Parte 4...
Camila
O consultório parecia pequeno demais agora. O silêncio que se seguiu ao toque final de Rafael era denso, cheio de significados que nem um dos dois ousava verbalizar.
Eu ainda estava ali, deitada na maca, com a respiração descompassada e as pernas trêmulas. Ele afastou-se devagar, pegando uma toalha de papel para limpar as mãos, e me lançou um olhar de canto. Quente. Quase possessivo.
— Você está bem? - ele perguntou, a voz mais grave do que antes, como se estivesse se obrigando a manter o controle.
Assenti, sentando com um pouco de dificuldade. A perna ainda doía, mas agora parecia outro tipo de dor. Um tipo de dor que pedia repetição.
— Uau... Isso que você faz com as mãos é coberto pelo plano de saúde?
Ele riu, mas havia algo contido naquele sorriso. Como se estivesse lutando contra alguma coisa. Contra mim, talvez.
— Só para pacientes especiais.
— Eu sou especial?
— Você não faz ideia.
A resposta veio baixa, quase como um desabafo, e meus olhos encontraram os dele. Ele estava se aproximando outra vez. Não como médico. Como homem. E aquilo... Aquilo me excitava e assustava na mesma medida.
Quando ele parou na minha frente, percebi que o jaleco já estava todo aberto e a camisa por dentro amassada. Como se o autocontrole dele tivesse sofrido tanto quanto o meu.
— Rafael...
— Você sabe que isso não é certo, né? - murmurou, com o rosto a centímetros do meu. — Mas eu também sei que não vou conseguir parar.
Sua mão segurou meu queixo com firmeza. Seu polegar roçou meu lábio inferior, como se testasse minha reação. E eu reagi.
Beijei o polegar dele, lenta, provocativa, até ele perder a compostura e selar minha boca com um beijo quente, desesperado e sem nenhuma cerimônia.
Dessa vez, não havia hesitação. Suas mãos me puxaram pela cintura, e eu me vi no colo dele, envolvida por braços que sabiam exatamente onde apertar, onde segurar, onde enlouquecer uma mulher.
As línguas se procuravam com urgência, os corpos se moldavam num ritmo próprio. Eu podia sentir a excitação dele contra minha pele morna, o calor atravessando qualquer tecido. As mãos dele desceram até a barra do meu vestido e subiram com intenção clara. Quando ele encontrou a pele nua por baixo, soltou um gemido rouco.
— Você fez isso de propósito - sussurrou contra meu pescoço. — Veio sem calcinha?
Sorri, maliciosa.
— Quem disse que estou sem calcinha? – peguei a mão dele e esfreguei em minha vulva.
— É como se estivesse sem. Isso não é uma calcinha e sim um fiapo de pano.
— E se eu disser que foi um acidente?
Ele me apertou com força, como se estivesse prestes a perder o juízo.
— Então é o acidente mais perigoso da minha carreira.
Não chegamos a nos despir por completo. Havia uma pressa crua, animalesca. E também o local não era o mais adequado.
Meu vestido subiu até a cintura, e ele apenas abaixou a calça o suficiente. Foi ali mesmo, na poltrona ao lado da maca, com minha perna machucada estendida e a outra presa ao redor da cintura dele.
A primeira investida me fez ofegar. A segunda me fez perder o juízo. A terceira... Bem, depois da terceira, parei de contar.
Rafael sabia exatamente o que estava fazendo. Cada movimento era preciso, certeiro, alternando entre firmeza e cuidado. Como se me punisse e cuidasse de mim ao mesmo tempo.
Fiquei pensando se eu tinha muito tempo que transei, pra estar com esse tesão todo por ele, mas não, era por ele mesmo, porque um dia antes de meu acidente eu tinha aproveitado uma boa ralação com um carinha que conheci na boate.
E no fim, quando tudo terminou, ele me abraçou. Não foi apenas um gesto automático. Foi... Íntimo mesmo.
— Você é um problema, Camila - disse, com a voz abafada contra meu cabelo.
— Você também. Um que eu adoraria não resolver.
Ficamos ali por minutos. Sem pressa. Sem palavras. Apenas o som das respirações e do ar-condicionado antigo preenchendo o espaço.
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Mais tarde, já com a roupa ajeitada e o cabelo preso de qualquer jeito, peguei minha bolsa e saí do consultório tentando não parecer recém-comida.
Rafael ficou na porta, observando como um lobo que vê a presa indo embora.
— Quer carona? - ele perguntou.
— Melhor não. Vai que você resolve me aplicar outro "tratamento" no carro...
Ele sorriu, mas seu olhar permaneceu sério.
— Me avisa quando chegar em casa.
Aquilo me pegou de surpresa. Não pela preocupação, mas pela forma como ele disse. Como se já fosse... Meu. Gente do céu!
**********
Horas depois, eu estava no café perto do hospital esperando minha amiga Lívia. Ela chegava do plantão e queria fofocar. Estávamos rindo alto, falando de ex-namorados e pacientes sem noção, quando senti um arrepio.
Olhei para trás e vi Rafael entrando no café, ainda de jaleco, com uma expressão indecifrável. O olhar dele foi direto para mim... Ou melhor, para minha mão, que estava tocando o braço de um médico amigo da Lívia, um tal de Matheus.
— Esse é o Matheus, Camila - disse Luna. — Um dos melhores ortopedistas do hospital.
— Prazer - disse ele, sorrindo.
Antes que eu respondesse, Rafael já estava ao nosso lado.
— Camila, posso falar com você um minuto?
O tom era calmo, mas havia tensão ali. Fui com ele até a calçada, curiosa.
— O que foi?
— Você está bem?
— Estou. Por quê?
— Não sei... - ele passou a mão pelos cabelos, irritado. — Você parecia muito... Íntima com aquele médico.
Arqueei uma sobrancelha.
— Está com ciúmes, doutor?
Ele desviou o olhar por um segundo, depois voltou a me encarar.
— Claro que não. Só achei estranho. Achei que... Enfim, esquece.
— Rafael, você quer sair comigo ou me prescrever repouso e gelo?
Ele respirou fundo. Por um momento, quase sorriu.
— Talvez eu queira os dois.
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Ficamos ali por alguns segundos, só nos olhando. E, naquele instante, percebi que aquele homem bonito, confiante, e absurdamente bom de cama... Estava começando a se importar comigo.
E isso, honestamente, era mais perigoso do que qualquer toque.