Parte 2...
Gabriel
A vida de pai solo é uma constante gincana de horários, listas de recados e marmitas com legumes que sua filha jura que vai comer e nunca come.
Hoje, no entanto, meu maior desafio era outro.
Estacionado em fila dupla, com o farol de emergência piscando e um uniforme de bombeiro amarrotado no banco do carona, eu respirava fundo, tentando ensaiar como contaria à minha filha que a vizinha da fantasia erótica quase colocou fogo no prédio.
Não sei se é muito adequado que minha filha visite uma mulher que escreve coisas nada interessantes para uma menina de cinco anos.
Lara correu até mim com a mochila balançando e os cabelos bagunçados pela pressa. Aqueles passos pequenos e determinados me lembravam tanto a mãe dela que doía. Só que Lara tinha mais atitude, mais insolência nas sobrancelhas arqueadas, como se o mundo existisse só pra provocá-la.
— Papai! Você chegou cedo! - ela gritou, abrindo a porta do carro com força o suficiente pra quase arrancar o trinco.
— Cheguei