Mila acordou com o primeiro clarão do dia filtrando pelas cortinas.
O peito estava cheio de alguma coisa nova — uma mistura de calma e expectativa que não sabia dar nome.
Ainda havia perguntas que doíam.
Ainda havia medos que não se dissolviam.
Mas, pela primeira vez, aquilo não parecia maior do que a vontade de ficar.
Levantou devagar, prendeu o cabelo e foi até a cozinha.
Enquanto passava café, olhou para a mesa onde ainda estavam os cadernos da mãe.
Apenas de vê-los ali, sentiu um nó suave na garganta.
Tomou um gole de café bem quente antes de criar coragem.
Então puxou o caderno do topo e abriu numa página ao acaso.
As anotações eram curtas, quase bilhetes rabiscados no intervalo de um dia comum.
"Hoje o cheiro da chuva me fez lembrar que sempre há começo."
Ela passou o dedo sobre a frase, como quem testa a temperatura de uma água antiga.
Talvez fosse só isso que a mãe quis deixar para trás:
O lembrete de que sempre haveria outro começo.
Mesmo quando tudo parecia encerrado.
Depois