O sol da manhã entrava pela janela da sala em ângulos preguiçosos.
Mila, sentada no chão com as costas apoiadas na parede recém-pintada, segurava o notebook no colo e uma caneca de café na outra mão.
Toto dormia estirado no tapete, com a barriga pro alto e as patas tortas como quem sonhava com corridas infinitas.
Na tela, uma pasta em branco esperava.
Ela já tinha o título salvo: Berat por Dentro.
E, abaixo dele, um cursor piscando, impaciente.
Mas Mila não sentia pressa.
Pela primeira vez em muito tempo, sentia que as palavras não precisavam ser arrancadas.
Elas viriam.
Porque tudo ao redor já estava dizendo o que ela precisava ouvir.
Depois de quase uma hora apenas contemplando a página em branco, ela escreveu:
"Berat não é apenas uma cidade. É uma respiração mais lenta. Um lugar onde o silêncio conversa com as pedras, e o vento carrega histórias que ninguém ousa escrever."
Parou.
Leu.
Sorriu.
Não era muito.
Mas era um começo.
Passou o resto da manhã fazendo anotações soltas.
Memóri