O resto da tarde se tornou uma tragédia. Eu não conseguia assimilar, entender o que havia acontecido com Maria Clara e o pior: a certeza de que tudo era culpa minha.
A técnica veio até meu consultório me informar que o paciente já estava pronto. Assenti, ausente, e uma hora depois, a mesma informação me foi passada novamente. Eu me sentia em transe, colado à cadeira como se o tempo não existisse. O pior foi perceber que Heitor sequer cruzou aquela porta durante o dia.
Adiei a cirurgia, me considerando incapaz de operar. Pela noite, quando cheguei em casa, Maria Clara já estava lá com sua camisola de cetim branca, robe por cima, impecável como se nada houvesse acontecido. Tive medo de me aproximar. As lembranças da tarde me invadiam: ela me puxando pela calça, passando saliva na mão para se lubrificar... Me senti sujo, invadido por algo que, até ontem, era rotina.
— O que houve? Está mesmo farto do Heitor? — Sua pergunta me tirou do torpor. Me virei, tentando entender.
— O quê? Não...