Parte 3...
Luna
Nunca achei que o som de passos vindos do andar de cima pudesse ser afrodisíaco. Mas desde o incêndio, qualquer barulho que Gabriel fizesse, uma descarga, uma cadeira arrastada, até o ranger da porta da sacada, me provocava como um sussurro indecente no escuro.
Estava tentando escrever. Tentando.
Mas tudo o que conseguia imaginar era a voz dele dizendo “Sem promessas, vizinha”, enquanto sumia pela porta como um herói de filme pornô com decência moral.
Revirei os olhos e encostei a cabeça no encosto da cadeira.
O arquivo aberto no notebook piscava no parágrafo seguinte da minha história, me desafiando:
“Ele se aproximou devagar, o suor escorrendo pelo peito exposto. As mãos firmes seguraram sua cintura e…”
— E o quê, Luna? Você não sabe. Você só pensa no bombeiro. - falei pra mim mesma, como uma adolescente idiota.
Levantei da cadeira e fui até a geladeira, buscando cafeína e dignidade líquida. Tirei o bolo de chocolate de dentro e coloquei a chaleira para esquentar águ