Meu pai não tocou no assunto durante a viagem até o meu apartamento. Aquele silêncio desconfortável entre nós parecia mais pesado do que qualquer palavra. Quando chegamos, ele entrou, seus olhos vasculhando cada canto, embora tentasse disfarçar. Eu sabia o que ele pensava. Por mais que eu sentisse vergonha da simplicidade daquele lugar — e da minha vida ali, entre paredes vazias e móveis baratos — ele não dizia nada. Ele vivia no luxo. Eu, no nada. Mas não parei. Fui até o frigobar e comecei a preparar alguns sanduíches, tentando me distrair.
Até que ele se aproximou, pegou o prato com os pães e olhou para mim com uma expressão que não deixava dúvida.
— Você vai comer isso? — Ele questionou, os olhos fixos no prato simples, como se esperasse mais de mim.
Eu estava faminta, e qualquer coisa me parecia suficiente. Só queria me alimentar. Não queria pensar, não queria sentir.
— Tome um banho. Te levo para comer. — Ele disse, a voz carregada de uma frustração que eu sabia não ser totalment