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CAPÍTULO 4 – O PRETEXTO DOS NEGÓCIOS

(Narrado por Sergio)

Alguns dias se passaram e confesso que aquela coisinha linda e deliciosa vestida de jaleco não me saía da mente. Sou casado, mas o que poucos sabem é que meu casamento com Sylvia é só de fachada.

Tentamos manter as aparências em nome de nossa parceria nos negócios e para evitar escândalos na mídia. Por causa disso, sempre mantive todos os meus casos muito bem escondidos. Bem, isso tudo eu fazia antes, quando ainda tinha algum respeito por ela como pessoa. Mas, de um tempo para cá... muitas coisas mudaram. E depois do que aconteceu, até mesmo minha antiga amizade por ela ficou totalmente abalada.

Sylvia e eu comandamos um império de exportação desde que nos casamos, mas meus interesses no ramo se expandiram, estou pensando em cortar parceria.

E por falar em interesses. Hoje depois de mais um dia pensado na doutorinha, percebi que meu interesse por ela também é diferente, é algo bem mais profundo. Profundo demais para ser só mais um caso. Não que acredite em amor, mas acredito piamente no que o corpo e a necessidade podem nos fazer. E eu necessito ter aquela mulher na minha cama. Preciso provar cada pedaço dela, desvendar cada centímetro dessa aparente pureza que ela exala.

Quero Hellen Bennett como minha amante fixa, agora mais do que nunca. Porém, primeiro, preciso descobrir como conquistá-la, visto que já ficou mais do que óbvio que ela não se impressiona com poder ou dinheiro.

Hoje, descobri uma oportunidade de ouro. Maurizio Salvatore, o dono do Hospital Memorial Parkland, onde ela trabalha, está desesperado por investidores para ampliar a ala de oncologia e está pedindo colaboração aos sócios. Achei a desculpa perfeita.

Vou aproveitar essa pequena oportunidade para falar de negócios, mas meu único objetivo real era só ver ela.

— Tenho uma reunião rápida com a diretoria do Hospital Memorial Parkland — menti para minha secretária, num tom que não admitia questionamentos.

Percebi a confusão no seu olhar. Com razão. Eu jamais ia a essas reuniões pessoalmente; sempre a mandava no meu lugar para me representar. A presença do CEO da Vance Holdings em uma reunião de rotina era algo sem precedentes.

A reunião foi um mero trâmite. Assenti, investi uma quantia irrisória para meus padrões e mal consegui me concentrar nas palavras de Salvatore. Minha mente estava em outro lugar.

Mal terminou, dirigi-me à ala pediátrica. Meus passos ecoavam no corredor silencioso do hospital, mas meus olhos só procuravam uma pessoa. E a encontrei. Exatamente como a imaginei: encostada na mesa de enfermagem, a testa franzida em concentração enquanto preenchia um prontuário.

Como um bom caçador que volta à toca da presa, me aproximei. Interceptei seu caminho.

— Doutora Bennett — disse, minha voz soando mais suave do que o habitual. — Só queria agradecer novamente pelo Liam. Liguei para Mary, e ela disse que ele melhorou rapidamente em dois dias. Atribuo toda a recuperação aos seus cuidados.

Ela olhou para mim, e pude ver nos seus olhos verdes que ela percebeu perfeitamente que meu objetivo ali não era apenas agradecer. No entanto, sendo a profissional que é, ela apenas sorriu educadamente.

— Fico feliz em saber, senhor Vance. O Liam é um guerreirinho. Não precisa agradecer; só estou fazendo o meu trabalho.

E antes que eu pudesse formular outra frase, ela fez um pequeno aceno com a cabeça e se virou, continuando seu caminho. Deixou-me ali, no corredor, mais obcecado do que nunca.

A caçada, definitivamente, tinha começado. Pensei aborrecido.

E enquanto a vi se afastar, na curva do corredor, uma fúria fria e uma frustração aguda se misturaram dentro de mim. Eu não estava acostumado a ser ignorado. E aquela negativa silenciosa, aquele desvio educado, era um desafio direto à minha autoridade.

Foi então que uma ideia surgiu na minha mente. Uma ideia que, até mesmo para um homem como eu, acostumado a cruzar linhas éticas em nome do lucro, parecia se arrastar por um território perigosamente sombrio. Era uma violação de privacidade, um passo além do limite aceitável mesmo para os meus padrões.

Mas o desejo por aquela mulher estava sob a pele, uma obsessão que já havia raízes profundas. E quando estou disposto a ter algo, nada me para. Nem a moral, nem a ética, muito menos remorsos insignificantes.

Pegando o celular, liguei para um número que não era salvo, mas que eu conhecia de cor. De longas datas.

— Edward Calvin? — disse, assim que a linha atendeu.

— Senhor Vance. Pois não? — a voz do outro lado era neutra, profissional, quase robótica. Era o que eu pagava para ouvir.

— Esteja na minha sala em trinta minutos.

— Sim, senhor. Estarei lá.

Nem precisei me preocupar em dar detalhes. Edward Calvin era o melhor investigador particular que o dinheiro podia comprar. Discreto, eficiente e, o mais importante, completamente amoral. Ele não fazia perguntas; apenas entregava resultados.

Trinta minutos depois, ele estava sentado à minha frente na minha sala de reuniões, com vista para o skyline de Dallas.

— Preciso de informações — comecei, dispensando qualquer preâmbulo. — Hellen Bennett. Médica pediatra do Memorial Parkland. Vinte e poucos anos. Quero saber tudo. Gostos, hobbies, rotina, amigos, relacionamentos passados. Tudo.

Ele nem pestanejou. Apenas anotou em um bloco de notas antiquado.

— Alguma preocupação específica, senhor Vance?

— Ela não é... impressionada pelo óbvio — expliquei, minha voz carregada de um misto de irritação e fascinação. — Dinheiro, poder... parece ser irrelevante. Preciso encontrar a chave para ela. A fraqueza.

Edward acenou com a cabeça, entendendo perfeitamente a caça.

— Entendido. Relatório preliminar em 48 horas.

Em menos de dois dias, um arquivo P*F chegou ao meu email pessoal. Abri-o com uma certa ansiedade ridícula quase adolescente que não sentia desde minha primeira aquisição hostil.Eram meticulosos sobre ela:

Ela morava sozinha em um apartamento pequeno, mas aconchegante. Gostava de vinho tinto e chocolate amargo. Corria no parque todas as manhãs às 6h. Sua melhor amiga era uma oncologista chamada Anya Petrova – e foi interceptando as conversas de ambas, através de um aplicativo no celular da amiga que Edward… descobriu a pérola mais valiosa.

Hellen Bennett era uma ávida leitora. Mas não de best-sellers ou romances água-com-açúcar. Ela devorava poesia. Especificamente, uma poeta brasileira obscura e melancólica chamada Adélia Prado. Edward incluiu até prints de uma conversa com Anya, onde Hellen dizia: “Preciso comprar o novo livro da Adélia. Ela fala da alma de um jeito que ninguém mais fala.”

Lendo aquilo, senti um triunfo perverso. Então percebi.

Não era sobre presentear. Era sobre entender. Era sobre provar que eu era diferente, que eu via além do jaleco. Era sobre invadir sua mente antes de invadir seu corpo.

No dia seguinte, uma entrega discreta chegou ao setor de pediatria do hospital. Não foi uma encomenda grande ou chamativa. Apenas uma cesta singela de gérberas amarelas — sua cor favorita, segundo o relatório – e um livro. Não era qualquer livro. Era uma edição de capa dura, em português, das poesias completas de Adélia Prado, importada diretamente do Brasil.

Nada exagerado. Nada que gritasse "sou um magnata". Apenas algo genuíno. Ou, pelo menos, a ilusão perfeita de genuinidade.

Junto, um cartão simples. Nele, escrevi à mão:

“Para a poesia que você lê, e a que você pratica todos os dias. Espero que goste. S.V.” E abaixo, discretamente, meu número de celular pessoal.

Poucas horas depois meu celular pessoal, que quase nunca toca, vibrou com uma mensagem de um número desconhecido.

“Obrigada, Senhor Vance. Como o senhor sabia? Adélia é minha paixão secreta. Isso foi... inesperado.”

Segundos depois, uma foto chegou. Era um meme de um gatinho abraçando um livro, com a legenda “My heart is full” (Estou comovida).

Quase pode sentir o gosto da vitória. Era ácido e doce. Eu havia invadido sua privacidade, violado seus limites, e usado informações roubadas para manipular seus sentimentos. E funcionou perfeitamente.

Respondi, meu dedo deslizando sobre a tela com a precisão de quem fecha um negócio de milhões:

“Fico feliz que tenha gostado, Doutora. Mas, por favor, me chame de Sergio. Um café, então?”

A resposta não veio imediatamente. No entanto, mordi os lábios enquanto olhava para tela, pois já tinha certeza da resposta. Quando o celular vibrou novamente, dei um sorriso de vitória, era a confirmação que eu buscava.

“Ok, Sergio. Aceito o café”

Deixei o celular sobre a mesa e olhei para a cidade através do vidro da minha janela. Um sorriso frio e vitorioso cruzou meus lábios.

Como pensei a caçada estava só começando. E eu nunca, jamais, perdia.

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