Alexandre Xavier

Saí em busca de um aquecedor, já que o quarto não tinha um. Quando voltei, encontrei um intruso na minha cama.

Ele ou ela estava encolhida sob o cobertor, a respiração leve, como se tivesse se apropriado do espaço sem o menor constrangimento. Franzi o cenho, mas a luz novamente se apagou. — Droga, estas tecnologias, não chegam tão boa para nós. — Reclamei do sensor.

— Quem está aí? — Perguntou uma voz feminina jovem, me deixando perplexo, eu havia entrado no quarto errado? Me perguntei conferindo os bolsos, num hábito comum quando estou inseguro. 

— Eu quem pergunto, quem está ai? Este é o bangalô número quatro. Está reservado para mim — Antes que eu terminasse, a desconhecida sentou na cama, fazendo com que aquele bendito sensor funcionasse de vez. Meu olhar se fixou instintivamente ainda mais ao perceber que ela estava completamente nua.

Ela era uma visão deslumbrante. Seus cabelos escuros pouco úmidos, como a noite sem lua, caíam em cascatas sobre seus ombros, como se cada fio tivesse vida própria. Seus olhos castanhos quase mel brilhavam intensamente, pedras raras, com um olhar profundo que parecia conter mil segredos, convidando quem a observava a se perder na sua imensidão.

O nariz empinado, delicado, dava-lhe um ar de altivez, enquanto seus lábios, sensuais e carnudos, eram como um convite mudo, com a curvatura perfeita que exalava uma sensualidade sutil. Seus ombros não dava para ver. 

Embora seus seios fossem pequenos, sua silhueta era cheia de graça e suavidade, como uma fada, ou uma bruxa, um olhar determinado, a me olhar seriamente. 

O cobertor branco se moldava abaixo da sua barriga, com um belo contraste, até que ela levantou me ignorando ali, completamente nua, despida, revelando uma harmonia de suas curvas que não passavam despercebidas. Tudo nela parecia equilibrado, um reflexo da beleza natural que era tanto misteriosa quanto cativante.

 Ela tropeçou no próprio vestido ao tentar vesti-lo apressadamente. O rosto estava tomado pelo pânico. Após se vestir, sentei-me, tentando entender a sua situação. Uma amiga a havia deixado do lado de fora, ela tentou explicar enquanto se vestia.

Eu a reconhecia de algum lugar, o seu rosto era familiar. — Pode me explicar o que...

— Apenas passando a noite, eu achava que este bângalo estava vazio, estou com a Isis, a minha amiga, mas ela...putz...o namorado dela veio e eles...eles...— Tentou gesticular tentando se vestir. — Eu não sou uma ladra, eu só... — Tentou se justificar bastante nervosa calçando um par de botas marrons. Seu tom era desafiador.

Ela não era alguém que passaria despercebida. Os cabelos negros umidos, longos e lisos, desciam até a cintura. Seus olhos eram intensos como quem tinha muito a revelar. 

— Será mesmo que veio aqui somente para uma noite de descanso ou para algum trabalho senhorita? — Sempre fui um bom julgador, ao menos me considerei um. Eu não descartaria qualquer possibilidade.

— Não sou uma vadia, seria se fosse a sua filha! — Soltou aborrecida, ríspida em sua defesa.

— Se eu as tivesse, talvez fosse bem diferente. Mas como não as tenho, isso não é um problema para mim. — Respondi com segurança, observando-a erguer o olhar para mim enquanto ainda amarrava a bota direita. — Pode ficar com a cama, não pretendo dormir, se esta de fato com problemas.

Ela hesitou por um instante antes de falar. — Hum, fico grata pela oferta, mas não sou o que você pensa. — levantou-se, caminhando em direção à porta. — Seu pervertido! 

Ri baixo. Será que ela realmente achava que eu poderia ser um pervertido? O que a fez pensar isso?

Observei-a por um instante, avaliando seu jeito impulsivo e descuidado.

— Uma boa noite de sono e chuva talvez não seja tão ruim para uma garota irresponsável.

Ela parou por um instante, a mão pousada sobre a maçaneta. Sua respiração oscilou, como se estivesse avaliando minhas palavras. Então, virou-se parcialmente, lançando-me um olhar carregado de algo que eu não soube definir de imediato, desafio, ironia ou cansaço.

— Irresponsável? — Sua boca se curvou em um sorriso enviesado. — Talvez. Mas não ao ponto de confiar cegamente em estranhos.

Ela girou a maçaneta, e por um momento, achei que fosse mesmo sair. Mas hesitou. Uma ventania fria invadiu o quarto, assim que abriu a porta, fazendo-a estremecer.

— A menos que prefira arriscar a noite lá fora — provoquei, sentado na poltrona e retomando meu livro.

Ela soltou um suspiro, ponderando as opções. Seus dedos apertaram a barra do vestido e, sem dizer nada, fechou a porta novamente.

— Só até a chuva passar — murmurou, como se estivesse se convencendo.

Apoiei o cotovelo no braço da poltrona e a observei com curiosidade, as coxas grossas se destacavam no vestido, apesar de não ser justo, nem curto para tanto.

— Claro! Só até a chuva passar. — Eu sentia que a conhecia de algum lugar, mas eram tantos rostos.

Ela ficou de pé, olhando ao redor, se acariciando, insegura. Sem interesse em uma conversa, voltei à minha leitura. Em algumas viagens com Heitor, esse tipo de situação teria sido possível. Aprendi a pedir quartos separados. Eu compreendia seu desconforto e, talvez, soubesse quem eram seus amigos, talvez fosse os mesmos que chegaram entre discussões e beijos mais cedo, quando ainda estava na recepção.

Um rapaz de dreads sintenticos, alargadores nas orelhas, e uma garota ruiva cheia de sardas.

Desviei os olhos do livro algum tempo depois e suspeitei que, pelo excesso de bebida, ela já estivesse apagada, mas o que vi, me desconsertou.

— Não deveria mexer nas coisas dos outros sem permissão — adverti ao vê-la sentada na outra poltrona, segurando um dos meus livros imersa na leitura. 

Mas ela sequer se moveu, parecia alheia a tudo.

Não era um livro com anotações, pelo menos não ainda. Vê-la imersa nele me fez questionar se ela gostava de leitura e se realmente compreendia o que estava lendo.

A chuva do lado de fora, caía. Imaginei que a leitura lhe parecia mais interessante do que olhar para mim. As horas passaram e, quando a madrugada chegou, minha coluna começou a reclamar. Fechei o livro e me levantei.

— Você não vai dormir? — Ela ergueu os olhos para mim, segurando o livro com um sorriso fraco.

— Estou lhe incomodando? É Claro, por favor me... — Ela hesitou. — ...lhe devolvo amanhã, se não estiver lendo, é claro. Procurei esse livro em todas as livrarias e sites, mas estava esgotado em todas. 

Lamentou de uma maneira,  que me fez rir.

— Ainda não o li — avisei, vendo-a olhar para a página novamente.  — Não sabia que jovens irresponsáveis gostavam de ler sobre... 

— E eu não imaginava que velhos pervetidos também liam. — Rosnou encarando a página do livro.

— Não sou um pervertido! — Afirmei. Ela riu frouxo, como quem zombava.

— E eu não sou tão irresponsável. Só estou aqui porque não estou num bom momento. Vir com essa amiga foi minha única opção... Ah, deixa pra lá. — Colocou o livro sobre a cabeceira da cama e foi até a porta novamente.

Levantando pegando o livro de edição limitada, apenas cinquenta exemplares foram trazidos para o Rio de janeiro, não encontrei em sites ou bibliotecas on-line. 

— Aproveite a leitura. — O Estendi em sua direção.

Ela parou, hesitante, e abriu um sorriso curto, seus olhos brilharam de uma maneira sutil.

— Talvez não... Está chovendo lá fora. — Explicou. 

— Não mandei você ir embora — comentei, sem desviar os olhos do livro.

Ela pegou o exemplar com brilho no olhar. Depois, foi direto para o banheiro.

— Não é para tanto. Você é louca? Está... — Mas ela já tinha fechado a porta. — Prometo não incomodá-lo — disse lá de dentro.

Me deitei, sem ter certeza se estava lidando com uma louca ou apenas alguém perdida.

Na manhã seguinte, acordei com os funcionários avisando que o café da manhã estava servido, eu já estava a alguns dias naquele hotel.

Após alguns momentos de silêncio, olhei ao redor. A aliança ainda estava sobre a cabeceira da cama, indeciso sobre voltar ao meu dedo. Levantei-me lentamente, revigorado pelo silêncio. Eu precisava desses dias para pensar, refletir e estudar a minha situação.

Ao caminhar em direção ao banheiro, parei ao ver a garota dormindo no chão, curvada sobre os próprios joelhos, o cabelo solto espalhado sobre as pernas. Ela estava com o livro no colo.

Aproximei-me, um pouco preocupado, e toquei seu braço.

— Ei...?

Ela se mexeu, sonolenta.

— Ah... eu cochilei... — murmurou, a voz arrastada pelo sono.

— Você realmente passou a noite lendo? — perguntei, tentando entender.

Ela hesitou. — Eu... — gaguejou.

— Não precisa se desculpar. Vem, levante-se. — Estendi minha mão.

Ela segurou o livro com firmeza antes de aceitar minha ajuda. Ao puxá-la para cima, veio com todo o corpo. — Não pode viver dormindo nestas posições, isso poderá fazer mal ao seu corpo num futuro.  — Os olhos castanhos oscilaram nos meus. — Não precisa se preocupar, não durmo nesta posição sempre. 

Havia algo em seu olhar, uma insegurança, uma incerteza ou talvez uma dor que eu sequer poderia examinar, quando simplesmente soltou a minha mão, me dando as costas. Saindo em seguida em direção ao quarto, a acompanhei. — Vai diretamente para a sua amiga ou para o café?

— Muito obrigado pela noite... — Sorriu fraco. —... e pelo livro, ele vai me ajudar muito no meu tema de pesquisa. — Ergui a sobrancelha interessado. — O que você faz?

— Medicina,indo para o sexto período. — Assenti ignorando a surpresa,me lembrando vagamente do seu rosto, enquanto ela sorriu fraco, era ela, ela era a garota da pergunta na quarta-feira, passada a de blusa branca e calça jeans folgada. — É, talvez passar a noite num quarto com um desco...

— Alexandre Xavier. — Estendi a mão para ela, que parou de imediato, pude perceber como me olhou nos olhos. — Eu sei quem é você, eu assisti a sua palestra. —Disse me olhando, assenti. 

— Mavi. — Disse sorrindo vagamente, pegou em minha mão com uma firmeza. 

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