2: A Primeira Noite

Amanda nunca imaginou que passaria sua noite de núpcias em silêncio, dividindo o mesmo carro com um homem praticamente desconhecido. O vestido branco pesava em seu corpo. A maquiagem já havia desbotado com o calor, o nervosismo e a humilhação. Mas Lucca Mancini seguia ali, inabalável, como se aquele casamento improvisado fosse só mais uma cláusula em um contrato qualquer.

A limusine parou diante do hotel cinco estrelas pertencente à família dele — ou melhor, deles agora. Um dos empreendimentos mais luxuosos da cidade. O motorista abriu a porta e Lucca saiu primeiro, estendendo a mão para ela.

Amanda hesitou, mas aceitou. A mão dele era firme, quente, segura.

O saguão estava vazio, como pedido. Lucca não queria olhares. E ela muito menos.

Subiram em silêncio até a cobertura. Quando a porta do elevador se abriu, Amanda ficou sem palavras. O lugar era imenso. Moderno. Vidros panorâmicos revelavam as luzes da cidade. Um piano de cauda decorava a sala. Flores brancas estavam espalhadas em vasos elegantes.

— Isso é... bonito demais pra ser real — ela murmurou, largando os saltos no tapete.

— É a suíte presidencial. Meu pai mandou preparar pra noite de núpcias — ele respondeu, soltando a gravata.

Amanda virou-se para ele, os olhos carregados.

— E você aceitou como se tudo isso fosse normal.

Lucca soltou um suspiro.

— Não foi normal. Mas foi necessário.

— Necessário pra você. Pra sua empresa. Pra sua imagem. Eu fui só a solução conveniente.

Ele caminhou até o bar, pegou duas taças e encheu com champanhe.

— Pra mim, Amanda, você foi a única saída viável. Se preferir pensar que eu me aproveitei... tudo bem. Mas você também se beneficiou.

Ela bufou.

— Beneficiei? Fui humilhada em frente a duzentas pessoas! Meu noivo fugiu! E agora sou esposa de um homem que nunca me deu mais que dois minutos de conversa!

Lucca se aproximou com a taça.

— E ainda assim, você disse “sim”. — Ele entregou a bebida. — Isso diz muito mais sobre você do que sobre mim.

Amanda pegou a taça, mas não bebeu. O olhar dela fixo nele.

— Por que você fez isso? De verdade. Não me venha com a desculpa dos negócios. Você podia muito bem deixar tudo desmoronar. O Daniel já fez isso. Você também podia.

Lucca bebeu um gole do próprio champanhe, depois andou até a varanda. Ficou alguns segundos em silêncio antes de responder:

— Porque eu não fujo, Amanda. Nunca fugi de nada. Nem dos meus erros, nem das minhas responsabilidades. O Daniel é impulsivo. Inconstante. Eu sou o contrário. Faço o que tem que ser feito.

— Mesmo que envolva enganar todo mundo?

— Ninguém foi enganado. Você aceitou. Eu aceitei. A cerimônia aconteceu. Isso é mais do que muitos casamentos por amor conseguem.

Amanda se encostou no sofá. A cabeça latejava.

— E agora? Vamos dormir no mesmo quarto? Fingir que tá tudo bem? Que somos um casal apaixonado?

Ele se virou, cruzando os braços.

— A gente pode dormir em quartos separados. Eu não vou te tocar, Amanda. Não sou como o meu irmão.

Ela mordeu o lábio, sentindo um gosto amargo. Queria gritar, chorar, sumir daquele lugar. Mas não podia. Já tinha assinado o acordo. Já tinha dado o nome. Já era uma Mancini — mesmo que só no papel.

— Você é sempre assim? Frio? Calculista?

— Só quando preciso proteger o que é meu.

— E eu sou “o que é seu” agora?

Ele não respondeu. Mas os olhos dele disseram tudo. E isso a arrepiou.

§

No dia seguinte, Amanda acordou cedo. Dormira sozinha em um dos quartos da suíte, mas mal fechou os olhos. Ainda estava de vestido — agora amarrotado. Tomou um banho longo, vestiu um roupão do hotel e saiu pela suíte procurando café.

Lucca estava na sala, de terno completo, falando ao telefone. Quando a viu, apenas ergueu a mão em sinal de “bom dia” e continuou a ligação.

— Sim, a coletiva será hoje às 11h... Não, não houve cancelamento. Só uma mudança nos planos... Sim, a Amanda está ciente... A imprensa vai receber o comunicado ainda esta manhã.

Ela parou à porta, indignada.

— Coletiva?

Ele desligou e se aproximou com calma.

— Precisamos controlar a narrativa. Vamos dizer que o Daniel teve um problema de saúde e me pediu pra substituí-lo. Um gesto de lealdade entre irmãos. Romântico, não acha?

— Isso é doentio.

— É estratégia.

Amanda cerrou os punhos.

— Você realmente vai me usar como uma peça de marketing?

— Não estou te usando. Estou te incluindo. Se quiser sair disso, pode pedir o divórcio em um ano. Até lá, temos que manter as aparências.

Ela respirou fundo, depois caminhou até a cozinha da suíte. Encontrou uma cafeteira moderna e se ocupou com ela. Enquanto o café passava, sua mente girava.

Um ano.

Um ano de convivência com um homem que era tudo o que ela desprezava — e ao mesmo tempo, tudo o que seu pai admiraria.

Ela voltou com a caneca na mão.

— E se eu quiser seguir minha vida? Sair, trabalhar, me apaixonar por outra pessoa?

Lucca cruzou os braços, encostado na parede.

— Enquanto formos oficialmente casados, espero respeito. Nada de escândalos. Depois, você está livre.

— E você? Vai sair com suas modelos enquanto posa de marido perfeito?

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Eu sei manter a discrição.

Amanda bebeu o café amargo e olhou bem fundo nos olhos dele.

— Pois eu não sei fingir. Então que fique bem claro: eu posso ter aceitado esse acordo, mas não sou sua.

Lucca sorriu pela primeira vez.

— Ainda não.

§

A coletiva aconteceu em um salão do próprio hotel. Amanda estava impecável, vestida com um conjunto branco e saltos nude. Lucca ao seu lado, como um verdadeiro executivo de sucesso. As câmeras capturavam cada gesto, cada olhar.

Os jornalistas disparavam perguntas. Lucca conduzia com maestria.

— O casamento entre mim e Amanda foi uma decisão tomada com muito carinho e responsabilidade. Daniel teve um problema inesperado e me pediu que cuidasse de tudo. Estou honrado em dizer que agora tenho ao meu lado uma mulher extraordinária.

Amanda forçou um sorriso. Suas mãos suavam.

Quando a coletiva terminou, o mundo já sabia: Lucca Mancini havia se casado com a noiva do irmão. Mas ninguém sabia da verdade.

Naquela noite, de volta à suíte, Amanda se jogou no sofá exausta.

— Você é bom nisso — ela disse.

— Em mentir?

— Em manipular tudo ao seu favor.

Lucca a olhou sério.

— Eu só fiz o que era necessário.

— E você acha mesmo que isso vai dar certo?

Ele se aproximou devagar, parando à frente dela.

— Não sei. Mas vou tentar.

— Por quê?

Ele hesitou. Depois respondeu, mais baixo:

— Porque, pela primeira vez em muito tempo, estou apostando em algo que não posso controlar.

Amanda o olhou confusa. Mas antes que pudesse perguntar o que ele queria dizer, Lucca se virou e entrou no quarto dele.

Ela ficou ali, sozinha.

Confusa.

E com uma sensação nova nascendo no peito.

Medo.

E curiosidade.

O que Lucca Mancini escondia por trás daquela fachada perfeita?

Ela estava prestes a descobrir.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App