Dante
O silêncio antes de uma emboscada é diferente. Não é ausência de som. É uma presença opressora, um aperto no peito, um arrepio que começa na espinha e se espalha como veneno. Tem um gosto metálico, como sangue antigo entre os dentes, como a antecipação do fim. Eu senti isso no ar assim que dobrei a esquina da viela suja, a mochila de explosivos presa nas costas, o suor escorrendo pela nuca em filetes gelados, mesmo com o calor abafado da noite de São Mateus.
O chão estava seco, rachado em algumas partes como se a terra tivesse desistido de pedir chuva. Mas a tensão era densa, quase líquida, umidade que grudava na pele e pesava no ar. Os postes piscavam como se soubessem o que estava prestes a acontecer — como se tentassem nos alertar, em códigos de luz falha. À minha frente, o galpão. Estrutura decadente, abandonada só por fora. Por dentro, sabíamos o que nos esperava: movimento, armas, traição. A entrada lateral que tínhamos identificado parecia segura, vazia demais. E era just