou o rosto na minha direção. Os olhos dela eram verdes. Verdes fortes, intensos, que contrastavam com a pele morena. Havia algo naquelas pupilas: desconfiança, exaustão… e um fogo irritante de orgulho que eu não pedi pra ver.

Talvez eu estivesse de mau humor. Talvez eu só quisesse deixar claro quem mandava ali. Talvez eu não suportasse a ideia de ver meu pai encantado por alguém que eu ainda não tinha aprovado.

O fato é que eu deixei a impaciência falar.

— Isso aqui é uma agência de alto padrão, não abrigo de rua — soltei, sem cerimônia. — Olhem pra ela. Toda amassada, como se tivesse acabado de sair de um banco de praça. Eu pago segurança pra isso? Pra deixar qualquer uma atravessar a porta?

Senti a atenção de todos se concentrar em nós.

Ela apertou a alça da mochila, mas não abaixou a cabeça. Poderia ter sentido vergonha, chorado, recuado. A maioria faria isso. Era o esperado.

Mas essa garota não.

Os olhos verdes estreitaram.

— Tá com nojo da minha roupa? — ela perguntou, a voz firme, com um sotaque que eu não soube identificar na hora. — Problema seu. Eu não tô aqui pra agradar sua vista.

Alguns sussurros surgiram atrás de mim. Uma recepcionista levou a mão à boca. Meu pai ficou imóvel.

Eu senti… surpresa.

Não era comum alguém me enfrentar assim. Muito menos alguém que depende de qualquer oportunidade pra sobreviver.

E, talvez justamente por isso, minha reação foi pior.

— Eu não admito esse tom comigo — retruquei, me aproximando mais. — Você entrou aqui por erro. Não pertence a este lugar.

Ela deu um meio sorriso que, por algum motivo, me irritou ainda mais.

E, antes que eu terminasse a próxima frase, ela levantou a mão.

O tapa estalou no ar e ecoou pelo salão como uma chicotada.

A lateral do meu rosto ardeu. A pele esquentou na hora.

Por um segundo, ninguém respirou.

Eu, Nathan Keen — o homem que comanda contratos de milhões, respeitado nos bastidores da moda, temido em negociações duras — levei um tapa de uma garota que parecia ter acabado de atravessar um oceano a pé.

Na frente das modelos.

Na frente dos funcionários.

Na frente do meu pai.

Os olhos dela estavam cheios de fúria quando falou:

— Você não fala comigo como se eu fosse lixo.

Poderia ter explodido ali. Poderia ter mandado seguranças jogarem ela na calçada. Poderia ter gritado, humilhado, dito coisas das quais eu talvez me arrependesse depois.

Mas alguma coisa me segurou.

Não por bondade.

Por cálculo.

Eu não bato em mulher, não porque sou santo, mas porque manche é algo que eu não tolero na minha imagem. E, naquele momento, uma parte de mim entendeu que qualquer reação exagerada seria munição demais contra mim.

Então eu apenas a encarei.

Por dentro, a raiva fervia. Por fora, mantive a expressão fria.

Ela se afastou, ainda ofegante. Meu pai desviou o olhar, mas eu vi o brilho de reprovação misturado com… admiração? Ótimo. Faltava só ele começar a bater palmas.

Mais tarde, já na minha sala, o lado racional tentava organizar o que eu sentia.

Era simples e, ao mesmo tempo, confuso: eu a odiava. Odiava o atrevimento, o tapa, a forma como ela me expôs na frente de todos.

E, junto com o ódio, havia uma outra sensação incômoda: curiosidade.

Quem era aquela mulher?

De onde tinha saído?

Como tinha coragem de me enfrentar daquele jeito?

E por que diabos eu ainda sentia o calor da mão dela na minha pele?

Eu estava decidido a mandá-la embora.

Até a reunião.

Meu pai convocou os diretores, o setor de criação, o marketing. Sentou-se à cabeceira com a postura de quem está prestes a anunciar uma revolução. Eu já imaginava o tema.

— Encontrei a modelo da próxima campanha de lingerie — ele começou. — Quero que a olhem com profissionalismo. Sem preconceitos. Ela tem algo que nenhuma outra tem.

Revirei os olhos internamente.

As luzes diminuíram e o telão foi ligado.

Quando a primeira foto apareceu, eu perdi, por alguns segundos, a capacidade de ironizar qualquer coisa.

Era ela.

Mas não a garota amassada da recepção. Não a fugitiva desgastada pelo cansaço.

A câmera tinha feito… mágica.

Ela vestia uma das peças da nova coleção, o tecido abraçando o corpo de um jeito que era quase indecente de tão perfeito. As curvas que eu não tinha notado sob a roupa simples agora saltavam aos meus olhos. Cintura fina, quadris desenhados, pernas longas, postura firme. Nada de timidez.

Os olhos verdes encaravam a lente com um desafio que eu reconhecia muito bem: o mesmo que ela lançou pra mim antes de levantar a mão.

Outras fotos apareceram em sequência. Diferentes poses, diferentes expressões. Em algumas, havia inocência. Em outras, uma sensualidade tão crua que seria o sonho de qualquer campanha que vendesse não só lingerie, mas fantasia.

Meu pai sorria, satisfeito.

— Ela é nova, veio de uma situação complicada. Mas tem presença, tem algo que não se compra. E eu quero que ela seja rosto fixo da marca — decretou.

Eu permaneci calado.

Por dentro, porém, algo se reorganizava.

A garota que me desafiou, me encarou como se eu fosse apenas um homem qualquer e teve a audácia de encostar a mão em mim… agora estava ali, exposta em tela gigante, fazendo metade dos homens daquela sala engolirem seco.

Meu orgulho doeu de novo.

Não bastava o tapa. Agora eu teria que vê-la por todos os lados. No prédio, nas fotos, nas telas, nos outdoors.

Como se o universo tivesse decidido me provocar pessoalmente.

Uma parte de mim quis rejeitá-la por puro capricho.

Outra parte teve uma ideia melhor.

Se ela realmente fosse ficar, se meu pai insistisse nessa loucura… então eu ia garantir que ela me conhecesse do jeito certo.

Não como o homem que ela humilhou por impulso.

Mas como alguém capaz de virar o jogo.

“Você quis me enfrentar, garota? Ótimo.”

Eu a faria entrar no meu mundo.

Eu a faria sentir curiosidade, irritação, desejo.

Eu a envolveria em tudo aquilo que ela parecia desprezar.

E, quando estivesse completamente presa, eu cortaria o fio.

Seria uma lição.

Para ela.

E para mim.

À noite, combinei com Michael e Victor — meus dois parceiros favoritos em todas as formas de irresponsabilidade — de sair.

Eu precisava extravasar.

O clube noturno era o mesmo de sempre: luzes baixas, música alta, bebida farta, mulheres com perfume caro e intenções claras.

Normalmente, esse cenário era o suficiente para desligar qualquer pensamento que não fosse imediato.

Mas naquela noite, nem isso funcionou direito.

Eu bebi, falei besteira com os dois, senti olhares femininos pousando em mim como de costume. Escolhi uma delas — loira, corpo escultural, sorriso treinado — e a levei para um lugar mais reservado.

Ela se jogou em mim com entusiasmo, como se estivesse recebendo um prêmio. Eu correspondi por automático, tocando, provocando, arrancando suspiros fáceis. Mas, no meio do caminho, a imagem que veio à minha cabeça não foi a da loira.

Foi a da garota de olhos verdes me desafiando no saguão.

Eu me afastei antes que a coisa fosse longe demais.

— Já vai? — a loira perguntou, surpresa, ajeitando o vestido.

— A noite foi divertida o suficiente — respondi, seco. — Outro dia a gente continua.

Mentira. Não continuaríamos. Eu sabia. Ela também.

Voltei pro salão principal irritado, mais tenso do que quando cheguei.

Michael me lançou um olhar de lado.

— Que cara é essa? — provocou. — A loira não fez milagre?

— Vai cuidar da sua vida — rosnei.

Victor riu, levantando o copo.

— Acho que a única pessoa que conseguiu mexer com a cabeça do grande Nathan hoje foi outra…

Ignorei.

Quando cheguei em casa, tirei o paletó, fui direto pro banho e deixei a água cair sobre o rosto. Fechei os olhos.

O tapa voltou.

O olhar dela voltou.

A sensação de estar sendo desafiado voltou.

“Você não sabe com quem mexeu”, pensei, deitado na cama pouco depois, olhando pro teto.

Eu não sabia quase nada sobre ela ainda. Só que tinha vindo de longe. Que devia estar sem nada. Que meu pai a tinha colocado sob proteção pessoal — o que, por si só, já me deixava em alerta.

Mas uma coisa eu sabia com absoluta certeza:

Ela tinha começado uma guerra.

E eu não perco guerras.

Não importa quanto custe.

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