O relógio da cozinha marcava quase meia-noite quando Lia finalmente se permitiu sentar à mesa com uma xícara de chá quente nas mãos. A casa estava silenciosa. As gêmeas dormiam profundamente no quarto que agora era delas. Helena também já havia subido. No entanto, o coração de Lia ainda parecia cheio — não apenas de emoções, mas de reflexões.
Ela olhou para o abajur aceso na sala e respirou fundo.Aquelas crianças, tão pequenas e delicadas, haviam sido jogadas em um redemoinho que nem adultos conseguiriam suportar. Elas perderam, de certa forma, tudo. E mesmo assim... ainda sorriam, ainda queriam aprender, ainda acreditavam que o papai e a mamãe voltariam. Elas tinham fé.Lia apoiou o cotovelo sobre a mesa e passou a mão no rosto.— Deus, me ajuda a ser forte por elas.As palavras saíram baixas, mas carregadas de um peso que ela há muito não sentia. Aquilo era mais do que responsabilidade: era missão.Ela se levantou e foi até o