Narrado por Hellen
Eu achei que quando Sylvia fosse finalmente presa, meu corpo respiraria. Que a paz entraria como ar fresco depois de meses vivendo como um animal acuado.
E, por algumas horas, realmente entrou. Acordei na manhã seguinte ao julgamento com algo que não sentia fazia muito tempo: “leveza.”
Pela primeira vez, consegui olhar meu reflexo no espelho sem ver medo. Minhas olheiras ainda estavam ali — profundas — meu rosto continuava inchado pela gravidez e pelo cansaço, mas… havia algo novo.
“Liberdade.”
Sérgio apareceu na porta do quarto, já de terno, a gravata mal colocada — o que só acontecia quando ele dormia mal ou quando a preocupação tomava conta dele.
— Bom dia, minha deusa — ele disse, encostando a testa na minha. — Dormiu?
— Um pouco — respondi sorrindo. — E você?
— Eu fiquei olhando você a noite inteira. E a nossa filha chutando sem parar. Acho que ela comemorou a prisão daquela mulher.
Eu ri baixo. Uma risada cansada, mas real.
Preparei café, tomei banho devagar,