A manhã amanheceu quente demais para o início da primavera.
Mila abriu todas as janelas da casa, amarrou o cabelo no alto da cabeça e foi até o pátio lateral com uma cesta de ferramentas improvisadas.
Ela tinha decidido que o sábado seria dedicado ao jardim.
Ou, ao que um dia, poderia ser chamado de jardim.
As mudas que comprara na feira da última semana estavam num canto, esperando por vasos decentes e uma pá que ainda não existia.
Mas Mila não se importava.
Estava disposta a cavar até com colher de pau, se fosse preciso.
— Se minha avó me visse agora — murmurou, abrindo o saco de terra com as mãos. — Ia rir até amanhã.
Enquanto ajeitava a primeira muda — uma lavanda pequena que já espalhava perfume mesmo tímida — ouviu um barulho vindo do mato mais abaixo, perto do pequeno portão que dava para a trilha.
Um rosnado baixo.
Depois, um latido curto.
Mila se levantou devagar, limpando as mãos na barra do vestido.
De trás de uma moita de alecrim, surgiu um cachorro.
Pequeno.
Magricela.
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